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Acúmulo de estoques de commodities na China pode esmagar preços

28 fev 2020, 11:17 - atualizado em 28 fev 2020, 11:17
Essa situação não pode durar para sempre. Uma hora o espaço de armazenagem vai acabar ou o ônus financeiro de manter tanto estoque será muito alto (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

A China acumula uma pilha de commodities que ameaça os mercados já atingidos pelo coronavírus.

O governo chinês obriga o país a voltar ao trabalho enquanto refinarias de petróleo produzem diesel e gasolina, e fundições e outras usinas industriais processam matérias-primas em produtos acabados, como aço e cobre.

Mas esses produtos não têm sido consumidos com a rapidez necessária. O consumo diminuiu porque as pessoas tiveram de ficar em casa e viajar menos, e as restrições logísticas impedem que a produção chegue aos usuários finais.

Com isso, as commodities se acumulam do lado de fora das fábricas, em depósitos e tanques de armazenamento. Nesta semana, os estoques de produtos siderúrgicos subiram para nível recorde, enquanto a oferta de cobre e zinco em depósitos monitorados pela Bolsa de Futuros de Xangai aumentaram para o nível mais alto em quase três anos.

Os estoques de gasolina e diesel devem se aproximar da capacidade teórica neste mês.

Essa situação não pode durar para sempre. Uma hora o espaço de armazenagem vai acabar ou o ônus financeiro de manter tanto estoque será muito alto.

As fábricas terão que reduzir os estoques com a venda de produtos ou cortar a produção, o que diminuiria a demanda por matérias-primas como petróleo e minério de ferro. De qualquer forma, seria um golpe para preços já achatados pelo vírus.

“Produtores não estocarão involuntariamente para sempre se não estiverem vendendo seus produtos, pois isso seria um exercício negativo de fluxo de caixa”, disse por e-mail Max Layton, diretor-gerente de pesquisa de commodities do Citigroup.

“Isso se refere a todos os metais em que o consumo subjacente sofreu o impacto do coronavírus, que são todos metais, exceto ouro e prata.”

Setor siderúrgico

O setor siderúrgico também está sob pressão. As usinas têm reduzido a produção devido à menor demanda, mas há limites sobre quanto podem cortar sem paralisar completamente os fornos, uma medida complicada e cara.

Os preços de produtos siderúrgicos caíram mais de 5% desde o feriado do Ano Novo Lunar em janeiro, quando o governo chinês bloqueou partes do país. O minério de ferro acumula queda de cerca de 10%.

Se as usinas começarem a reabastecer os estoques, as perdas do aço poderão acelerar.

“Pode haver uma queda de preço, já que operadores e usinas competem para retirar o material dos estoques o mais rápido possível”, disse Tomas Gutierrez, analista da Kallanish Commodities, com sede em Xangai. Os estoques estão “definitivamente em níveis insustentáveis” e isso é um “grande problema”, disse.

Qualquer correção de preço provavelmente teria vida curta, segundo Gutierrez. As usinas já reduziram a produção e uma queda adicional dos preços incentivaria cortes mais profundos, o que ajudaria a encolher os estoques. Isso pode acontecer daqui a uma ou duas semanas, disse.

E o lado da demanda também pode começar a melhorar à medida que o governo chinês coloca o país em operação novamente, o que ajudaria a reduzir os estoques, disse Xiao Fu, chefe de estratégia global de commodities da BOCI Global Commodities.

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