Internacional

Aceleração da inflação pode ser aliada para dívida de emergentes

08 set 2020, 7:27 - atualizado em 08 set 2020, 7:27
No mês passado, o Federal Reserve disse que permitirá que a inflação ultrapasse a meta de 2% antes de ajustar a política monetária de afrouxamento (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)

A inflação acelerada costuma ser o pior inimigo de investidores de renda fixa. Para dívidas de mercados emergentes, pode ser uma aliada.

A alta dos preços ao consumidor no mundo todo, como muitos analistas começam a prever, levaria uma proporção ainda maior dos rendimentos reais de títulos soberanos abaixo de zero.

Isso aumentaria o valor do universo cada vez menor de dívidas com retorno ainda positivo, a grande maioria de países em desenvolvimento.

Estudo da Bloomberg sobre 46 mercados de títulos ao redor do mundo relevou que apenas 18 deles têm rendimentos de títulos de 10 anos mais altos do que o índice de inflação esperado no próximo ano. E 90% deles estão em mercados emergentes.

“Este mundo de juros baixos e inflação baixa permanecerá por algum tempo, e investidores continuarão a buscar ativos de maior rendimento como fonte de renda”, disse Paul Greer, gestor de recursos em Londres da Fidelity International, que administrava US$ 566 bilhões no fim de junho. “A dívida de mercados emergentes certamente se encaixa nessa categoria.”

No mês passado, o Federal Reserve disse que permitirá que a inflação ultrapasse a meta de 2% antes de ajustar a política monetária de afrouxamento.

A mudança na política do banco central dos EUA, anunciada pelo presidente Jerome Powell em Jackson Hole, foi vista como garantia de que as taxas de juros permanecerão baixas nos próximos anos, favorecendo ainda mais as condições para a volta da inflação.

O rendimento real dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, considerados referência global, entrou em território negativo, caindo para -0,98%, em relação a 0,60% positivo há dois anos.

A curva de juros dos títulos do Tesouro indexados à inflação sugere que os rendimentos reais de 10 anos ainda estarão abaixo de zero em cinco anos.

O estudo da Bloomberg revelou que apenas três países oferecem rendimentos reais de 10 anos superiores a 4%, com base na taxa de inflação esperada para o próximo ano: África do Sul, Brasil e Indonésia. Os únicos países desenvolvidos com títulos de rendimento positivo são Grécia, Itália e Cingapura.

EUA
O rendimento real dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, considerados referência global, entrou em território negativo, caindo para -0,98%, em relação a 0,60% positivo há dois anos (Imagem: Pixabay)

Embora altos rendimentos reais ajudem a atrair investidores para títulos de mercados emergentes, também são um indicador de riscos potenciais.

Cada um dos três países no topo da classificação enfrenta desafios em termos de crescimento econômico, disciplina fiscal ou estabilidade política.

Ainda assim, apesar das várias razões específicas para evitar títulos de certos países, o apelo de rendimentos que superam a inflação deve sustentar a demanda por dívida de mercados emergentes como um todo, dizem alguns analistas.

“Um influxo de fundos em títulos de mercados emergentes de investidores em busca de rendimentos reais seria um dos casos ou cenários positivos” para esse segmento, disse Nick Eisinger, codiretor de renda fixa ativa de mercados emergentes na Vanguard Asset Management em Londres, que faz parte de uma equipe que administra US$ 10 bilhões. “Vemos oportunidades remanescentes no espectro de alto rendimento de mercados emergentes, especialmente em nomes onde a história de crédito ainda é confiável.”

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