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Quais são as chances de Americanas (AMER3) quebrar? Especialista fala em 50%; veja riscos

12 jan 2023, 19:27 - atualizado em 13 jan 2023, 1:54
Americanas
Em meio ao caos da Americanas, há possibilidade de a Americanas decretar falência? (Imagem: Alessandra Melo Pereira/Money Times)

A Americanas (AMER3) ganhou as manchetes de todos os jornais do Brasil ao anunciar inconsistências contábeis de até R$ 20 bilhões, o dobro do que a empresa valia na bolsa até a última quarta-feira (R$ 11 bilhões).

Nesta quinta-feira, a ação derreteu mais de 70%, com a B3, dona da bolsa brasileira, paralisando as negociações três vezes devido ao alto volume de vendas, algo já esperado em meio às incertezas envolvendo a companhia.

Poucos investidores querem “pagar para ver” as consequências de um rombo de tamanha grandeza em uma varejista cuja rentabilidade já era questionada há tempos, no que analistas classificaram como “tempestade perfeita”.

Em meio ao caos, há a possibilidade de a empresa decretar falência?

Em carta enviada a funcionários, Sergio Rial, agora ex-CEO da empresa, disse que a posição de caixa é sólida, com mais de R$ 8 bilhões.

“Seguiremos pagando nossos fornecedores no prazo estipulado e todas as nossas obrigações”, disse.

No comunicado, Rial afirmou ainda que “não faltarão aqueles que queiram maldizer, gerando dúvidas sobre o nosso futuro”.

“É verdade que o impacto possa ser importante, mas acreditamos que, juntos, trabalhando no resultado do dia a dia, focando na construção de um grande trimestre em 2023, garantiremos os próximos trimestres”, completa.

Apesar disso, analistas e especialistas ouvidos pelo Money Times dizem que essa possibilidade de quebra existe e é real.

Possibilidade de 50%

Para Max Mustrangi, sócio-fundador da Excellance, butique especializada na recuperação da performance financeira das empresas, a chance da falência da Americanas é de 50%. “Os R$ 20 bilhões são só a ponta do iceberg, pode ser mais do que isso”, coloca.

Por um lado, o especialista diz que pegaria mal para os controladores da Americanas, entre os quais a 3G Capital, deixarem a empresa falir.

Até o momento, a 3G, formada pelos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, prometeram continuar suportando a companhia, tendo o Sergio Rial como seu assessor nesse processo, prestando apoio na condução dos trabalhos.

“Vão ter que fazer uma injeção de caixa para dar liquidez e tranquilidade ao mercado. Acho que aparecerá outros esqueletos, sempre falamos isso em projetos de reestruturação”, discorre.

Por outro lado, se os controladores acharem que o rombo é gigante e “vão colocar mais dinheiro para perder, é falência”.

“A função de quem está entrando lá não é salvar ninguém. Faz sentido, dado o rombo, ainda mais no contexto econômico, colocar mais dinheiro bom em cima de cadáver? Se não faz, para [a operação] e quebra. Não é eficiente financeiramente. A empresa precisa ser eficiente”, diz.

É preciso aguardar mais informações da Americanas

Mesmo que o momento da Americanas seja delicado, analistas dizem que é necessário esperar os próximos passos da gestão da companhia, que criou um comitê para investigar e apurar as inconsistências.

“Não temos informações completas, foi um fato relevante superficial. Não sabemos se ela vai precisar fazer frente aos credores no total de R$ 20 bilhões ou só as despesas financeiras desse valor. Ainda assim, seria um valor elevado, mas consideravelmente menor”, discorre Paola Melo, analista da gestora GTI.

Ela diz ainda que, invariavelmente, o patrimônio líquido da companhia irá ficar negativo. Hoje o patrimônio da Americanas é de R$ 15 bilhões. Com a dívida, R$ 5 bilhões ficarão no negativo.

“Certamente esse valor deve ser gatilho para covenants que ela tem em endividamento financeiro. Isso pode ser gatilho para resgastes antecipados de outras dívidas que a Americanas possui, agravando essa questão de liquidez”, discorre.

Para a analista, a capitalização, que é uma das saídas sugeridas, pode provocar uma diluição grande para os acionistas atuais.

“É uma situação delicada, a falência é uma possibilidade sim, e eu diria que não é pequena”, completa.

Processo não será da noite para o dia

Mesmo que a situação piore, o possível fim da Americanas não seria um processo imediato, destacam analistas.

“Ainda é bastante cedo para entender a real chance disso acontecer, precisamos aguardar a auditoria e o comitê independente realizar os trabalhos para identificar a dimensão do problema”, destaca Lucas Lima, analista da VG Research.

Outra possibilidade é a empresa entrar com pedido de recuperação judicial, se o pior cenário de impacto relevante nas demonstrações financeiras e balanço patrimonial for concretizado.

Já Enrico Cozzolino, head e sócio de análise da Levante Investimentos, avalia ser mais difícil a companhia falir.

“Tem todo um processo, recuperação judicial. O montante desse valor não terá efeito caixa imediato, pode ser negociado. Quando alguém deve R$ 20 bilhões, o problema é do sistema, não de quem deve”, coloca.

O que a Americanas precisa fazer agora?

Agora que foram reveladas as inconsistências, o nome e o sobrenome da Americanas deverão ser “transparência”, em uma tentativa de salvar o pouco de credibilidade que sobrou da varejista.

“O que cabe à empresa é deixar claro quais são as obrigações que ela precisa fazer frente agora, fazer ajustes nos livros e informar exatamente o quanto ela precisa de liquidez para buscar alguma capitalização”, discorre Paola, da GTI.

Já Cassiano Leme, da Constância Investimentos, diz que a Americanas tem bons ativos, o que pode ajudá-la a vencer esses desafios.

Hoje, existem mais de 1.700 Lojas Americanas espalhadas pelo país – há unidades em todos os estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal.

Além disso, a companhia é referência e uma das pioneiras em e-commerce no Brasil.

“Trata-se de um negócio ruim com uma má estrutura de capital ou é um bom negócio com uma má estrutura de capital? Não dá para responder hoje com certeza, mas a minha impressão é que pode haver um bom negócio, com uma má estrutura de capital. Quando você acerta a estrutura de capital, o negócio sobrevive”, completa.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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