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Brasil negocia com chinesa Cofco investimento para recuperação e plantio de terras degradadas

12 abr 2023, 17:35 - atualizado em 12 abr 2023, 17:19

O governo brasileiro quer investimento estrangeiro para financiar a recuperação e o plantio de áreas degradadas para a agricultura de baixo carbono, e já atraiu o interesse da comerciante chinesa de produtos agrícolas Cofco International.

Segundo o assessor especial do Ministério da Agricultura e Pecuária Carlos Ernesto Augustin, a proposta de uma coparticipação da empresa, através de uma parceria privada, no financiamento de recuperação das terras degradadas foi apresentada durante a viagem do ministro Carlos Fávaro à China, há duas semanas, e no próximo mês uma missão da Cofco deverá vir a Brasília para iniciar uma negociação.

“Eles têm todo interesse. Seria a possibilidade de multiplicar a produção de grãos e garantir a exportação para eles”, disse Augustin à Reuters.

O modelo dessa operação –que valeria não apenas para a Cofco, mas quaisquer empresas estrangeiras interessadas em ajudar a financiar a recuperação das terras– ainda vai ser desenhado.

“Pode ser uma operação via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pode ser um contrato direto com os produtores, isso ainda a discutir”, explicou Augustin.

Uma das possibilidades é, por exemplo, a garantia de venda direta do que passar a ser produzido nas terras degradadas para as empresas que financiarem a recuperação, o que pode interessar diretamente aos chineses. Em 2022, o Brasil foi responsável por 22% de tudo que a China importou, especialmente na área de commodities.

O modelo de como funcionarão essas parcerias e também as exigências que serão feitas aos produtores estão sendo discutidas entre os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, que participa da discussão. Também deve entrar no debate o BNDES, que pode oferecer a captação de recursos para serem repassados posteriormente aos produtores.

Um dos passos iniciais é definir onde estão essas áreas degradadas e quais delas poderão entrar em um programa de recuperação com plantio de grãos.

Segundo Augustin, um estudo foi encomendado à Embrapa para que o levantamento mostre as áreas em três níveis, da degradação pura e simples até onde há pasto sendo utilizado, mas que pode também virar lavoura.

“Eu preciso saber onde estão, qual a topografia, o tipo de solo, o regime de chuvas… nem toda área vai servir para plantação ou é economicamente viável”, disse.

Além disso, há outro problema: terras desmatadas em regiões amazônicas, por exemplo, mesmo que tenham sido legalmente desmatadas ou tenham sido legalizadas, não devem entrar.

“Eu não posso pôr plantação de soja na Amazônia”, disse Augustin.

A intenção, ao menos em um primeiro momento, seria de concentrar o programa no Centro-Oeste, onde a plantação de grãos é forte e organizada, e também onde o desmatamento do Cerrado vem crescendo em números alarmantes e começou a chamar a atenção no exterior.

Em 2022, o desmatamento no bioma foi de 10.689 quilômetros quadrados, apenas mil a menos do que na Amazônia, de acordo com dados do Prodes Cerrado, um aumento de 25% em relação ao ano anterior.

Menos protegido que na Amazônia –em que propriedades precisam manter 80% da vegetação nativa, enquanto em regiões do Cerrado áreas de reserva ambiental são de 20%–, o bioma perdeu 33.444 km2 desde 2019. Na sua maioria, pela expansão da fronteira agrícola no chamado Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

“Não precisa desmatar mais um hectare para aumentar produção”, garante Augustin.

Outro estudo encomendado pelo Ministério da Agricultura é de custos para recuperação dessa áreas e o início da produção. O assessor faz as próprias contas e calcula entre 15 mil e 23 mil reais o custo por hectare, a depender se inclui apenas recuperação do solo e custeio, ou também maquinário.

Com a intenção de recuperar em média 2 milhões de hectares por ano, esse custo poderia ir de 30 bilhões a 46 bilhões de reais por ano, um valor muito maior do que o governo tem para investir. Daí a aposta nos investidores estrangeiros.

Para além dos produtores de alimentos, o governo mira também em europeus, com acordos no mercado internacional de carbono, que poderiam pagar pela compensação de emissões em seus países.

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