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Bitcoin (BTC): Como a dinâmica da escassez e os ETFs mexem com o preço da criptomoeda

26 mar 2024, 17:16 - atualizado em 26 mar 2024, 17:16
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“É nítido, portanto, o descompasso entre oferta e demanda que ocorre atualmente, por isso o ajuste de preços do bitcoin que temos visto no mercado recentemente”, explica Theodoro Fleury (Imagem: Unsplash/ André François McKenzie)

São bons os prognósticos. Passados pouco mais de dois meses do lançamento dos ETFs de bitcoin (BTC), a captação registrada por esses veículos superou as expectativas mais otimistas, o que teve reflexos significativos no preço do ativo.

Na virada de fevereiro para março, o bitcoin (BTC) registrou sucessivos recordes em sua cotação, superando a máxima histórica de 69 mil dólares por unidade. Como consequência, o Bitcoin voltou a chamar a atenção, não só do público em geral, mas também de investidores mais sofisticados. Entretanto, poucos entendem de onde vem o seu valor e quão poderosa é a escassez do ativo.

A escassez do Bitcoin é um dos aspectos mais fascinantes que contribuem para o seu valor como ativo digital. Ao contrário das moedas fiduciárias, que podem ser impressas em quantidades praticamente ilimitadas pelos governos, o Bitcoin tem um fornecimento máximo predefinido de 21 milhões de unidades, de acordo com o código programado por Satoshi Nakamoto.

Esta característica inerente do Bitcoin foi estabelecida por seu criador como uma maneira de simular a escassez de recursos naturais, como o ouro, dando-lhe características de um ativo deflacionário. A restrição de oferta é garantida por regras criptográficas rigorosas integradas ao seu protocolo, que regula a criação de novos bitcoins através de um processo chamado “mineração”.

Bitcoin (BTC): Mais um halving a caminho

A mineração é um procedimento computacionalmente intensivo que envolve uma corrida algorítmica para que um dado minerador seja o primeiro a validar transações na rede e, em troca, receber novos bitcoins como recompensa. O sistema do Bitcoin está ainda programado para reduzir pela metade a recompensa dos mineradores a cada 210 mil blocos, ou aproximadamente a cada quatro anos, em um evento conhecido como “halving”. Este mecanismo reduz o ritmo em que novos bitcoins são criados e liberados no mercado como recompensa aos mineradores, acentuando ainda mais a sua escassez.

Isso posto, cabe traduzir algumas informações em números. Do total de 21 milhões de moedas que existirão um dia, 19,66 milhões já estão em circulação. Os 1,34 milhão de bitcoins restantes são minerados, hoje, ao ritmo de 6,25 unidades a cada dez minutos.

Supondo um novo bloco sendo adicionado à rede nesse intervalo, temos uma entrada em circulação de 900 novos bitcoins por dia, sendo que em pouco menos de um mês, por conta do já mencionado “halving”, esse ritmo cairá pela metade. Se no lado da oferta temos um cenário bastante restrito, a demanda pelo ativo Bitcoin se encontra em franca expansão.

O peso dos ETFs de bitcoin spot

Só nos últimos dois meses, após a aprovação dos ETFs de bitcoin “spot” nos Estados Unidos, apenas dois dos novos veículos, IBIT da Blackrock e FBTC da Fidelity, já adquiriram mais de 370 mil bitcoins, o que representa 1,9% da oferta circulante do ativo.

A captação líquida média nos dois primeiros meses de operação dos novos ETFs é de 249 milhões de dólares por dia, ou cerca de 4 mil bitcoins no preço atual. Esse fluxo é cerca de 4,4 vezes superior à quantidade que entra em circulação na rede todos os dias via recompensa dos mineradores, e, se essa média for mantida após o halving, teremos um fluxo de quase nove vezes a emissão diária de novas moedas.

É nítido, portanto, o descompasso entre oferta e demanda que ocorre atualmente, por isso o ajuste de preços que temos visto no mercado recentemente. Outros fatores nem sempre lembrados ainda contribuem para aumentar a já severa escassez do ativo.

Existe a velha questão dos bitcoins cujas chaves privadas foram perdidas, que, pelas estimativas mais precisas, chegariam a 17% da oferta total. Há ainda o fato de que praticamente dois terços dos bitcoins não se movimentam na rede nos últimos doze meses, mostrando que os grandes detentores não estão dispostos a vender, mesmo com a alta recente de preço. No lado da demanda, temos o fator Michael Saylor, que através da MicroStrategy vem comprando uma média de 60 mil bitcoins a cada doze meses, moedas que muito provavelmente sairão da oferta circulante.

Por fim, temos a provável mudança das regras contábeis para que empresas abertas norte-americanas carreguem bitcoin em seus balanços. Hoje, o Bitcoin é classificado como um “ativo intangível de vida indefinida”.

Isso significa que, ao contrário dos ativos tangíveis ou dos ativos intangíveis com uma vida útil definida, o Bitcoin não é amortizado. Em vez disso, ele deve ser avaliado ao seu valor justo no mercado no momento de cada relatório de balanço.

Se for determinado que houve uma perda por impairment, essa perda deve ser reconhecida no resultado do período. No entanto, não há reconhecimento de ganho quando o bitcoin se valoriza. Isso gera uma ineficiência que talvez esteja inibindo outras empresas de seguirem o exemplo da MicroStrategy de Saylor, e, com novas regras, talvez tenhamos mais uma onda de forte demanda pelo ativo.

Gestor e diretor de investimentos da QR Asset, Theodoro Fleury é graduado em Economia pela PUC-Rio, iniciou sua carreira no Banco BBM no ano 2000, e desde então teve passagens por fundos de investimento e grandes corretoras, tanto na área de varejo quanto institucional. De 2015 a 2019 liderou a mesa de opções e derivativos da filial brasileira da Tullett Prebon, maior corretora independente do mundo, focada 100% em investidores institucionais. Desde o final de 2016 dedica-se ao estudo do Bitcoin e demais criptoativos.
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Gestor e diretor de investimentos da QR Asset, Theodoro Fleury é graduado em Economia pela PUC-Rio, iniciou sua carreira no Banco BBM no ano 2000, e desde então teve passagens por fundos de investimento e grandes corretoras, tanto na área de varejo quanto institucional. De 2015 a 2019 liderou a mesa de opções e derivativos da filial brasileira da Tullett Prebon, maior corretora independente do mundo, focada 100% em investidores institucionais. Desde o final de 2016 dedica-se ao estudo do Bitcoin e demais criptoativos.
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