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Bancar dia a dia e depreciação é pouco para a pecuária. Vem aí ciclo de consolidação em grandes grupos

28 ago 2022, 9:33 - atualizado em 31 ago 2022, 9:47
Boi Gado Agropecuária Agronegócio
Aumento de carne por hectare e depois avanço em novas áreas estão no rumo da pecuária moderna

Como o Brasil se tornou a maior potência exportadora de carne bovina do mundo, e o maior produtor de boi, desde os primeiros anos da década de 2020, e seguiu crescendo ainda com milhares de pecuaristas longe de produzirem dentro dos padrões de qualidade e de modelos contábeis que se exigem para manter os negócios em pé?

Esta é sempre a dúvida quando se debruça sobre as tendências da pecuária de corte brasileira, baseadas em estudos que indicam um novo ciclo de êxodo, uma vez que, na aparência, os empresários do ramo foram mais resilientes que os colegas da agricultura.

Quando se verifica que a escala produtiva de grãos exigiu a consolidação em grandes corporações, tirando milhares de pequenos e médios produtores do campo – ou a permanência destes apenas em bases cooperativistas no Sul do País -, nem sempre isso ficou muito claro em relação à produção de bois, que também passou por transformações significativas. A formação dos grandes players frigoríficos, também no início do século 21, foi um deles.

Uma das respostas está no perfil de ambos os macros setores. A agricultura de alta produtividade em commoditiessoja, milho e algodão, por exemplo – já nasceu diretamente pelo flanco exportador e mais da metade do produzido é enviado para fora. O destino chinês é o principal, com exceção do milho.

No caso da pecuária bovina, o tamanho do mercado interno já representou mais de 50% da produção de carne – hoje é 35%, aproximadamente – e deu sobrevivência à maior parte daqueles pecuaristas, ainda que se encontre parte da resposta, relativa à expansão, no mercado externo em direção à China, como as commodities.

A outra conclusão, e que não poupa também um grande número de produtores que vêm mostrando ganhos de competitividade, é dita por Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea/Esalq:

“Cerca de 56% ainda conseguem pagar o dia a dia e os custos da desvalorização dos ativos [depreciação]”.

É muito pouco para as condições atuais.

Consolidação em grande grupos

A avaliação do analista e professor da Unesp segue em linha com o verificado pela Embrapa, que aponta que metade dos cerca de 1,4 milhão de pecuaristas vai deixar a atividade até 2040.

Parênteses: esses números macros do setor devem ser relativizados, porque há milhares que atuam com pouco mais de 20 cabeças de gado, como também contabiliza o IBGE, e nem devem ser considerados nos estudos porque estão abaixo da linha de sobrevivência.

De todo modo, produtores que estão naquele patamar mínimo não vão avançar na busca por mais escala por hectare – hoje na média crítica de 1,2 @ -, reduzir custos e seguir mais tecnologia em genética, explica Bernardino de Carvalho.

E uma onda de consolidação deverá se apresentar, de certa maneira copiando o setor de grãos no Centro-Oeste.

“Num primeiro momento, os que estão num grau acima vão ganhando mais produtividade e, num segundo momento, vão ter precisar avançar nos vizinhos”, diz, fazendo menção a um ciclo de arrendamentos que acontecerá nos próximos tempos.

A situação é mais desafiadora para o mercado interno. Obviamente não terá espaço para todos na exportação, que deve ficar com 65% da produção de 8,1 milhões de toneladas (equivalente carcaça) este ano. O menor índice em 20 anos, segundo a Conab.

No 1º semestre, foram embarcadas 932,3 mil/t (70% para China), 27% superior a janeiro a junho de 2021, que representaram mais de R$ 5,6 bilhões.

O ganho de produtividade será mais determinante do que para aqueles que já estão situados no fornecimento para carne ao exterior.

A questão é como esse contingente de produtores vai conseguir, com o consumo caindo cada vez mais, abaixo de 25% per capita ano, o menor da série histórica contabilizada desde 1996.

As contas, pelo preço da @, não fecham vis-à-vis os custos da atividade, especialmente em rações, e, mais ainda, sem capacidade de investir no principal insumo, a reposição de gado de qualidade que dê suporte à produtividade.

Em paralelo, JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), para falarmos apenas no três grupos dominantes hoje, investem cada vez mais em gado próprio, aumentando seus confinamentos. Deverão pressionar ainda mais as cotações na medida em que a oferta da casa crescer.

*Erramos: as exportações de carne representam em torno de 25% do total de carne produzida e não como consta do texto acima.

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Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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