Brasil segue sem Nobel, mas histórias de quase-laureados marcam trajetória

Em mais de um século de existência, o Prêmio Nobel continua sendo um território não explorado por brasileiros. Nenhum escritor, cientista ou ativista do país saiu de Estocolmo (ou de Oslo, no caso do Nobel da Paz) com a medalha e o cheque milionário em mãos.
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Isso não significa que o Brasil não tenha chegado perto. Ao longo da história, não faltam exemplos de contribuições decisivas, nomes cotados e distinções alternativas que gravitam em torno da premiação mais prestigiada do mundo.
Medawar: Nobel nascido no Brasil, mas registrado como britânico
O caso mais emblemático é o de Peter Brian Medawar, laureado com o Nobel de Medicina em 1960. Nascido no Rio de Janeiro, filho de mãe britânica e pai de origem libanesa, mudou-se para a Inglaterra aos 13 anos, onde construiu sua carreira científica.
Junto de Frank Macfarlane Burnet, foi reconhecido pela descoberta da tolerância imunológica adquirida, avanço que abriu caminho para os transplantes modernos.
Oficialmente, a Academia Nobel o registra como britânico. Para muitos brasileiros, no entanto, permanece a dúvida: Medawar pode ou não ser considerado o primeiro Nobel “brasileiro”?
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César Lattes: o gênio preterido no Nobel
Outro capítulo marcante é o do físico César Lattes (1924–2005), figura central na descoberta do píon, partícula que comprovou experimentalmente a teoria das forças nucleares proposta por Hideki Yukawa, Nobel de Física em 1949.
Lattes trabalhou com Giuseppe Occhialini e Cecil Powell, realizando experimentos em grandes altitudes que foram decisivos para identificar o píon.
O problema é que, em 1950, o Nobel de Física foi concedido apenas a Powell, chefe do laboratório em Bristol. Lattes, responsável por parte essencial da comprovação experimental, ficou de fora.
A decisão gerou debates que persistem até hoje e, no Brasil, o episódio é lembrado como uma das grandes injustiças da ciência moderna.
Como forma de reconhecimento à sua importância, o CNPq batizou em sua homenagem a principal plataforma acadêmica do país: o Currículo Lattes, sistema que reúne e divulga a produção científica nacional.
Artur Avila: o “Nobel da Matemática”
Em 2014, o Brasil registrou um feito inédito. O carioca Artur Avila Cordeiro de Melo tornou-se o primeiro brasileiro a conquistar a Medalha Fields, principal prêmio da Matemática e considerado o equivalente ao Nobel na área.
Naturalizado francês, Avila é especialista em sistemas dinâmicos e acumula reconhecimentos internacionais, entre eles a Legião de Honra da França. Desde 2018, atua como professor na Universidade de Zurique, na Suíça, mantendo vínculos acadêmicos tanto no Brasil quanto na Europa.
Sua vitória colocou o Brasil no mapa da elite científica mundial em um campo onde o Nobel não atua: a matemática.
Mariangela Hungria: o “Nobel da Agricultura”
O Nobel se tornou também uma referência indireta para outras áreas do conhecimento que não foram contempladas pelo prêmio original. É o caso do World Food Prize, conhecido como o “Nobel da Agricultura”.
Em 2025, a distinção foi para a agrônoma e microbiologista Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa. Ela se tornou a primeira brasileira a conquistar o prêmio, no valor de US$ 500 mil.
Hungria foi reconhecida por sua pesquisa em fixação biológica de nitrogênio, tecnologia aplicada em milhões de hectares de cultivo no Brasil e que contribuiu para reduzir o uso de fertilizantes químicos. O prêmio já homenageou nomes históricos como Norman Borlaug, considerado o “pai da Revolução Verde”.
O futuro do Nobel brasileiro
De Medawar a Lattes, de Hungria ao presente, o Brasil segue sem um Nobel oficial, mas com histórias que orbitam a trajetória da premiação.
Por ora, o Nobel segue como um sonho nacional — distante, mas não impossível.