Caio Mesquita: Ganhando na prorrogação

O craque português Cristiano Ronaldo acaba de se tornar o primeiro bilionário do futebol. Aos 40 anos, ele ainda joga em alto nível, com contrato estimado em mais de US$ 400 milhões com o Al Nassr. Segundo a Bloomberg, seu patrimônio já passa de US$ 1,4 bilhão.
O mais impressionante aqui não é o número em si. É o que ele representa: longevidade, disciplina e consistência.
Mesmo não admitindo, já que ele próprio se intitula o melhor de todos, Cristiano Ronaldo não é o atleta mais talentoso da história. O que o distingue é a capacidade de manter um padrão quase sobre-humano de dedicação. Treina mais que todos, dorme cedo, come limpo, mede tudo, repete hábitos. Há vinte anos, ele entrega resultados.
O argentino Carlitos Tevez conta que, quando era companheiro de clube de Cristiano no Manchester United, normalmente chegava às 9h para treinar, mas o português invariavelmente já estava trabalhando. Certa vez, Tevez resolveu aparecer às 6h, para ver que horas seu companheiro chegava. Tentativa frustrada, pois CR7 já estava na academia para recebê-lo.
Toda essa disciplina virou ativo. E o ativo virou fortuna.
O mesmo vale para o dinheiro.
A pergunta mais importante do investidor não é “quanto posso render?”, mas “por quanto tempo consigo sustentar bons retornos?”.
Compounding é retorno elevado à potência do tempo, e o tempo é o que faz o trabalho pesado. A maioria não enriquece porque não aguenta esperar. O desafio nunca é o horizonte, é a resistência para permanecer dentro dele.
Como escreveu o autor Morgan Housel, há uma diferença entre ter um horizonte de longo prazo e ter a capacidade de suportar o caminho até lá. Todo mundo quer correr uma maratona; poucos suportam as dores do quilômetro trinta.
Nos investimentos, é o mesmo: suportar um drawdown de 30%, uma década morna, um ciclo de juros alto. O longo prazo é apenas uma coleção de curtos prazos, e a maioria desiste no meio do caminho.
Os movimentos de curto prazo do mercado, por serem aleatórios, são irrelevantes para nossa construção patrimonial de longo prazo.
Esqueça o market timing. Faça aportes regulares, ajuste pontualmente seu portfólio, tenha a paciência de sentar sobre as mãos, baixar o volume do noticiário diário e deixar o tempo fazer a maravilha dos juros compostos.
A riqueza não vem de genialidade, vem de resiliência.
Cristiano Ronaldo entendeu isso com clareza: o segredo não é brilhar rápido, é continuar inteiro.
A constância é entediante. O mercado convida à pressa. A vida, às distrações. Só que o tempo, e não o talento, é o verdadeiro multiplicador.
Cristiano Ronaldo jogou o jogo longo. E ganhou.