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Americanas (AMER3), Oi (OIBR3)… Um gestor profissional faz diferença para seus investimentos, afinal?

15 fev 2023, 11:20 - atualizado em 15 fev 2023, 11:20
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“Ouvi muitos casos de investidores que tinham Americanas (AMER3) durante o evento de janeiro e que aumentaram suas posições como justificativa para fazer preço médio”, afirma Fernando Ferrer (Imagem: Bloomberg)

“Você não acha caro 2% de taxa de administração?” Esse é um questionamento que escuto recorrentemente quando converso com clientes e amigos investidores, quando estes se referem às taxas de administração cobradas pelos gestores de fundos de ação ou multimercado.

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Embora não concorde, até entendo a reclamação quando a taxa de juros é baixa, como quando a Selic atingiu os 2% no segundo semestre de 2020. Naquele cenário, parecia exagerado pagar os mesmos 2% da taxa básica de juros para ter um investimento gerido por uma equipe profissional.

Três anos depois e com uma Selic próxima dos 14%, fica bem mais fácil justificar esse custo, ainda mais considerando a quantidade de flechadas que foram disparadas em direção ao investidor nos últimos meses.

Americanas (AMER3), IRB (IRB3), Oi (OIBR3) e outras flechadas no mercado

Começo a minha extensa lista de exemplos pela CVC (CVCB3), que era a queridinha do mercado financeiro e líder do segmento de turismo no país. Além dos problemas enfrentados em função da pandemia, a companhia se deparou com erros contábeis de exercícios anteriores que somavam algo próximo a R$ 400 milhões.

De lá para cá, houve troca de diretoria, alguns aumentos de capital e um enorme prejuízo para os acionistas. Da máxima histórica até essa semana, a perda é de 93% (ou – R$ 8,5 bilhões em valor de mercado).

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Outro caso que ficou bem conhecido foi o da resseguradora IRB (IRBR3). Em fevereiro de 2020, a Squadra, uma das mais tradicionais gestoras de ações do Brasil, publicou uma carta apontando uma série de inconsistências no balanço da companhia.

Depois de uma série de polêmicas envolvendo a resseguradora e de alguns aumentos de capital, o papel nunca mais se recuperou. Atualmente, o papel negocia próximo das mínimas e a perda financeira foi de dezenas de bilhões de reais.

No ano passado, chamou a atenção no mundo das incorporadoras o caso da Tenda (TEND3). Após o anúncio dos seus resultados do 4T21, que vieram muito piores do que o mercado esperava, as ações da companhia desabaram 25%.

O estouro de orçamento em função do forte aumento no preço dos insumos e da perda de produtividade por conta da pandemia fizeram com que a companhia reportasse um prejuízo de R$ 269 milhões. Desde então, a companhia ainda não conseguiu se recuperar 100% e suas ações também estão negociando próximas das mínimas históricas.

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Mais conhecida do grande público, a Oi (OIBR3) também tem aparecido recorrentemente nos portais de notícias. Depois de uma desgastante recuperação judicial (RJ) que durou mais de seis anos e contou com o desinvestimento de uma série de ativos, a companhia protocolou um novo pedido de RJ um mês depois de ter saído do primeiro.

Apesar da grande volatilidade dos papéis, a verdade é que o papel também se encontra próximo das mínimas históricas e a perda de valor de mercado desde 2021 foi de R$ 14 bilhões. Mais recentemente, tivemos o caso de Marisa (AMAR3) e Americanas (AMER3) que também machucaram bastante os investidores.

Interessante destacar que os problemas foram os mais diversos possíveis e em diferentes setores. Foram desde erros contábeis, até má gestão e problemas operacionais nos setores financeiro, varejo, telecomunicação e até em incorporação.

Obviamente que não foi só a pessoa física que saiu prejudicada desses casos. Diversos fundos que estavam alocados nos papéis ou nas dívidas dessas empresas também amargaram prejuízos.

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Contudo, a gestão profissional conta com apoio de uma equipe altamente capacitada e que possui um checklist muito maior do que o investidor pessoa física para tentar achar as boas oportunidades e fugir das ciladas.

Além disso, tendem a estar mais bem-informados e a desviar dos vieses comportamentais, que atrapalham demais o investidor (ouvi muitos casos de investidores que tinham Americanas (AMER3) durante o evento de janeiro e que aumentaram suas posições como justificativa para fazer preço médio).

Nesse contexto, a taxa de sucesso do profissional no longo prazo tende a ser maior do que o da pessoa física amadora e, para remunerar esse trabalho, existem as taxas de administração e de performance.

Topar pagá-las significa remunerar melhor a equipe de gestão, que por sua vez melhorará seus processos, análises e ferramentas. Se o investidor profissional conseguir desviar dessas flechadas e trouxer um bom resultado consolidado, a taxa de 2% está bem paga.

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Crises provam amadorismo do mercado brasileiro?

Uma outra pergunta que tenho recebido recentemente é: “Depois de todos esses problemas de grandes empresas, você não acha que o nosso mercado de ações seja muito amador? Vale a pena investir por aqui e correr o risco de cair em uma cilada?”

Embora ache a dúvida pertinente, nesse caso, gosto de pensar sob uma outra ótica. Obviamente que episódios de má administração ou até fraudes não são bons, mas estão longe de ser exclusividade brasileira. O próprio JP Morgan, um dos maiores bancos do mundo, também não está imune a isso.

Acredito que cada um desses casos serve de aprendizado para que o regulador, os investidores, as empresas, os administradores e todos os demais stakeholders refinem suas métricas de controle, análise, processo, etc. E, com o passar do tempo, a somatória dessas novas boas práticas vai estimulando a construção de um mercado mais evoluído.

Portanto, embora pareça contraintuitivo, acho que o aparecimento de mais casos fortalecerá o nosso mercado no longo prazo e, consequentemente, poderá ser um combustível para que as companhias também evoluam. Afinal, a lupa dos agentes de mercado evitará que o mesmo problema se repita novamente.

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Por fim, nunca é tarde para relembrar: investir não é um ato de não correr riscos, mas de tentar mapear os riscos que se está correndo (e ter a certeza de que vários outros não são mapeáveis. Afinal, quem esperava o impacto que o coronavírus teve em nossas vidas?). Por conta disso, ter margem de segurança nos seus investimentos é fundamental.

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA de Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passou a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série semanal Entre Altas e Baixas.

 

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Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Entre altas e baixas.
fernando.ferrer@moneytimes.com.br
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passará a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série quinzenal Entre altas e baixas.