Coluna do Vicente Guimarães

Ao contrário do que muita gente pensa, aposentadoria e liberdade financeira não são sinônimos

14 dez 2023, 15:06 - atualizado em 14 dez 2023, 15:06
Previdência versus RendA+
Eu, por exemplo, conquistei minha liberdade financeira em 2016, ano em que percebi que meus dividendos já eram superiores aos meus gastos (Imagem: Canva)

Muita gente acredita que aposentadoria e liberdade financeira são a mesma coisa, mas não são. Na prática, aposentadoria é sinônimo de pobreza, enquanto liberdade financeira é ter renda superior aos gastos mensais.

Eu, por exemplo, conquistei minha liberdade financeira em 2016, ano em que percebi que meus dividendos já eram superiores aos meus gastos. E o melhor é que em 2017 minha renda passiva dobrou porque no ano anterior, em função da crise política que culminou com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, os preços das ações haviam caído e eu aproveitei para comprar bastante. Quando elas subiram, eu fui beneficiado. 

O mercado financeiro é uma ótima ferramenta para se conquistar a tão sonhada renda passiva. Para os iniciantes, renda passiva é aquela em que o dinheiro trabalha para você. Ou seja, depois de acumular patrimônio, a pessoa passa a viver apenas com os rendimentos dele. Não é tão difícil quanto parece, mas é preciso ter algum conhecimento e muita disciplina. É como plantar uma árvore.

Primeiro, você escolhe a espécie a ser plantada, verifica se é adequada para o solo e clima de onde você reside. Ela não cresce de um dia para o outro. É preciso regar frequentemente, adubar no tempo certo, fazer a poda quando necessário. Com o passar dos anos começa a ser possível desfrutar da sombra, da beleza das flores e dos frutos, mas leva tempo. 

No mercado financeiro, de certa forma, as coisas funcionam assim. O investidor precisa desenvolver uma estratégia, avaliar quais ativos comprar, definir em quanto tempo pretende atingir a liberdade financeira e todo mês aplicar um pouco de recurso para que o investimento cresça, fortalecido pelos juros e pelos aportes constantes.

Porém, a estratégia costuma ser prejudicada pela volatilidade da renda variável. O sobe e desce das ações é o que mais assusta as pessoas, pois gera incertezas. Infelizmente, notícias negativas sempre são as que repercutem mais.  

Além disso, o medo da volatilidade faz com que as pessoas desistam, pois elas focam no preço das ações. Quando cai, elas entendem que perderam e correm para sacar o dinheiro. Daí minha dica para que os investidores não foquem nos preços dos ativos. Dividendo deve ser o principal objetivo do investidor que sonha com a liberdade financeira.  

Para quem não sabe, dividendo é parte do lucro da empresa. Por lei, a empresa tem de pagar pelo menos 25% de seus lucros aos acionistas na forma de dividendos. Como toda regra tem exceção, a mesma lei diz que se o Conselho de Acionistas aprovar o não pagamento de dividendos, então, a companhia ficará isenta dessa obrigação.

Mas geralmente é pago e o que o investidor tem de fazer é procurar aquelas que pagam e, mais do que isso, investir nas mais sólidas, que normalmente proporcionam retornos mais robustos em termos de distribuição de lucro. 

Mas como saber quais as melhores pagadoras de dividendos? Bom, existem dois indicadores que ajudam muito na hora da escolha: o payout e o dividend yield. O payout é a relação, em percentual, entre dividendo pago e lucro líquido. Ou seja, quantos por cento do lucro gerado foi pago como dividendo.

Para exemplificar, vamos supor que uma determinada companhia lucrou R$ 100 milhões. Deste valor, ela destinou R$ 30 milhões (30%) para reserva de lucro e R$ 20 milhões (20%) para aumento do capital social. Os outros R$ 50 milhões foram distribuídos aos acionistas na forma de dividendos. Ou seja, o payout foi de 50%. 

Se você busca uma empresa que paga bons dividendos, ela tem de ter payout alto. A do exemplo acima paga 50%, mas tem empresa que paga 10% de payout. E tem companhia que paga payout alto, de 70%, 80% e até superior a 90%.

O outro indicador, o yield, é a soma dos dividendos pagos nos últimos 12 meses dividido pelo preço atual da ação. Por isso ele muda bastante, pois o valor da ação é volátil e se altera todos os dias.  

Para ficar fácil entender como funciona esse indicador, vamos comparar duas empresas, supondo que elas têm a mesma qualidade e bons fundamentos.

Sendo assim, nos últimos 12 meses a empresa Alfa pagou R$ 0,25 por ação e a empresa Beta pagou R$ 1 em dividendos por ação. Se o seu foco for desenvolver uma carteira de dividendos, qual empresa compensa mais investir?

A princípio, muita gente acredita que a empresa Beta paga mais. Porém, é importante saber qual o preço de cada ação hoje, pois o yield mostra qual o percentual de dividendos considerando o preço de cada ação. 

Então, ao analisar, o investidor descobre que o preço de cada ação da empresa Alfa é de R$ 2,50, enquanto o da Beta é de R$ 50. Ou seja, quem investir na Alfa terá um yield de 10%, enquanto quem escolher a Beta terá um yield de apenas 2%.

Na primeira, o investidor tem retorno maior considerando o preço da ação. Aqui dá para entender como essas análises são importantes para escolher os melhores ativos. 

A vantagem de desenvolver uma estratégia de investimentos focada em dividendos é que esse modelo garante mais previsibilidade.

Quando o foco são ações, tudo é imprevisível, pois a volatilidade é alta. No entanto, os dividendos estão diretamente relacionados à saúde financeira da empresa.

Uma companhia sólida tende a ser lucrativa quase sempre. Assim, a distribuição dos ganhos será constante, facilitando o acúmulo de patrimônio. 

E o melhor de tudo é que o processo não termina só porque o investidor conseguiu alcançar a liberdade financeira. Pelo contrário. Depois de atingir a meta, o patrimônio continua a crescer. É um efeito bola de neve dos juros compostos nos dividendos.

Agora que você sabe disso, pense bem se o seu sonho é mesmo a aposentadoria ou ter renda superior aos próprios gastos mensais. Se escolheu a segunda opção, o caminho está dado.

CEO da VG Research
Vicente Guimarães é Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 20 anos de experiência no mercado corporativo e financeiro. Em 2018, lançou seu canal no YouTube que atualmente possui mais de 220 mil inscritos. O sucesso do seu conteúdo inspirou a criação da VG Research, casa de análise que já orientou mais de 20 mil clientes.
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