Opinião

A abertura comercial de 1990 reduziu a produtividade agregada da economia brasileira?

05 abr 2020, 18:08 - atualizado em 03 abr 2020, 8:45
Comércio Exportações
“In a nutshell”, os trabalhadores da América latina e África saíram de empregos de manufaturas e serviços relativamente sofisticados e foram parar em serviços não sofisticados (Imagem: Unsplash/@chuttersnap)

Em interessante trabalho de 2014, Rodrik mostra como a rodada de abertura comercial e melhora institucional ocorrida na América Latina e África acabaram por produzir o resultado “contraintuitivo” de queda da produtividade agregada desses países.

O argumento e as evidências empíricas mostradas por Rodrik no trabalho são relativamente simples de se entender. O pequeno aumento de produtividade promovido dentro das empresas sobreviventes foi bem menor do que a transferência de trabalhadores de setores de alta produtividade (indústria e serviços empresariais) para setores de baixa produtividade intrínseca.

“In a nutshell”, os trabalhadores da América latina e África saíram de empregos de manufaturas e serviços relativamente sofisticados e foram parar em serviços não sofisticados (varejo, restaurantes, padarias, cabeleireiros, etc).

Rodrik mostra que o movimento oposto ocorreu na Ásia dinâmica que ganhou enorme produtividade com a transferência de trabalhadores para os setores “certos”. Rodrik critica as análises micro feitas para Brasil e outros países de América latina e África por não responder a questão mais importante de todas: onde foram parar os trabalhadores que foram demitidos das empresas sobreviventes (para não mencionar a grande maioria das empresas que sumiu)? Rodrik responde: no setor de serviços não sofisticados. Houve regressão tecnológica e produtiva. Na Ásia a “abertura” funcionou, na América Latina e África não. Os dados empíricos que Rodrik mostra são avassaladores.

No Brasil, a abertura comercial produziu aumento de produtividade dentro dos setores existentes (within) destruir um monte de setores produtivos e dinâmicos (que da produtividade “between” setores) e destruir varias de nossas capacidades produtivas, ainda que incipientes (matando potencial de learning by doing e ganhos futuros de produtividade, perda de complexidade produtiva). A antiga literatura considera somente o primeiro efeito (within), a nova literatura sobre produtividade considera também os dois últimos!

Vídeo que gravei sobre o tema:

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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