Banco do Brasil (BBAS3): BTG passa ‘tesoura’ em projeções (e dividendos)

O Banco do Brasil (BBAS3) deverá ter números ainda mais fracos, vê o BTG. Em relatório, o banco cortou as projeções para o resultado do segundo trimestre, que será divulgado no dia 14 de agosto.
Segundo os analistas, a situação do agronegócio, que virou uma dor de cabeça para o banco, em meio ao aumento de recuperações judicias no setor, continua ruim.
Houve deterioração a carteira de crédito agro nos meses de maio e junho.
Dessa forma, o BTG cortou a projeção de lucro líquido para o segundo trimestre em 23%, para R$ 5 bilhões, com ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de 11,1%, e 20% em 2025, a R$ 23,5 bilhões, com ROE de 12,5%.
E não só isso. O banco espera que, juntamente com os resultados, o BB revise seu guidance de lucro líquido ajustado, “que estimamos agora entre R$ 21–25 bilhões”, além de uma redução do payout (fatia que o banco distribui para acionistas) provavelmente para 30%.
Atualmente, o payout do BB está em 40%.
“O problema é que, quanto mais aprofundamos nossa análise, mais acreditamos que nossas estimativas ainda estavam otimistas demais”, disse.
O BTG vê lucro líquido de 2026 em R$ 28,2 bilhões (ROE de 14,2%), 10% abaixo do consenso.
“Apesar do múltiplo P/BV (preço sobre o valor patrimonial) atual parecer “barato” em 0,63x, os lucros significativamente menores e a redução do payout levam a um dividend yield estimado de apenas 5,6% em 2025, abaixo do patamar de Itaú (ITUB4)”.
Ainda segundo os analistas, a visibilidade segue limitada devido ao grande volume de empréstimos agro vencendo nos próximos meses, o que pode gerar desfechos bastante diversos dependendo da capacidade de pagamento dos produtores.
A recomendação é neutra, enquanto o preço-alvo foi cortado de R$ 30 para R$ 24.
Tempo ruim para o agro
Os analistas recordam que entre 2020 e 2023, a carteira de crédito do BB voltada ao agronegócio cresceu a um CAGR (taxa de crescimento anual composto) robusto de 20%.
Por outro lado, o endividamento dos produtores também disparou.
Tudo somado, veio a tempestade perfeita, com crescimento acelerado, preços em queda e clima.
“Isso ocorre tanto por fatores cíclicos quanto estruturais — impactando diretamente os resultados do banco e exigindo novas revisões de expectativa”.
Mudanças contábeis impostas pela Resolução 4.966, que determinou exigências maiores de provisionamento para o crédito rural, pioraram a situação.
Banco do Brasil: Vai demorar para recuperar
O BTG diz que há algumas razões que apontam para desafios estruturais no segmento agro do BB. Entre eles:
- O BB pode ter deixado de ser o banco principal de alguns produtores, o que o empurra para o fim da fila de prioridades de pagamento;
- segundo relatos do mercado, o BB utiliza armazenagem terceirizada para os grãos dados como garantia, o que enfraquece sua posição em caso de execução
- a Lei 14.112/20 permitiu que produtores rurais recorressem à recuperação judicial, impedindo a execução de hipotecas;
- muitos novos produtores passaram a cultivar soja atraídos pelos preços elevados nos últimos anos. Não são clientes tradicionais do BB e, diante de dificuldades, têm recorrido à judicialização sem receio de perder o acesso ao crédito subsidiado;
Como se não bastasse isso, a possibilidade de recuperação judicial no agronegócio também tem sido explorada por escritórios de advocacia que oferecem a judicialização como forma de reduzir passivos.
Algo que a gestão do BB sempre menciona em suas conferências de resultados.
“Em tese, por ser um setor com ciclos de aproximadamente um ano, esperávamos uma recuperação mais rápida. No entanto, se o contexto atual persistir, o banco ainda poderá ter de realizar provisionamentos significativos”.
Com isso, o BTG espera recuperação prolongada neste ciclo desafiador do agronegócio, com possível normalização em condições mais fracas — considerando o maior número de credores no mercado e os recentes entraves legais decorrentes dos pedidos de recuperação judicial.