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Aumento de capital do IRB (IRBR3): Risco ou solução, como disse Luiz Barsi?

08 ago 2022, 16:06 - atualizado em 13 ago 2022, 22:49
IRB
A solução para o IRB é aumentar o capital? Analistas discordam da visão do megainvestidor Luis Barsi (Imagem: Divulgação/ IRB)

O IRB (IRBR3) é uma das ações mais badaladas da bolsa, por bons e maus motivos.

Se por um lado parte dos investidores acreditam na recuperação da empresa, que derreteu 94% em dois anos, marcado por erros contábeis e fake news sobre aportes de Warren Buffett, por outro, analistas continuam céticos com a capacidade de “fênix” da companhia.

Recentemente, Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física da bolsa, causou um burburinho ao afirmar que comprou ações do IRB.

Os papéis chegaram a subir após a divulgação da notícia. Porém, os prejuízos apresentados à Susep (Superintendência de Seguros Privados) continuaram pressionando o valor de mercado da resseguradora.

O mais recente, de maio de 2022, mostrou uma deterioração considerável, com prejuízo de R$ 273 milhões, disparada de 194% ante mesmo período do ano passado.

Em entrevista à Reuters, Barsi afirmou que a companhia está recuperada, mas precisa de um impulso, que seria um aumento de capital.

“É como uma locomotiva, está no trilho, mas não anda, precisa de combustível e o combustível é a capitalização”, disse.

Seria essa a solução para o IRB engatar a quarta marcha e fazer a alegria dos seus acionistas?

O Money Times consultou analistas para questionar a afirmação.

Cotação do IRB atingiu mínimas históricas desde IPO

Aumento de capital: risco para IRB ou solução?

Para Matheus Amaral, do Inter Research, o aumento de capital não é a solução para o IRB andar.

Em sua visão, a operação é uma questão regulatória e não mais do que isso. Ele lembra que, atualmente, a solvência da resseguradora está em 105%, bem próxima do mínimo exigido pela Susep.

“O IRB precisará de aumento de capital se continuar reportando prejuízo. Aí você diminui o patrimônio. Então a regulação acaba olhando isso. O problema da empresa não está em elevar o capital”, discorre.

Já Carlos Daltozo, analista da Eleven, coloca que o aumento de capital é um dos motivos da ação estar na cotação mínima histórica.

“A perceptiva de aumento de capital é um risco eminente de os acionistas terem que aportar mais capital para manterem suas participações. Hoje, tenho dúvidas se nesse cenário o Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) iriam aportar novamente recursos nessa operação, que tem dado prejuízos constantes”, coloca.

Na visão da dupla de analistas da Genial Investimentos, Eduardo Nishio e Bruno Bandiera, com a continuidade dos prejuízos, é provável que novas dívidas sejam emitidas, “o que tende a pressionar o resultado líquido da companhia mais a frente, aumentando a incerteza sobre o ROE (retorno sobre o patrimônio) de longo prazo”.

Até o momento, o IRB  já teve que realizar duas emissões de debêntures para recompor seu capital regulatório, além de um aumento de capital de R$ 59 milhões. As emissões de 2020 totalizaram aproximadamente R$ 827 milhões.

Em relatório do Santander publicado em 31 de maio, o CEO do IRB, Raphael de Carvalho, afirmou que no caso da empresa optar pelo aumento de capital, o aumento de R$ 1,2 bilhão aprovado em assembleia geral é suficiente.

“Entre as possibilidades, pode ser via aumento de capital ou debêntures subordinadas”, diz trecho do relatório.

Luiz Barsi
Luis Barsi é um dos investidores do IRB (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

Mas qual é o problema do IRB, afinal?

Segundo Amaral, do Inter, o problema do IRB é outro: os contratos de cauda longa.

“O que estamos vendo neste ano é uma questão mercadológica. Observamos o setor de seguros, principalmente no agro, onde a empresa tem exposição, e o segmento explodiu em sinistralidade e consequentemente a seguradora precisa cobrir esses riscos”, coloca.

Para ele, não há o que fazer quando isso ocorre. “É uma questão de paciência, de esperar. O aumento de capital pode se fazer necessário para que eles consigam aguentar o tempo necessário para essa cauda ir se amortizando”, diz.

Já Daltozo, da Eleven, afirma que a limpeza no balanço, após as fraudes contábeis, está levando mais tempo que o previsto, o que impede a corretora de ter uma visão mais otimista para a empresa.

“Você tem contratos de três, quatro anos e precisa cumprir. A gestão anterior tinha uma estratégia agressiva de crescimento, principalmente fora do país, que depois se mostrou uma estratégia ruim”, observa.

Como está a gestão

Amaral avalia que a gestão do IRB, que assumiu em outubro de 2021, está fazendo a lição de casa, com um trabalho bem feito de reduzir exposição no exterior.

“Isso tem surtido efeitos. Quando olhamos o balanço, tirando os efeitos pontuais, vimos o resultado operacional um pouco melhor. O que era para ser feito em termos de transparência, eles estão fazendo. Estão vendo as oportunidades em termos de imóveis e usando o que tem para ajustas as contas”, afirma.

Com a mudança de foco, a administração do IRB espera que a carteira brasileira responda por pelo menos dois terços dos prêmios emitidos, e o terço restante para as operações internacionais (especialmente na América Latina devido a semelhanças geográficas).

É hora de comprar IRB?

Apesar disso, o Inter reafirmou a recomendação neutra para o IRB, com preço-alvo de R$ 3.

Segundo o analista, o mercado internacional olha a precificação de uma resseguradora 1x o patrimônio.

“Como o IRB tem patrimônio de quase R$ 4 bilhão, a empresa negocia bem próximo desse número. Eu não enxergo ainda uma oportunidade. Enxergamos com cautela”, diz.

Para ele, a resseguradora não deve ter resultado animador no segundo trimestre, mas fora os efeitos pontuais, tudo será dentro do esperado.

A corretora vê prejuízo de R$ 37 milhões, revertendo o lucro de R$ 80 milhões apresentado no primeiro trimestre, que havia trazido efeitos não-recorrentes, mas ainda assim melhor que o reportado no segundo trimestre.

Na visão do Santander, o resultado futuro do IRB é incerto. O banco tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 4,50.

Já a Genial diz que todas alternativas para colocar a empresa no eixo, de certa forma, são nocivas ao acionista minoritário por conta de uma eventual diluição ou por uma menor rentabilidade final. A indicação é de venda.

Por fim, o consenso do mercado da Reuters aponta que de sete analistas, quatro possuem recomendação de venda, três de neutralidade e nenhum de compra. O preço-alvo médio é de R$ 3,28.

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Money Times publica matérias informativas, de caráter jornalístico. Essa publicação não constitui uma recomendação de investimento.

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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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