Money Times Entrevista

BV vê rentabilidade subir e entrega trimestre histórico; banco ainda sonha com IPO

11 nov 2024, 18:28 - atualizado em 14 nov 2024, 10:16
Banco BV
Entre os segmentos, o BV brilhou, de novo, no finamento de automóveis, onde é líder absoluto (Imagem: Divulgação)

O Banco BV, que é controlado pelo Banco do Brasil (BBAS3) e Grupo Votorantim, registrou o melhor trimestre da história, com lucro líquido recorrente de R$ 496 milhões, alta de 73,8%, e expansão expressiva de seis pontos percentuais no ROE (retorno sobre o patrimônio) recorrente, a 15%.

Em entrevista ao Money Times, o CEO, Gabriel Ferreira, explica que o BV colhe frutos do trabalho que se iniciou há quatro anos, quando reposicionou a marca e apostou na diversificação.

“Não é um resultado ad hoc, extraordinário. Ele tem uma estratégia por trás, isso que nos dá, inclusive, muita confiança de que esse novo patamar de rentabilidade veio para ficar”, diz.

Entre os segmentos, o BV brilhou, de novo, no finamento de automóveis, onde é líder. A carteira de veículos usados teve alta de 12,5%, a R$ 45,6 bi, enquanto a de outros veículos subiu 32,3%, a R$ 5,5 bi.

“No ano passado, batemos o recorde de originação, foram R$ 25 bi; este ano, já com um volume superior a isso, e agora no terceiro trimestre, bateu-se o recorde trimestral também, com 7 bi e meio de financiamento de veículos originados”, diz.

O banco também vê oportunidades em linhas de financiamento para energia solar para residência e plataforma de bank as a service para startups e fintechs, além de recebíveis de pequena e média empresas.

“A diversificação está a pleno pulmão, várias dessas carteiras já atingiram escala e rentabilidade e vão continuar empurrando o resultado do banco daqui para frente”, diz.

No período, a carteira de crédito total do banco somou R$ 90,4 bilhões, alta de 6%.

Banco BV
Gabriel Ferreira diz que o BV já opera como estivesse com capital aberto. Quando sai o IPO? (Imagem: Divulgação)

Apetite para crédito

Para o executivo, é necessário separar o cenário de crédito em dois: o estoque de pessoas endividadas no Brasil, que ainda alto e que é mais afetada pela alta dos juros. Porém, há outra parcela que está mais preparada para aproveitar o crescimento da economia, que pode superar as expectativas de 3%.

“Quando olhamos para o ano que vem, diria que é um cenário de desaceleração do crescimento, mas não de crise. Não vemos, como cenário base, uma recessão econômica ou uma disparada descontrolada da inflação. O PIB deve sair, talvez, de 3 para 2%; os juros devem subir, sim, mas não de forma brusca como já vimos no passado”, destaca.

O cenário muda de figura, contudo, para as empresas, já que o juro mais alto provoca impactos da saúde financeira das companhias.

“O que talvez preocupe é a manutenção do juro elevado por um período prolongado. Já estamos em um patamar de juros altos, e agora há uma tendência de elevação adicional. Isso pressiona as despesas financeiras das empresas e reduz o investimento. Na pessoa jurídica, portanto, temos um cenário que exige um pouco mais de cautela”, diz.

Mesmo assim, o CEO afirma que não trabalha com créditos diretos para pequenas e médias empresas, que costumam sofrer ainda mais com o aperto monetário.

“Os 10 maiores clientes de atacado representam menos de 3% da carteira total, o que configura um nível de pulverização de risco muito interessante”, coloca.

No trimestre, o índice de inadimplência manteve a trajetória de queda e recuou 1,1 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre de 2023, para 4,4%, puxado pela redução de 1,6 ponto percentual na inadimplência da carteira do varejo.

Com a menor inadimplência, o custo de crédito do BV teve queda de 12,7% no período, para R$ 1 bilhão. O índice de cobertura subiu de 155%, no terceiro trimestre de 2023, para 172% no terceiro trimestre deste ano. Já a evolução do índice Basileia foi de 0,8 ponto percentual, para 16,2% no período.

IPO em vista?

Com toda essa entrega de resultados, parte do mercado questiona se o BV pode quebrar a sequência negativa de dois anos sem IPOs (oferta inicial de capital, em português). Em 2021, o banco estava pronto para tocar o sininho da B3, porém teve que recalcular a rota após a pandemia da Covid-19.

“É um objetivo estratégico: se houver uma nova janela de mercado favorável, o BV está pronto. Encaramos essa prontidão como nossa missão, garantindo que, sob as óticas financeira, jurídica e operacional, o banco esteja preparado para acessar o mercado de capitais caso surja uma oportunidade favorável”, pontua.

O CEO diz ainda que o BV já opera como estivesse com capital aberto: divulga resultados trimestrais, tem auditoria externa, agência de rating e publica relatórios de sustentabilidade de forma transparente.

O que falta é ajustar o preço, o que não é nada fácil diante da alta da Selic e falta de procura de investidores. Neste ano, o IPO da Compass, que pertence a Cosan (CSAN3), foi adiado devido à demanda baixa.

“Historicamente, é difícil ter um mercado de IPO quando os juros estão altos. E, nesse momento, o juro está estruturalmente elevado no mundo, como uma reação ao pico de inflação que ocorreu após a pandemia e a guerra na Ucrânia”.

Muito mais agora que a Selic pode ultrapassar a barreira de 13%.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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