Coluna do Daniel Abrahão

A maior fraude da história corporativa do Brasil: O caso Americanas (AMER3)

14 jun 2023, 16:14 - atualizado em 14 jun 2023, 16:14
Americanas
As práticas fraudulentas adotadas pela Americanas são chocantes e evidenciam escolhas conscientes, que vão além de simples erros contábeis. (Imagem: Renan Dantas/Money Times)

Na última terça-feira, 13, a Americanas (AMER3) divulgou oficialmente a fraude nas informações contábeis da empresa por meio de um Fato Relevante.

No entanto, essa revelação já não era uma surpresa para muitos envolvidos no mercado, que já falavam abertamente das irregularidades. A falta de transparência e a escassez de detalhes sobre os fatos ocorridos aumentam a preocupação em relação a esse escândalo.

As práticas fraudulentas adotadas pela Americanas são chocantes e evidenciam escolhas conscientes, que vão além de simples erros contábeis.

Lançar despesas financeiras contra fornecedores, registrar potencialmente os descontos e adulterar ativos e passivos são ações deliberadas, com o intuito de enganar bancos, fornecedores, investidores e outros envolvidos, beneficiando apenas alguns poucos privilegiados.

Estamos diante de uma fraude de transações alarmantes, possivelmente uma das maiores já registradas no Brasil. O gestor do Fundo Verde, Luis Stuhlberger, afirmou que se trata da “maior fraude da história corporativa do Brasil”.

O caso de fraude contábil na Americanas é extremamente preocupante, pois representa uma quebra na confiança dos investidores e do público em geral. O rombo contábil estimado em R$42,3 bilhões é simplesmente impressionante.

Para se ter uma dimensão dessa cifra astronômica, ela é equivalente a duas vezes o valor de mercado atual da Magazine Luiza ou poderia ser dividida em aproximadamente R$197 para cada um dos 214 milhões de brasileiros. É difícil não se chocar com esses números e com a audácia dos responsáveis por essa fraude.

Ainda mais preocupante é o fato de que essa fraude ocorreu por um período significativo de tempo, estimado em mais de 10 anos. Isso sugere uma total falta de supervisão e controle por parte dos gestores e órgãos responsáveis. Esses registros falsos permitiriam que a empresa melhorasse artificialmente seus resultados operacionais e ocultasse a verdadeira situação financeira.

Essa descoberta levantou dúvidas sobre a força dos controles de auditoria interna, externa (leia-se KPMG até 2019 quando foi substituído pela PwC) e credores (sendo os principais e mais afetados BTG, Santander e Bradesco).

Os impactos desse escândalo se estenderam além das fronteiras da própria empresa e credores, afetando o mercado como um todo. Os efeitos foram devastadores para investimentos de Crédito Privado em geral, que já enfrentava um certo desânimo devido à política monetária de juros adotada pelo Banco Central.

Essa fraude acabou agravando ainda mais essa situação. Além disso, a operação de risco sacado também sofreu abalos indevidos, prejudicando-o temporariamente sem qualquer culpa. Manchas perdidas recaíram sobre o segmento varejista, e as consequências continuam a ser sentidas, apesar de começar a amenizar agora, após 4 meses do evento.

A fraude afetou investidores, bancos, fornecedores, negócios e milhares de outras empresas no Brasil. A imagem de auditores e instituições financeiras também foi prejudicada.

O sentimento de revolta, incredulidade e desânimo é compartilhado por muitos profissionais do mercado financeiro, exceto pelos poucos envolvidos diretamente nesse esquema fraudulento.

Esse caso de fraude contábil na Americanas é um alerta da importância da transparência, ética e responsabilidade na gestão das empresas. A confiança dos investidores e do público é fundamental para o bom funcionamento dos mercados financeiros.

É necessário que as consequências legais sejam aplicadas de forma justa e que a empresa adote uma postura de total transparência e integridade em sua reconstrução e na busca pela retomada da confiança do mercado.

É fundamental investigar se os principais acionistas da empresa, detentores de aproximadamente 30% das Lojas Americanas, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, tiveram conhecimento ou participação nessa fraude.

Esse caso de fraude contábil na Americanas é um alerta da importância da transparência, ética e responsabilidade na gestão das empresas.

A confiança dos investidores e do público é fundamental para o bom funcionamento dos mercados financeiros. Os negócios são fechados, primordialmente, na confiança.

A confiança é um elemento essencial para o desenvolvimento econômico e social, e todos devem trabalhar juntos para restaurá-la e garantir a integridade dos mercados financeiros.

O que nos resta agora é aprender com esse triste capítulo da história corporativa brasileira e garantir que ações firmes sejam tomadas para evitar que algo assim aconteça novamente. É hora de fortalecer o movimento de controle, de aprimorar os processos de auditoria e exigir transparência absoluta das empresas.

Em suma, que esse espírito sirva como um alerta para todos nós. Não podemos permitir que a busca desenfreada por lucro e poder corrompa nossos valores e comprometa a confiança no sistema financeiro. É hora de levantar a bandeira da integridade, do profissionalismo e da responsabilidade. Só assim poderemos construir um mercado sólido, justo e confiável.

Assessor de investimentos e sócio sênior da IHUB Investimentos. Possui mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro; atuou nos maiores bancos privados do país. Atualmente, é assessor e sócio sênior na IHUB Investimentos, sendo responsável por uma carteira superior a R$ 140 milhões. Sempre traduzindo conhecimento técnico e "difícil" do mercado para facilitar a vida do investidor.
Assessor de investimentos e sócio sênior da IHUB Investimentos. Possui mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro; atuou nos maiores bancos privados do país. Atualmente, é assessor e sócio sênior na IHUB Investimentos, sendo responsável por uma carteira superior a R$ 140 milhões. Sempre traduzindo conhecimento técnico e "difícil" do mercado para facilitar a vida do investidor.
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