Caio Mesquita: Quem quer viver para sempre?

Nas últimas férias, decidimos em família passar alguns dias no sul da França, curtindo o verão europeu. A Côte d’Azur, além de ser um dos destinos mais concorridos da estação, tem outra fama: a de atrair celebridades do mundo todo. Não por acaso, meus filhos embarcaram cheios de esperança de encontrar algum famoso por lá.
As preferências eram divididas. As meninas sonhavam em ver algum cantor ou cantora de sucesso. Já meu filho torcia para conhecer um de seus ídolos do futebol.
Ironia do destino: quem acabou tendo sua expectativa atendida fui eu. Compartilhei um almoço a poucas mesas de distância de um dos maiores empresários do planeta.
Estávamos em um daqueles restaurantes festivos da orla francesa quando minha mulher me cutucou, chamando atenção para uma mesa animada perto de nós.
Discretamente, virei na direção apontada. Lá estava ele: Jeff Bezos. Sim, ele mesmo. Ao lado de Lauren Sánchez e alguns amigos. Uma cena improvável, que registramos em vídeo ao sair, sob olhares nada amistosos de seus seguranças.
Pesquisando depois, descobri que Bezos passava o verão no Mediterrâneo a bordo do Koru e do seu megaiate de apoio, o Abeona. Mais do que símbolos de luxo, esses barcos contam uma história maior. Bezos não está apenas navegando. Está perseguindo o elixir da longevidade.
O Koru, entregue em 2023 pela Oceanco, é o maior veleiro já construído: 127 metros de comprimento, avaliado em US$ 500 milhões. Piscina, decks generosos, estética clássica. O Abeona, ao lado, oferece suporte logístico com heliponto e infraestrutura completa.
Mas o que chama atenção não é o barco. É o próprio Bezos. Compare fotos dele no início da Amazon com as de hoje. Antes, um executivo nerd, com cara de workaholic. Hoje, aos 60 anos, está em forma, musculoso, bronzeado. Vitalidade de sobra.

Esse corpo não é só vaidade. É parte de um projeto maior. Bezos vem investindo bilhões na ciência da longevidade.
É o principal financiador da Altos Labs, que já mostrou ser possível reverter o envelhecimento em camundongos. Também apoia a Unity Biotechnology, focada em eliminar as chamadas células senescentes, as “células-zumbis”, que inflamam os tecidos e aceleram o desgaste.
No total, estima-se que empresários como Bezos, Sam Altman, Peter Thiel, entre outros, já tenham colocado mais de US$ 25 bilhões nesse setor. Publicações como o Financial Times já tratam o anti-aging como o “maior mercado do século XXI”. O New Yorker fala até na possibilidade de transformar a morte em “opção”.
Claro, há ceticismo. O Prêmio Nobel Venki Ramakrishnan alertou que o capital corre mais rápido do que a ciência. A pesquisa ainda engatinha. Mas a expectativa de vida saudável já está aumentando. O foco mudou: não é mais apenas lifespan (quantos anos você vive), e sim healthspan (quantos anos você vive bem).
E mesmo que não cheguemos a 150 anos, já se fala em prolongar a fase ativa da vida em 15 ou 20 anos. Isso muda tudo.
Porque aí entra a parte incômoda: viver mais pode ser bom, mas também pode ser perigoso. O risco maior não é morrer cedo. É viver tanto que o dinheiro acabe antes. O mercado já até batizou isso: outliving your money.
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Bezos, claro, não tem com o que se preocupar. Seu patrimônio cobre qualquer prazo que tenha de vida, tanto dele como de incontáveis gerações de herdeiros.
Mas nós, pessoas comuns, precisamos recalibrar nossos cálculos. Não dá mais para pensar em aposentadoria aos 65 e vida até os 80. Talvez tenhamos que planejar até os 100.
Isso exige ajustes: mais resiliência em renda passiva. Mais diversificação global. Proteção contra inflação. Estratégias dinâmicas que se adaptem a uma vida bem mais longa do que imaginávamos.
Assim como a ciência busca rejuvenescer células, cabe a nós rejuvenescer nossas estratégias. Carteiras rígidas envelhecem mais rápido do que seus donos.
A pergunta aqui é simples: se a vida se estender muito além do que imaginamos, você está preparado para financiar não 30 ou 40 anos de liberdade, mas um século inteiro?