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As stablecoins descentralizadas irão extinguir as centralizadas?

16 abr 2022, 18:00 - atualizado em 14 abr 2022, 19:38
stablecoins
A proposta das stablecoins é de ser uma maneira do investidor se expor no mercado sem precisar lidar com a alta volatilidade (Imagem: Coinbase)

As stablecoins, ou moedas estáveis, são como criptomoedas que possuem valores estáveis e pré-determinados de acordo com seu lastro. A proposta destas moedas é de ser uma maneira do investidor se expor no mercado sem precisar lidar com a alta volatilidade dos demais criptoativos.

Geralmente, as stablecoins são usadas pelos investidores em plataformas de finanças descentralizadas (DeFi), ou ainda como caixa para aquisição futura de outro criptoativo.

Todavia, para a segurança do investidor, é recomendado saber como funciona o lastro dessas moedas estáveis e qual a melhor opção para utilizá-las tendo essa confiança.

Diferenças entre stablecoins centralizadas, descentralizadas e algorítmicas

Dentre as categorias de stablecoins, existem as centralizadas, descentralizadas e algorítmicas.

As stablecoins centralizadas são as que contam com uma empresa por trás da emissão do criptoativo.

A empresa por trás é a custodiante, responsável por criar o lastro da stablecoin que pretende emitir no mercado cripto. Um exemplo é a Bitifinex, emissora da stablecoin lastreada em dólar Tether (USDT).

Nesses casos, é preciso que haja uma reserva em ativo fora da blockchain para criar o lastro desta stablecoin.

Após o surgimento das stablecoins centralizadas, surgiram as descentralizadas. Estas utilizam outros criptoativos como lastro através de um protocolo, ou aplicativo, descentralizado.

O funcionamento se dá por meio de um contrato inteligente, e um formador de mercado automatizado, que faz a custódia do lastro em um cofre digital no blockchain em forma de outros criptoativos.

Dessa forma, qualquer usuário pode travar seus próprios criptoativos como colateral, ou garantia, no protocolo e retirar a quantia equivalente em moeda estável. Para isso, basta que a garantia seja um pouco maior que a quantia retirada – para não haver risco do usuário ser liquidado de forma automática devido a volatilidade do mercado.

Um exemplo de protocolo que emite stablecoins descentralizadas é a MakerDAO (MKR), que possibilita a emissão da stablecoin DAI.

Uma outra maneira de emitir stablecoins descentralizada é o protocolo realizar a queima de um ativo – normalmente o token nativo do protocolo – para criação da quantia desejada em moeda estável.

Um exemplo de protocolo que utiliza esse método é a Terra (LUNA) – emissora da UST – e a Waves (WAVES) – emissora da USDN.

Essas stablecoins são chamadas de descentralizadas, pois não dependem da custódia de uma empresa, como a Tether. A própria comunidade emite conforme demanda seu uso.

Por fim, as stablecoins algorítmicas não possuem lastro algum – nem em ativos fora do blockchain, nem em outros criptoativos.

O que mantém o preço dela são algoritmos que controlam a quantidade de ativos em circulação, fazendo operações de queima ou emissão de tokens conforme a necessidade para oferta e demanda sempre convergirem em um preço estável.

O mecanismo é parecido com a queima de uma stablecoin descentralizada – como a Terra (LUNA); entretanto, realizado por meio de algoritmos, e não da comunidade em si.

O recente problema com a Waves (USDN)

No começo deste mês, após uma série de problemas de governança e desconfiança com o  protocolo da Waves, os usuários começaram a sacar seus USDN. Havia uma grande quantia naquele momento em detrimento do protocolo DeFi estar oferecendo na época um grande rendimento em USDN – tática usada para aumentar a liquidez do ativo.

O impacto no mercado desse movimento de retirada foi tanto que o USDN – que deveria valer US$ 1 – chegou a ser negociado por US$ 0,76.

Os usuários queimaram seus USDN retirados para transformar de volta em Waves e, dessa maneira, a oferta de token Waves voltou a subir, e seu preço a diminuir.

Afinal, qual é a vantagem e desvantagem de cada uma?

Fabrício Tota, Diretor de Novos Negócios no Mercado Bitcoin, comenta que uma das ideias centrais do mundo cripto é a descentralização. Em sua opinião, as stablecoins centralizadas surgiram para “resolver algumas fricções desse universo, contudo abrindo mão dessa ideia central”.

“O que é paradoxal, de certa forma“, comenta.

Para ele, esse modelo traz de volta problemas atrelados ao mundo centralizado e intransparente: “você centraliza, novamente, a confiança. Falta a transparência proporcionada pelo design, pela blockchain.”

Stablecoins descentralizadas e algorítmicas resgatam valores de transparência e, como o próprio nome diz, descentralização, como aponta o analista.

“Fazem muito mais sentido do que soluções centralizadas”, conclui.

A regulação deve atingir de forma mais frontal as centralizadas, uma vez que existe um alvo bastante claro, que são os emissores e os responsáveis pelos depósitos em ativos reais.

Para Caio Vicentino, embaixador da MakerDAO no Brasil (emissora da DAI), futuramente as stablecoins descentralizadas substituirão as centralizadas.

Em sua visão, “não há motivo para você usar uma stablecoin e precisar confiar em uma empresa para ter lastro.”

Ele aponta que a maior vantagem de uma stablecoin descentralizada frente a uma centralizada é a possibilidade de ser auditado a qualquer momento, por possuir um código aberto.

No que diz respeito à regulação, Vicentino comenta que a tendência é que stablecoins centralizadas sofram mais em relação às descentralizadas.

Ele lembra que atualmente não existe uma regulação atual para stablecoins descentralizadas, apesar de existirem planos para isso.

“Existem planos, mas na prática é difícil de se impor devido a sua estrutura descentralizada”, completa.

O embaixador comenta que a maior dificuldade das stablecoins descentralizadas em relação às centralizadas atualmente é a menor escalabilidade do ponto de vista da blockchain.

“Entretanto, as segundas camadas tendem a ajudar bastante nesse ponto.”

Ele reforça que, problemas em contratos inteligentes – como o que aconteceu com a Waves – irão acontecer cada vez menos, tendo em vista a robustez de informações espalhadas para os desenvolvedores. O diferencial da DAI, para Vicentino, é a possibilidade de incluir novos ativos para tomarem dívida em DAI.

Ele diz que existe um consenso entre a comunidade da MakerDAO sobre quais criptos podem ou não ser usadas como colateral, e isso é feito de forma transparente e descentralizada.

“No site do MakerDAO você pode verificar como foram as votações para adicionar cada colateral”, finaliza.

O Crypto Times também entrevistou Paolo Ardoino, CTO do Tether e da Bitifinex, para entender melhor o funcionamento da emissão de uma stablecoin centralizada. Confira:

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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