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André Franco: o que o blockchain do bitcoin nos mostra sobre a recente queda?

23 mar 2020, 13:12 - atualizado em 23 mar 2020, 16:53
O desespero dos investidores em fechar posições alavancadas é tão grande que eles precisam vender o que colocaram como garantia para pagarem o que devem; assim se dá a queda do mercado (Imagem: Unsplash/@silverhousehd)

Desde o dia 20 de fevereiro, quando o S&P 500 registrou seu último pico, o índice caiu próximo a 33%. O mundo passou por algo novo e sem precedentes na História.

Por alguns momentos, houve a negação de que essa seria uma crise mais aguda, mas a agressividade da queda, a sua continuação e a volatilidade batendo recordes pararam com essa negação.

Nesses momentos, no mercado, ocorre o que chamamos de corrida pela liquidez. O desespero dos investidores em fechar posições alavancadas é tão grande que eles precisam vender o que colocaram como garantia para pagarem o que devem.

Assim sendo, as vendas são feitas sem qualquer métrica de valoração ou racionalidade.

São em situações como essas que vemos tudo no mercado cair, inclusive aquilo que deveria funcionar como defesa do patrimônio — o ouro, por exemplo.

A partir do dia 20 de fevereiro, o ouro caiu 8% e esse comportamento se deve muito provavelmente à garantia de vários operadores com posições alavancadas. Isso não podemos saber em detalhes. Podemos apenas especular.

E da mesma forma que todos os ativos — não só os de risco —, bitcoin e os demais criptoativos sofreram bastante. A narrativa de bitcoin como “safe haven” foi colocada à prova e, por enquanto, os resultados não são os mais satisfatórios no que tange aos preços.

Nas últimas semanas, o desempenho de preço dos criptoativos deixou a desejar, e muitos criticaram a narrativa de que o bitcoin não serve para tempos de crise (Imagem: Freepik/master1305)

Desde o dia 20 do mês passado, o bitcoin acumula uma queda de 35%, mas já chegou a marcar uma queda de 54%, o que deve ter assustado muitos investidores que têm pouca intimidade com momentos assim.

Na verdade, se olharmos para os dados do blockchain, podemos chegar a algumas conclusões sobre quem foram os vendedores e os compradores deste início de crise.

Para os que não estão familiarizados com essa possibilidade, o blockchain é uma estrutura de dados que registra toda e qualquer transação. Por isso, é possível fazer um raio X das movimentações e entender o que aconteceu na mais recente queda do bitcoin.

Os endereços com mais de 0,01 bitcoin seguem aumentando desde o dia 20 de fevereiro, como mostra o gráfico abaixo, em que a linha laranja é a média móvel do número de endereços:

Bitcoin: endereços com balanço maior ou igual a 0,01 (média móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

Os endereços com mais de 1 bitcoin se comportaram de forma semelhante até o dia 12 de março, quando o ativo chegou a cair 40% em um dia. Foi então que o número de endereços também começou a sofrer uma queda. Nesse momento, o número de endereços estava em ascensão.

Bitcoin: endereços com balanço maior ou igual a 1 (média móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

Já os endereços com mais de 100 bitcoins vinham com pequenas variações até o dia 7 de março, quando começaram a cair e, a partir do dia 12, voltaram a subir novamente. Nesse momento, o número de endereços caiu de forma mais acelerada do que antes da grande queda do dia 12.

Bitcoin: endereços com balanço maior ou igual a 100 (média móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

Por último, mas não menos importantes, estão os endereços com mais de mil bitcoins em carteira. Esses números passaram por uma alta até o dia 12 de março, quando começaram a cair e, desde então, permanecem em tendência de baixa.

Bitcoin: endereços com balanço maior ou igual a 1 mil (média móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

Olhando essas métricas, podemos perceber que os holders desse ativo, que estão mais com a pele em jogo, ainda podem estar vendo uma queda em um futuro próximo, e os holders com menos saldo seguem aumentando.

