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Anúncios, lives e reality inspirado em Round 6: as estratégias da Netflix (NFLX) para sair da crise

28 jun 2022, 13:32 - atualizado em 28 jun 2022, 13:46
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Investidores precisam passar a precificar Netflix com base em métricas de rentabilidade, diz analista. (Imagem: Unsplash/freestocks)

O enredo da Netflix (NFLX) começa em 1997, quando ainda era uma empresa de aluguel de DVDs pelo correio.

Sua primeira série original para a internet estreou em 2013. Desde então, a companhia vinha reinando absoluta no mercado de streaming de conteúdo, somando 222 milhões de assinaturas no mundo todo e apresentando crescimento expressivo.

Tudo mudou em 2022.

Neste ano, pela primeira vez, a Netflix revelou uma diminuição no número de assinantes no primeiro trimestre deste ano – foram 200 mil a menos, sendo que o mercado esperava um acréscimo de 2,5 milhões de usuários.

A divulgação dos resultados do segundo trimestre está prevista para 19 de julho. Spoiler: a estimativa agora é de que serão 2 milhões de assinaturas canceladas.

A crise refletiu também nas ações da companhia (desde o início de 2022, as ações da Netflix caíram 72,8%) e em cortes de gastos internos (a empresa demitiu 150 funcionários em maio e mais 300 em junho).

A seguir, entenda o que explica esse mau momento e no que a gigante do entretenimento aposta para dar a volta por cima.

O que explica esta temporada ruim da Netflix?

O serviço de streaming cresceu muito rápido e este é um momento de consolidação do setor, destaca o professor e pesquisador de economia criativa do Mackenzie, Anderson Gurgel.

“A Netflix, como pioneira, tenta garantir sua fatia do mercado”, resume.

Episódio 1: aumento da concorrência direta

Você já deve ter observado quantas plataformas de streaming diferentes surgiram nos últimos tempos: HBO Max, Disney+, Globoplay, Prime Video, Star+…

O Disney+, por exemplo, conta com conteúdos da Disney, Pixar, Marvel, entre outros. Já a HBO Max oferece aos assinantes famosas produções da Warner Bros. E o Prime Video é só mais um dos benefícios do pacote de serviços que os assinantes da Amazon têm acesso.

Além de produzirem novos conteúdos, as plataformas mais novas no mercado “pegaram de volta” suas produções que antes faziam parte do catálogo da Netflix.

“É muita oferta. O excesso acaba tendo um efeito canibalizante. Você tem um excesso de conteúdo para o mesmo publico”, analisa Gurgel.

Episódio 2: fim do isolamento social

O fim do isolamento social leva as pessoas a saírem de casa e há ainda a retomada de atividades como cinema e shows. Com isso, as pessoas passaram consumir menos filmes e séries, segundo o pesquisador do Mackenzie.

Ou seja, a concorrência da Netflix não é apenas com outros serviços de streaming, mas com qualquer outro tipo de entretenimento.

A própria companhia afirma que “se você pensar no que fez em qualquer noite ou fim de semana em que não assistiu à Netflix, entenderá o quão ampla é nossa concorrência”.

Episódio 3: os desafios tipicamente brasileiros

Pode não ser tão fácil se expandir em um país como o Brasil, onde 60 milhões de pessoas ainda não têm acesso à internet, conforme dados do Comitê Gestor da Internet do Brasil.

E entre os que possuem acesso, há quem dependa somente da conexão 3G e há quem só acesse na escola ou no trabalho.

Segundo Gurgel, o universo do streaming ainda é elitizado. “As pessoas ainda veem TV. Novelas ainda falam para um grande público, que é muito significativo em termos quantitativos”, explica.

No Brasil, a competição com a Globo também não é moleza. Além da TV aberta, há o Globoplay, que vem fazendo sucesso entre os brasileiros com seu catálogo que inclui reality shows ao vivo e novelas de sucesso.

No primeiro trimestre deste ano, além de aumentar a base de assinantes, o serviço de streaming da gigante verde-amarela aumentou sua receita líquida em 49% em relação ao mesmo período do ano passado.

O pesquisador do Mackenzie lembra que, no Brasil, há também a questão da crise econômica e da inflação, contexto que obriga o consumidor a estabelecer prioridades – que provavelmente não são assinar vários serviços de streamings.

Mudanças no roteiro: Netflix aposta em novas estratégias

Assinatura com publicidade

Uma opção de assinatura mais barata deve ser lançada em breve pela Netflix. Nesse modelo, o usuário pagará menos, porém terá suas séries e filmes interrompidos por anúncios, mais ou menos como acontece hoje no Spotify e no YouTube.

