Economia

Banco Mundial defende que BCs da América Latina adotem medidas não convencionais durante coronavírus

09 abr 2020, 20:09 - atualizado em 09 abr 2020, 20:12
coronavírus
Segundo o banco, o dano econômico vai permanecer nos dois próximos anos, a não ser que governos dos 26 países da região implementem programas focados para compensar os impactos (Imagem: REUTERS/Bruno Kelly)

Relatório do Banco Mundial defende que bancos centrais da América Latina e do Caribe deveriam adotar medidas “não convencionais” para evitar consequências permanentes do choque negativo decorrente do enfrentamento do novo coronavírus na região.

“Além de ferramentas tradicionais, como reduções nas taxas de juros, os bancos centrais devem adotar medidas não convencionais para evitar consequências permanentes de um choque negativo transitório, mas potencialmente grave”, diz o documento, obtido pela Reuters.

O relatório indica que o Produto Interno Bruto da região sofrerá reduções importantes em 2020 –entre 1,8% no cenário moderado e 5,5% no mais extremo– em razão do impacto da pandemia do novo coronavírus.

Segundo o banco, o dano econômico vai permanecer nos dois próximos anos, a não ser que governos dos 26 países da região implementem programas focados para compensar os impactos.

A instituição faz uma projeção de que a região –com exceção do Brasil– se verá “muito afetada” em termos de redução do PIB. “O Brasil, sendo uma economia maior e mais diversificada e fechada, com menor dependência de financiamento externo, ao menos para o setor público, é menos impactada do que a média”, diz.

Antes do coronavírus, a expectativa do banco era de que a média anual de crescimento do Brasil de 2020 a 2022 seria de 2,4%. Agora, a estimativa é que o PIB brasileiro vai perder em média de 1,9% ao ano, no cenário mais moderado, a 4,4%, no mais extremo, em relação à referência básica.

A título de comparação, a projeção para o crescimento de toda a América Latina e Caribe, que era de 2,1%, agora pode cair em 2,1% entre 2020 e 2022, no cenário mais moderado, em até 4,8%, no mais crítico deles.

O BID avalia que os BCs da região têm um papel importante a desempenhar na pandemia, citando que eles podem reduzir as taxas de juros –o que repercute na taxa de empréstimos para famílias e empresas. E considera que, para países que tenham grandes reservas e liquidez, “talvez” seja a hora de usá-las.

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No comunicado, o economista do BID diz que é importante “fornecer alívio aos lares mais vulneráveis que perderam suas fontes de renda” (Imagem: Agência Brasil/ Tania Regô)

A instituição afirma que as políticas macroeconômicas durante a pandemia devem ter como principais metas compensar trabalhadores, especialmente os mais vulneráveis, ajudar empresas a manter os trabalhadores e escapar do fechamento e apoiar bancos para execução de operações que ajudem na economia.

“Nossa região sofrerá um choque econômico de proporções históricas”, afirma Eric Parrado, economista-chefe do BID, em comunicado distribuído à imprensa.

“Os países deveriam estar salvando vidas, garantindo o distanciamento social e fornecendo recursos adequados a seus setores de saúde. Intervenções econômicas complementares e temporárias podem apoiar a economia durante os fechamentos parciais e organizados.”

No comunicado, o economista do BID diz que é importante “fornecer alívio aos lares mais vulneráveis que perderam suas fontes de renda, ajudando e dando incentivos para as firmas reduzirem as liquidações e evitarem demissões de funcionários e estendendo liquidez aos bancos para que eles façam parte da solução, tudo pode ir nessa direção”.

Isolamento social

Em um recorte do relatório específico sobre o Brasil, obtido pela Reuters, o BID defende a política de isolamento social. “O  achatamento  da  curva  é  essencial para que as autoridades tenham  mais tempo de se preparar para lidar com as pressões sobre a infraestrutura de saúde, em particular leitos de UTI e aparelhos de ventilação mecânica”, diz.

O documento sobre o Brasil destaca que atender a emergência de saúde é “absolutamente prioritário  neste  momento”, ao mesmo tempo em que frisa que é importante considerar também “o ambiente, político e social que emergirá, bem como as estratégias de reativação  e estabilização econômicas durante os próximos meses”.

Para o BID, no momento da eclosão da Covid-19, o Brasil não tinha completado o conjunto mínimo de reformas necessárias para garantir  sua  estabilidade macroeconômica e promover o crescimento  sustentado. Para a instituição, as bases da sustentabilidade fiscal  de médio prazo ainda não estavam postas.

Apesar disso, o banco afirma que o momento atual requer que “o aumento de  gastos  seja massivo, rápido e bem direcionado aos mais vulneráveis”.

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O BID diz que, neste contexto, é crucial traçar uma  estratégia de aceleração do crescimento que não aprofunde desequilíbrios estruturais (Imagem: Agência Brasil/ Rovena Rosa)

“Gargalos  ou  turbulências  institucionais  que  interfiram na  execução  de  medidas  neste  sentido  podem  produzir danos significativos  e  duradouros  à vida  de  milhões  de pessoas”, diz o documento, sem detalhar esses pontos.

“Será também importante recalibrar o foco para a agenda de reformas e desafios estruturais que limitam o desenvolvimento brasileiro, porém levando em consideração as necessidades específicas que irão surgir após um período de profunda expansão da atuação  governamental”, completa.

O BID diz que, neste contexto, é crucial traçar uma  estratégia de aceleração do crescimento que não aprofunde desequilíbrios estruturais,  principalmente de natureza fiscal e redistributiva”.

“Além de considerações  macroeconômicas (inflação, dívida  pública, contas externas), deve-se contemplar principalmente temas  microeconômicos sobre como realinhar incentivos produtivos, manter uma rede eficiente de proteção social e promover o bom funcionamento do mercado de trabalho”, defende a instituição multilateral.