Economia

6 dicas na ata do Copom para entender o futuro das quedas da Selic

08 ago 2023, 11:26 - atualizado em 08 ago 2023, 11:26
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Ata do Copom: Banco Central dá início ao ciclo de afrouxamento monetário, mas mantém tom de cautela nos cortes da Selic. (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O Comitê de Política Monetária (Copom) publicou nesta terça-feira (8) a ata da sua última reunião, na qual o Banco Central deu início ao afrouxamento da taxa básica de juros após um corte de 0,50 ponto percentual. Com isso, a Selic saiu do patamar de 13,75% e passou para 13,25%.

Apesar de reforçar que novos reajustes na Selic estão previstos para os próximos meses, o Banco Central fez questão de dar uma segurada no ânimo do mercado, que já falava em um corte de 0,75 pp na reunião de setembro.

“O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, diz a ata.

O que o futuro reserva para a queda da Selic

Internacional
No que se refere ao ambiente externo, o Copom destaca que o cenário é incerto, com alguma desinflação sendo observada na margem, mas marcado por núcleos de inflação ainda elevados, desaceleração gradual da atividade e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países.

Além disso, os bancos centrais dos países desenvolvidos, como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE), seguem os seus ciclos de aperto monetário. “Tal postura segue demandando maior cautela na condução das políticas econômicas, particularmente por parte de países emergentes”, diz a ata.

O movimento de queda nos preços do petróleo no mercado internacional estancou no período recente e os riscos referentes a fenômenos climáticos, guerra na Ucrânia e política internacional de preços de petróleo sugerem a possibilidade de renovadas pressões inflacionárias de oferta.

Economia brasileira
Por aqui, os indicadores econômicos sugerem um cenário de desaceleração da atividade. Apesar do forte desempenho da agricultura, observa-se alguma retração no setor de comércio, estabilidade na indústria e certa acomodação no setor de serviços.

Já o mercado de trabalho segue resiliente, mas com alguma moderação na margem. Além disso, não há evidência de pressões salariais elevadas nas negociações trabalhistas.

Inflação
A inflação também apresentou melhoras, principalmente nos componentes referentes a bens industriais e alimentos. Tanto que as expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 4,8%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

“Os dados relativos ao crescimento no Brasil seguem compatíveis com o cenário-base de moderação da atividade antecipado pelo Comitê”, diz a autarquia.

Ainda assim, o Banco Central reforça um discurso já antigo: de que a dinâmica da desinflação segue caracterizada por um processo de dois estágios. O primeiro se mostrou mais profundo do que o esperado graças aos preços de alimentos e industriais. Já o segundo gira em torno de uma inércia menor sobre os núcleos de inflação e sobre a inflação de serviços.

Por outro lado, o Copom também está preocupado com uma eventual volatilidade aos componentes ligados a alimentos e bens industriais, puxada pelo El Niño e evolução do preço internacional do petróleo. “Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária contracionista e cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”.

Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:

  • uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
  • uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.

Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:

  • uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global;
  • os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

CMN
Segundo a ata, as expectativas de inflação apresentaram reancoragem parcial desde a reunião anterior do Copom. O motivo foi o ganho de credibilidade produzido pela reunião de junho do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Na ocasião, o grupo estabeleceu a meta para a inflação no ano-calendário de 2026, bem como o seu intervalo de tolerância, nos mesmos valores dos vigentes para 2024 e 2025; também não houve revisão das metas e dos intervalos anteriormente estabelecidos para os anos-calendário de 2023, 2024 e 2025.

Além disso, o anúncio de que se adotará o sistema com meta contínua, cujas regras serão ainda estabelecidas, reduziu a incerteza sobre as metas dos anos subsequentes.

Fiscal
O Copom retirou de seu balanço de riscos a incerteza residual sobre a aprovação do arcabouço fiscal. No entanto, o Banco central ressalta que a dinâmica fiscal segue sendo relevante em seu cenário-base.

Alguns membros do Copom avaliam que ainda persiste alguma incerteza entre os agentes sobre a superação dos desafios fiscais, evidenciada nas expectativas de resultado primário que divergem das metas estabelecidas pelo governo.

“Reformas estruturais e a previsibilidade das contas públicas são essenciais para o aumento da produtividade da economia, para o crescimento potencial e para a maior confiança de empresas, investidores e famílias. O esmorecimento no esforço de reformas estruturais, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”, diz o texto.

0,25 pp, 0,50 pp ou 0,75 pp?
Na última reunião, houve dúvidas se era melhor um corte de 0,25 pp ou de 0,50 pp na Selic. Segundo o Banco Central, ambas as opções seriam compatíveis com a convergência da inflação para a meta.

“Qualquer que fosse a decisão, era consensual que um cenário com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, núcleos de inflação ainda acima da meta, inflação de serviços acima do patamar compatível com a meta para a inflação e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária”.

Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 pp nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

Além disso, é pouco provável uma intensificação no ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva. Ou seja: nada de um reajuste de 0,75 pp na Selic por enquanto.

Confira a ata do Copom na íntegra

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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