“Isso é assumir que o modelo da TV aberta no Brasil ainda é majoritário e talvez seja o caminho para viabilizar o negócio”, analisa Gurgel.

A possibilidade foi confirmada pelo co-CEO da Netflix, Reed Hastings. Ele afirmou ser “um fã da escolha do consumidor” e de “permitir que os consumidores que gostariam de ter um preço mais baixo e são tolerantes à publicidade obtenham o que desejam”.

Já os rumores de uma assinatura totalmente gratuita e baseada em publicidade foram desmentidos pela empresa.

Reality show inspirado na série Round 6

Nem BBB nem A Fazenda, a grande aposta da Netflix é um reality show inspirado na série Round 6. A produção sul-coreana foi a série mais vista da história da Netflix.

A empresa planeja escolher 456 pessoas, mesmo número da série, para participar de uma competição que terá prêmio de US$ 4,56 milhões, o maior prêmio em dinheiro da história da televisão.

O reality show terá 10 episódios, que serão gravados no início de 2023 no Reino Unido.

Os jogos da série são mortais, porém, na vida real, a Netflix promete garantir a segurança dos participantes.

A nova aposta é uma forma de investir mais em conteúdo original. “Dado o sucesso que tivemos com originais, estamos aumentando nosso investimento nessa área”, afirma a Netflix.

Mudança no compartilhamento de senhas

Há um recurso em teste no Chile, Costa Rica e Peru que deve desagradar os assinantes brasileiros.

O recurso permitirá aos assinantes adicionar “subcontas” para que outras pessoas possam usar um mesmo perfil por um preço mais baixo que uma assinatura tradicional. Há também rumores de que a Netflix cobraria a mais diretamente de quem empresta a conta.

A empresa estima que 100 milhões de pessoas no mundo acessem a plataforma por meio de contas de terceiros. Segundo a Netflix, o compartilhamento de contas “acaba impactando nossa capacidade de investir em bons e novos programas para os assinantes”.

Mais investimentos em games

Nem só de séries e filmes viverá a Netflix. A plataforma oferece agora mais de 20 jogos para celular e o plano é que até o fim deste ano sejam mais de 50.

Os destaques são os jogos inspirados em séries de sucesso, como Stranger Things 3: O Jogo e Stranger Things: 1984. A empresa também promete lançamentos relacionados à Brincando com Fogo, La Casa de Papel e O Gambito da Rainha.

Os últimos games adicionados foram Dragon Up, Moonlighters, Townsmen e Exploding Kittens, todos disponíveis no aplicativo da Netflix.

Foco nos esportes e eventos ao vivo

De acordo com o portal Business Insider, a Netflix está tentando entrar no mercado de transmissões esportivas ao vivo. A gigante do streaming estaria buscando obter os direitos da Fórmula 1 nos Estados Unidos. Também há rumores que apontam para a exibição de reality shows e especiais de comédia ao vivo.

Porém, talvez esse investimento esteja sendo feito tarde demais, segundo Gurgel, do Mackenzie. “A Netflix inovou em seu início, mas perdeu a chance de ter pioneirismo em algumas frentes”.

“Ter o ao vivo traz um diferencial muito grande pro negócio e a gente vê que é uma sacada que a Netflix não está conseguindo acompanhar. Isso talvez ajude a explicar um pouco as perdas da Netflix em relação aos seus concorrentes, que se movimentaram”, explica.

No caso dos esportes, a importância do ao vivo é maior ainda. Como exemplo de concorrentes que apostaram nisso, ele cita o “recém-chegado” Paramount, que já entrou em leilão de jogos de futebol, a Globoplay, que tem parcerias para exibir campeonatos brasileiros, e a HBO Max, transmissora da Champions League.

Como se posicionar como investidor?

“Neste momento, eu permaneceria de fora das ações e BDRs da Netflix”, diz o analista de ações Richard Camargo, da Empiricus.

Ele reitera a opinião do megainvestidor Bill Ackman, que comunicou ter zerado sua posição na Netflix após a última divulgação de resultados.

De acordo com Richard, com a sua escala, os investidores precisam passar a precificar Netflix com base em métricas de rentabilidade.

“O que não está claro é qual será o seu perfil de rentabilidade caso o cancelamento cresça e a inflação faça subir desproporcionalmente o seu custo de produzir novos shows”.

O analista afirma que um investidor não pode cometer o erro de confundir um bom produto com um bom investimento. “Infelizmente, aos preços atuais, acredito que Netflix se encaixe nesta categoria [de bom produto, mas mau investimento]”, afirma.

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