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Americanas (AMER3) vai sobreviver à recuperação judicial? Especialista vê 90% de chance de falência

20 jan 2023, 18:24 - atualizado em 20 jan 2023, 19:00
Americanas
Será o quarto maior RJ do país em uma das mais tradicionais empresas de varejo do Brasil (Foto: Flávya Pereira/Money Times)

A Americanas (AMER3) entrou em recuperação judicial uma semana após fato relevante anunciar rombo de R$ 20 bilhões. No documento entregue à Justiça, a empresa declarou R$ 42 bilhões em dívidas.

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O início do processo foi visto como uma forma da empresa se proteger dos bancos, que conseguiram derrubar a medida que blindava a Americanas da execução de dívidas.

Será o quarto maior RJ do país em uma das mais tradicionais empresas de varejo do Brasil. No entanto, a recuperação, aprovada quatro horas após a entrada do pedido, algo pouco usual, chama a atenção.

O Money Times conversou com o especialista em reestruturação de empresas, Max Mustrangi, sócio-fundador da Excellance, butique especializada na recuperação da performance financeira das empresas, para dissecar o processo.

Na semana passada, Mustrangi havia falado que a chance de quebra da empresa era de 50%. Hoje ele considera que essa possibilidade subiu para 90% diante dos novos fatos e da queima de caixa recorde, que saiu de R$ 8 bilhões para R$ 800 milhões.

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“A divida trabalhista envolve 48 mil funcionários, estamos falando de uma massa brutal de rescisão. Eu não vejo saída. A empresa não tem margem, não gera resultado. Do jeito que estava, já não conseguia se sustentar”, coloca.

Ele lembra que quando se entra em recuperação judicial, todos os fornecedores passam a exigir pagamento à vista. Além disso, há o agravante de que a empresa não terá mais o financiamento dos bancos para sustentar o capital de giro.

“Essa RJ foi feita na correria, para se proteger dos bancos; os acionistas tinham oferecido debentures conversíveis em ações. Se os acionistas não querem aportar dinheiro, é porque não tem rentabilidade”, observa.

Os donos da 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, que hoje possuem 30% da Americanas e são considerados acionistas referência, propuseram colocar R$ 6 bilhões. No entanto, os bancos queriam R$ 15 bilhões.

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Lembrando que o trio já vinha se desfazendo da Americanas desde 2021, quando deixaram o controle acionário. Lemann investe na empresa desde 1980.

“Quando você tem uma galinha de ovos de ouro, você não faz canja e come ela”, coloca.

Na recuperação judicial, a Americanas informou que os acionistas referência irão sustentar a operação.

“O grupo de acionistas de referência da empresa informou ao presidente do conselho de administração que pretende manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, Americanas.com, da AME e suas coligadas”, diz trecho do relatório.

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Por outro lado, um levantamento da Associação Brasileira de Jurimetria, com base em processos judiciais do estado de São Paulo, aponta que 51% das empresas segue com as atividades depois de passar pela recuperação judicial.

“Entre 2014 e 2020 foram 1.194 pedidos de recuperação judicial em São Paulo e em 51% as empresas se recuperaram”, aponta o advogado Filipe Denki, sócio da Lara Martins advogados e especialista em reestruturação empresarial.

Segundo o advogado, o processo de recuperação judicial é viável apesar de ser longo e oneroso.

“Comprovar que passa por uma dificuldade financeira e que é uma empresa viável. Esse prazo ajuda muito as empresas, ajuda muito sentar com os seus credores e pensar na melhor solução”, explica Denki que alerta que a maioria das empresas que utilizam do processo são de grandes empresas.

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Para o advogado Fernando Brandariz, especialista em recuperação judicial, o mais importante nesse tipo de caso é a rapidez na hora de iniciar o processo, algo que, segundo o especialista, a Americanas fez.

“A empresa pra entrar com a recuperação judicial tem um certo tempo. Se ela perder esse timing não é o processo de recuperação judicial que vai salvá-la. Se ela começa a ter penhoras de contas, busca e apreensões de equipamentos etc., dificilmente ela vai ter sucesso com o processo de recuperação judicial”, explicou o especialista.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.