Logo, na minha visão, seguir os milionários do bitcoin é vender marginalmente o ativo agora para comprar a um preço abaixo do atual.

Além da quantidade de endereços por quantidade de bitcoins, também é interessante analisar como se comportaram os endereços por idade.

Em seu artigo, a empresa Unchained Capital explica o que é “HODL wave” mas, para simplificar, podemos tratar essa métrica como a distribuição dos bitcoins por endereços, de acordo com a sua última movimentação.

Bitcoin: ondas de “HODL” (Imagem: Glassnode)

As cores mais quentes representam endereços cuja última movimentação foi a mais recente, como um dia, uma semana, um mês ou até um ano.

Perceba também, na imagem acima, que os endereços com movimentação mais recente são as áreas que mais se alteram, e os endereços mais antigos são as faixas mais suaves. Isso nos mostra que as oscilações de preço afetam muito mais os endereços mais recentes do que os antigos.

Agora, analisando o período mais recente de como os hodlers se comportaram, de 18 de fevereiro até 20 de março, temos a seguinte configuração:

Bitcoin: ondas de “HODL” (Imagem: Glassnode)

No dia 18 de fevereiro, a distribuição percentual era a seguinte:

(Imagem: Glassnode)

No dia 20 de março, a distribuição havia mudado sensivelmente para a seguinte distribuição:

(Imagem: Glassnode)

A faixa que sofreu maior alteração nos percentuais foi a de três meses a seis meses, perdendo 1,87 pontos percentuais. Os endereços com mais tempo sofreram sensíveis oscilações, como o esperado, pois esses representam as faixas com mudanças mais suaves.

A principal ideia que deve ser extraída da análise da HODL Waves é que, assim como aconteceu em outras quedas, os investidores mais antigos, na média, não movimentaram suas carteiras, o que novamente indica um comprometimento de longo prazo com a tese do bitcoin.

O momento atual para o bitcoin é justamente o de provar a sua tese. Temos certeza de que a crise ainda não acabou e pode se agravar ainda mais nos próximos dez dias, no mundo todo.

O bitcoin surgiu para ser um ativo que vai contra o status quo e serve para momentos de crise, como o que estamos vivendo, para nos salvar da impressão desenfreada de dinheiro.

É exatamente isso o que vai acontecer daqui em diante. Vários trilhões de dólares serão criados do absoluto nada e o bitcoin poderá provar ao que veio.

Unindo isso aos dados da rede, concluo que veremos uma queda no curto prazo, mas também vejo que a tese defendida pelos investidores mais antigos permanece viva em suas cabeças.

E você, o que acha? Se quiser, pode entrar em contato comigo pelo Instagram e me responder. Fique à vontade. Sempre estou aberto a ampliar minhas percepções.

Abraço e até a próxima.

Analista de Criptomoedas
André é Engenheiro Mecatrônico (USP) por formação e Empreendedor por vocação. Ao longo de sua trajetória profissional, já ajudou mais de 80mil pessoas com seus investimentos por meio da startup digital Investeaê e já ganhou prêmios e reconhecimentos da GE Healthcare, da Open Startups Brasil 2017 e do IV Prêmio Brasil Alemanha de Inovação de 2016 por meio da startup de healthcare Oxiot. Atualmente, quer impactar o mercado de Criptomoedas na Empiricus Research.
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André é Engenheiro Mecatrônico (USP) por formação e Empreendedor por vocação. Ao longo de sua trajetória profissional, já ajudou mais de 80mil pessoas com seus investimentos por meio da startup digital Investeaê e já ganhou prêmios e reconhecimentos da GE Healthcare, da Open Startups Brasil 2017 e do IV Prêmio Brasil Alemanha de Inovação de 2016 por meio da startup de healthcare Oxiot. Atualmente, quer impactar o mercado de Criptomoedas na Empiricus Research.
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