BusinessTimes

Após decepção, Pão de Açúcar tem prazo contado para se redimir com mercado

14 maio 2020, 13:02 - atualizado em 14 maio 2020, 13:02
Pão de Açúcar PCAR3
Integração indigesta: trazer o grupo colombiano Êxito para sua estrutura custou mais do que o mercado esperava no primeiro trimestre (Imagem: Money Times/ Gustavo Kahil)

O prejuízo do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) de R$ 130 milhões, no primeiro trimestre, frustrou as expectativas do mercado. Os relatórios de analistas já publicados se referem ao balanço como “decepcionante” (Ágora Investimentos), “misto” (Banco Safra), “abaixo do esperado” (XP Investimentos) e “fraco” (UBS).

Nenhum deles, contudo, revisou suas recomendações para o papel, com base nesses números. Primeiro, porque um dos grandes responsáveis pelo prejuízo foi o aumento de despesas não recorrentes.

Para ser mais preciso, os gastos com a integração do Grupo Êxito, maior varejista da Colômbia, e que passou para o guarda-chuva do Grupo Pão de Açúcar, dentro da reestruturação implantada pelo Casino, seu controlador.

O impacto da integração foi sentido na linha “outras despesas operacionais, líquidas”, que saltou de R$ 49 milhões, no primeiro trimestre de 2019, para R$ 273 milhões. Nesta conta, estão incluídos gastos com o Êxito de R$ 197 milhões, ante R$ 13 milhões, há um ano.

Os analistas querem, agora, saber se este foi um evento que não se repetirá (pelo menos, nesta magnitude), ou se a integração da rede colombiana ainda acarretará outros grandes gastos para o Pão de Açúcar.

Lucratividade

Além disso, os analistas esperam que outras iniciativas possam mostrar resultados positivos no segundo trimestre. E este, por enquanto, é o prazo que o grupo tem para convencer o mercado de que está no caminho certo.

Richard Cathcart e Flavia Meireles, que assinam o comentário da Ágora, afirmam que aguardam uma estabilização nas margens de lucro do Pão de Açúcar entre abril e junho, bem como a aceleração do crescimento das vendas no critério mesmas-lojas (aquelas abertas há, pelo menos, um ano).

A dupla lembra que o múltiplo de 11,4 vezes o P/L 2021 (preço-lucro estimado) é atraente, mas adverte que os resultados fracos podem “levar a revisões descendentes das estimativas”, já que os argumentos para investir no papel não são “tão convincentes, quanto os investidores gostariam de ver”.

Loja do Grupo Exito, controlado pelo Pão de Açúcar
Surpresa negativa: integração do Grupo Exito, da Colômbia, está saindo mais caro que o esperado pelos analistas (Imagem: Facebook/Divulgação/Grupo Exito)

Guilherme Assis e Felipe Reboredo, responsáveis pela análise do Banco Safra, observam que alguns resultados positivos começam a ser colhidos das iniciativas no segmento de multivarejo, que reúne as bandeiras de varejo do grupo, como Pão de Açúcar, Compre Bem e Extra.

Embora a dupla ressalte que o multivarejo continua o ponto mais frágil da operação, afirmam que “se os sinais de recuperação se materializarem, acreditamos que as ações do Pão de Açúcar podem ganhar momento nos próximos meses”.

Pedro Fagundes, falando pela XP Investimentos, lembra que a gestora esperava um lucro líquido de R$ 309 milhões do Pão de Açúcar, acima do consenso de mercado, que apostava em R$ 281 milhões. Assim, as vendas maiores do grupo não foram capazes de assegurar resultados positivos.

O analista diz que, “por ora”, continua com uma expectativa favorável sobre os números da companhia no segundo trimestre, bem como o prosseguimento dos planos de expansão, a melhoria do mix de produtos nas lojas e a queda do endividamento.

Prazo correndo

No UBS, Gustavo Piras Oliveira, Sophie Wu e Gabriela Katayama, que assinam o relatório obtido pelo Money Times, comentam que o segmento de multivarejo mostrou algum progresso, na comparação com o último trimestre de 2019, mas a rentabilidade ficou abaixo do que esperavam.

O trio também prestará atenção ao comportamento do atacarejo, segmento em que o grupo atua com a bandeira Assaí. Atualmente, explicam os analistas, os consumidores pessoas físicas representam 70% da clientela do Assaí. O problema é que a competição deve se acirrar nos próximos meses.

Até que as perspectivas do Pão de Açúcar fiquem mais claras, o UBS mantém a recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 85.

A XP Investimentos também, com preço-alvo de R$ 100. No Safra, a recomendação é outperform (desempenho esperado acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 120. A Ágora não divulgou recomendação.

Os investidores não gostaram dos números, a julgar pelo comportamento das ações da varejista nesta quinta-feira (14). Por volta das 12h28, os papéis despencavam 7,36%, cotados a R$ 59,20, enquanto o Ibovespa caía 1,14%, para 76.888 pontos.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
Linkedin
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
Linkedin