Banco do Brasil (BBAS3) evapora de carteiras; analista vê exagero e janela de alta de 46%
O tempo fechou para as ações do Banco do Brasil (BBAS3) após um trimestre decepcionante levantar dúvidas sobre a sustentabilidade dos retornos do banco para os próximos períodos.
Não só o lucro ficou muito abaixo — R$ 7 bilhões, quando o consenso esperava R$ 9 bilhões — como a rentabilidade despencou para a casa dos 16%. Tamanha incerteza fez a própria instituição paralisar suas projeções (guidance) fornecidas ao mercado.
Diante dessa tempestade perfeita, que combina inadimplência no agronegócio com mudanças regulatórias, os analistas não titubearam: mudaram a chavinha do banco de compra para neutra.
Nas contas da reportagem, pelo menos cinco casas rebaixaram a recomendação: Bradesco BBI, Genial, BTG Pactual, Santander e XP.
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Já o Itaú BBA, que já estava mais pessimista, cortou o preço-alvo e adotou expectativas bastante conservadoras — ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de apenas 12%, o que deixaria a rentabilidade pior que a do Bradesco, por exemplo, que vem passando por um processo de recuperação.
Banco do Brasil de fora
Nas carteiras recomendadas, o cenário não é diferente. Segundo levantamento do Money Times, que analisou 18 carteiras de bancos e corretoras, em maio o Banco do Brasil foi indicado seis vezes. Para junho, esse número caiu para duas.
O Santander foi uma das casas que rebaixou o papel e removeu a ação da carteira de dividendos. Segundo a corretora, os motivos do corte são claros: resultados fracos e muito abaixo do esperado.
“As ações podem ficar sob pressão no curto e médio prazo, especialmente diante de revisões baixistas nas projeções de lucro e dividendos pelo consenso.”
O Santander revisou recentemente seu modelo para o BB, com três principais alterações:
- Redução da projeção de lucro para 2025 e 2026 em 20%;
- Aumento do custo de capital próprio em mais de 250 bps (pontos-base);
- Corte do ROE na perpetuidade para 16%.
A XP Investimentos também rebaixou a recomendação dos papéis para ‘neutro’ e reduziu o preço-alvo de R$ 41 para R$ 32 por ação.
A corretora ainda revisou para baixo suas estimativas de lucro líquido, cortando em 29% para 2025 (R$ 28 bilhões) e em 28% para 2026 (R$ 30 bilhões).
De acordo com a XP, essa redução nas projeções decorre, principalmente, de uma queda de 12% na margem financeira líquida (NII), combinada com um aumento de 9% no custo de crédito.
Dividendos ainda atrativos?
Se o BB perdeu espaço nas recomendações de compra, em termos de dividendos, continua sendo visto como uma opção interessante. Seis casas ainda recomendam o papel — uma delas, o Safra.
Segundo o banco, a estrutura de funding favorável do banco suporta o ciclo de aperto monetário, e as altas nas taxas de juros devem beneficiar a margem dos depósitos.
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Diferentemente de parte do mercado, o Safra sustenta que, mesmo com um cenário mais desafiador para o agronegócio, que pressiona os índices de inadimplência, o ROE do banco deve se manter acima de 20% em 2025.
“Adicionalmente, esperamos que o banco mantenha um bom fluxo de pagamento de dividendos.”
O dividend yield estimado para o BB é de 11,3%, segundo o Safra.
Exagero?
Mas, quando o mercado fica excessivamente pessimista, seria esse um bom momento para entrar no papel? Afinal, o BB segue sendo uma instituição sólida, atravessando um mau momento pontual.
De acordo com Régis Chinchila, da Terra Investimentos, sim, o mercado pode ter reagido de forma exagerada. Segundo ele, o movimento recente nas ações do BB reflete mais um ajuste de percepção do que uma deterioração efetiva dos fundamentos.
“O aumento da inadimplência, especialmente no crédito rural, foi visto com preocupação, mas está sendo monitorado de perto e não compromete, neste momento, a saúde financeira do banco.”
Ele lembra que o banco ainda projeta crescimento na carteira de crédito e mantém uma boa geração de resultados recorrentes, mesmo em um cenário de juros altos e volatilidade política.
“Historicamente, o banco tem demonstrado resiliência em ciclos adversos, e a atual precificação pode estar mais ligada ao medo de curto prazo do que a riscos efetivos de longo prazo.”
Janela de oportunidade?
Na visão dele, para quem olha além da volatilidade de curto prazo, o momento atual pode, sim, representar uma boa oportunidade.
Nos seus cálculos, o Banco do Brasil negocia a múltiplos atrativos — com P/L (preço sobre lucro) abaixo da média histórica e um dividend yield competitivo frente aos principais pares do setor.
Além disso, ele destaca que, mesmo sendo uma empresa estatal, a governança do BB tem se mostrado consistente.
O banco segue focado em rentabilidade e eficiência, com ênfase no segmento agro, que deve continuar sendo um motor relevante de crescimento, mesmo com as naturais oscilações cíclicas.
Ou seja, para investidores com perfil mais estratégico, que buscam retornos no médio e longo prazo, o momento atual pode recompensar quem sabe separar ruído de risco real.
Diante desse cenário, a Terra mantém a recomendação de manutenção das posições em BBAS3, com preço-alvo de R$ 32,00 para os próximos 12 meses, o que representa potencial de alta de 46%.
“Seguimos acompanhando de perto os indicadores de inadimplência e eficiência operacional, mas vemos espaço para uma reprecificação positiva à medida que os dados confirmem a resiliência do banco.”