Vale (VALE3): Ação é armadilha ou oportunidade, após resultados do 2T25?

A Vale (VALE3) divulgou os resultados que, apesar da queda do lucro e dos principais indicadores, foram bem recebidos. Por volta das 14h41, a ação subia 0,84%, a R$ 53,91.
Analistas elogiaram o controle de custos e a eficiência da companhia. Além disso, a empresa aprovou US$ 1,45 bilhão em juros sobre o capital próprio. A Vale também não descarta novos pagamentos extraordinários.
De acordo com o BB Investimentos, a despeito dos menores preços médios realizados em todos os produtos — só o preço médio do minério de ferro caiu 13% no trimestre —, a empresa fez o dever de casa, com números consolidados sólidos e manutenção das margens operacionais.
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O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), foi de US$ 3,4 bilhões, 10% acima da estimativa do BTG Pactual e 7% acima do consenso, impulsionado principalmente por um forte desempenho em metais básicos (25% acima da projeção) e resultados de pelotas melhores do que o esperado (8%).
O banco destaca que, embora o resultado em níquel tenha sido beneficiado por uma reversão de impairment de US$ 76 milhões, a companhia anunciou dividendos decentes (7% anualizado = dividendo mínimo).
Houve também revisão para baixo no custo caixa do cobre devido a créditos de subproduto de ouro, e uma melhora bem-vinda no custo caixa C1 do minério de ferro para US$ 22,2/t (queda de 11% no ano).
A geração de FCF (fluxo de caixa livre) também foi sólida na visão do banco, em US$ 1 bilhão no trimestre (yield anualizado de 10%). Porém, isso foi sustentado por um capex (investimentos) atipicamente baixo, o que provavelmente não se repetirá (alguns podem questionar a qualidade).
O Banco Safra também destacou a geração de caixa e o Ebitda acima do esperado.
“Acreditamos que os resultados da Vale devem crescer sequencialmente no terceiro trimestre, beneficiados por maiores vendas de minério de ferro e menor custo C1”.
Vale: Tiro certo
Na visão da Genial Investimentos, a companhia está executando bem a estratégia de migrar o portfólio para onde tem mais demanda.
Em meio a um mercado pressionado, com as usinas de aço na China demonstrando baixa propensão a pagar por prêmios de qualidade, a companhia precisou reorganizar suas prioridades.
Outra alavanca é ser mais eficiente e produzir mais e mais barato.
“Se a companhia não consegue controlar o macro, o dever de casa é abaixar os custos, e isso foi feito”, destaca a corretora.
Ao todo, o custo caixa C1 de finos de minério de ferro, excluindo compras de terceiros, diminuiu 11% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 22,2/t. Esse é o quarto trimestre consecutivo de redução ano contra ano.
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Já os custos all-in reduziram em 10% no minério de ferro (US$ 55,3/t), 60% no cobre (US$ 1.450/t) e 30% no níquel (US$ 12.396/t) a/a, como resultado da implementação de iniciativas de eficiência e pela maior produção.
A queda vai em linha a um desejo do CFO, Marcelo Bacci, de que a empresa tenha maior eficiência. Na semana passada, o executivo disse, em evento da XP Inc, que “todo mundo gosta de crescer e ninguém quer cortar custo”.
Bacci recordou que a companhia já foi a mineradora com o menor custo do mundo.
Armadilha ou oportunidade?
De forma geral, analistas consultados pelo Money Times veem a ação atrativa, embora não haja um consenso.
A grande dúvida é saber o comportamento do minério de ferro e o apetite chinês, que vive incertezas.
Segundo a própria Vale, o cenário na China permanece estável.
Em 2025, o governo conseguiu atingir crescimento do PIB acima de 5%. Agora, a empresa não espera grandes mudanças, mas sim estímulos mais comedidos.
“Os principais indicadores — como investimento fixo, estoques e estabilização da produção de aço — não apresentaram grandes surpresas no mercado chinês”.
O Safra nota que as opiniões sobre os preços realizados estão divididas: os preços do minério de ferro no terceiro trimestre estão até agora 2% abaixo da média do segundo trimestre (com os preços à vista 3% acima da média do 2T25).
Já os preços do cobre estão 2% acima (à vista 2% abaixo), e os preços do níquel estão 1% acima (à vista 3% abaixo).
“Tornamo-nos marginalmente mais construtivos quanto à resiliência dos preços do minério de ferro”.
Ainda segundo o banco, a administração da Vale pode querer reduzir ainda mais a dívida líquida expandida antes de pagar dividendos extraordinários.
“Vemos com bons olhos a decisão da companhia de utilizar instrumentos financeiros para apoiar seu programa de recompra de ações. Ao fazer isso, a Vale preserva caixa e mantém exposição às variações do preço de suas ações”.
A recomendação é de compra.
China vai ajudar?
O BB Investimentos é outra casa otimista com o papel, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 65.
A analista Mary Silva lembra que, mesmo com a instabilidade adicional aos mercados — e especialmente à bolsa — trazida pelo anúncio de tarifas do presidente norte-americano Donald Trump, as ações VALE3 ganharam tração nos últimos 30 dias, em linha com a recuperação no preço do minério.
Além disso, há cenário mais construtivo para o setor de siderurgia na China, com:
- crescimento do PIB do país no segundo trimestre acima do esperado;
- estratégia do governo de eliminação de capacidade obsoleta do setor;
- promessa de novos incentivos à economia, que renovaram o fôlego para o setor e sustentaram uma alta relevante nos preços de minério de ferro nas últimas semanas;
- e o anúncio sobre a construção de uma mega usina hidrelétrica no país, que pode demandar elevado volume de aço.
Esperar para ver
Mesmo elogiando os números, o BTG ainda está cético. Segundo os analistas, o forte desempenho atual da ação parece mais especulativo do que ancorado em fundamentos.
“Optamos por aguardar maior clareza sobre o cenário macro antes de fazer mudanças relevantes. A narrativa macro da China ainda é frágil (apesar do noticiário), o que pressiona todo o complexo de aço e gera uma pressão negativa sobre os preços de minério (acreditamos que os preços devem eventualmente corrigir vs. níveis atuais)”.
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O banco também vê novas revisões negativas para a companhia no segundo semestre, à medida que investidores se ajustam a um ambiente de preços de minério mais fracos (a US$ 95/t em 2025 e US$ 85/t em 2026).
“Achamos difícil enxergar retorno relevante na avaliação atual, com o papel sendo negociado a ~4,5x Ebitda em 2025 e dividend yield de 7%”.
Veja as recomendações
Casa | Recomendação | Preço-alvo |
---|---|---|
Safra | Compra | R$ 68 |
Itaú BBA | Compra | US$ 13 (ADR) |
XP Investimentos | Neutra | R$ 66 |
Genial | Compra | R$ 64,50 |
BTG Pactual | Neutra | R$ 65 |
Bank of America | Compra | US$ 11 (ADR) |
BB Investimentos | Compra | R$ 65 |