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Chama o Max: Virando a chave

14 ago 2020, 15:13 - atualizado em 14 ago 2020, 15:13
“Magazine Luiza, Via Varejo, B2W e Totvs são alguns exemplos de empresas da ‘Nova Economia'”, diz o colunista

Por definição, ação de valor é aquela que está barata em relação a alguns indicadores financeiros da empresa como lucro, receita, patrimônio líquido e geração de caixa.

Para fazer essa análise relativa, utilizamos múltiplos, que nada mais são do que variáveis que relacionam o valor de mercado daquela companhia com as principais linhas do balanço patrimonial e do seu resultado.

Preço sobre lucro, preço sobre valor patrimonial e EV/Ebitda são alguns dos múltiplos mais usados pelo mercado.

Ao compararmos os seus múltiplos atuais com o seu histórico ou com outras empresas listadas, percebemos que o seu valor de mercado se encontra muito deprimido em relação aos seus fundamentos.

Companhias maduras e boas geradoras de caixa são consideradas ações de valor. Nos EUA, temos ExxonMobil, JPMorgan e Coca-Cola como fiéis representantes dessa categoria. No Brasil, podemos citar as empresas do setor financeiro e de energia elétrica como sendo as preferidas dos “value investors”.

Por outro lado, ações de crescimento tem como característica principal uma rápida expansão na receita e no lucro e geralmente negociam a um valuation esticado (estão caras). Amazon e Facebook são protagonistas deste grupo nos EUA e, no Brasil, temos a Magazine Luiza (MGLU3) como sua principal expoente.

O que temos visto recentemente é ações de crescimento destoando com valorizações expressivas, enquanto as ações de valor estão ficando para trás.

A pandemia exacerbou esse movimento, uma vez que as ações de crescimento se aproveitaram da mudança no padrão de consumo e se valorizaram aceleradamente, enquanto as ações de valor, combalidas pelas consequências econômicas do isolamento social, ficaram no marasmo.

Veja o gráfico da razão entre os dois famosos ETFs (fundos de índice) americanos: Russel Growth e Russel Value. Perceba como nos últimos meses a curva fica mais empinada. Isso reflete a alta das ações de crescimento, comandadas pelas empresas de tecnologia (“techs”) nos EUA.

Não à toa, o amplamente conhecido índice Nasdaq, concentrado em ações de empresas de tecnologia, sobe 38% nos últimos 12 meses, enquanto o tradicional índice Dow Jones, onde há mais ações de valor, mostra uma valorização bem mais módica, de 6%, no mesmo período.

Se trouxermos esta análise para o Brasil, veríamos algo semelhante. Após o grande susto com a pandemia e o Ibovespa atingindo as mínimas de março, vimos uma recuperação robusta das ações com perfil de crescimento.

Magazine Luiza, Via Varejo (VVAR3), B2W (BTOW3) e Totvs (TOTS3) são alguns exemplos de empresas da “Nova Economia”, cujas ações já se encontram em patamar de preço acima daqueles registrados antes de março, ou seja, pré-pandemia.

Em paralelo, Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Ambev (ABEV3), típicas ações de valor, ainda caem mais de 30% no ano.

Tenho pensado nos últimos dias. Será que essa distância entre valor e crescimento não está exagerada demais? Não seria hora de resgatarmos as ações de valor do fundo do poço?

Alguns investidores já estão virando a chave e fazendo o que chamamos de rotação de portfólio, quando se vende ações que estão caras (crescimento) e compram aquelas ações que ficaram para trás (valor).

Nos últimos dias, temos visto esse movimento acontecer tanto aqui quanto nos EUA. Lá fora, essa nova tendência se mostrou mais proeminente, já que em alguns pregões atrás vimos o índice Dow Jones subir e o Nasdaq cair em um mesmo dia, algo bastante incomum.

À medida que a recuperação econômica ganha força e traz uma sensação de ser mais sustentável, investidores buscarão ações que estejam com seu preço muito abaixo diante do potencial futuro de lucros.

Mercados
“É hora de virar a chave e buscarmos aquelas melhores oportunidades subavaliadas e que escondem um grande valor intrínseco no longo prazo”, afirma Max Bohm (Imagem: Pixabay/Audy0073)

É claro que aqui o Brasil possui as suas peculiaridades que contribuem para a gente não ver uma rotação de crescimento para valor de forma mais acelerada.

As ações de bancos vêm sofrendo com um fluxo negativo de notícias, envolvendo aumento de impostos e redução de spreads que poderão ser votados e instituídos nos próximos meses após aprovação no Congresso. É como se fosse uma espada encravada nas costas dos bancos e que não se consegue retirar.

Ambev, outro caso de ação de valor, também vem se deparando com um ambiente mais competitivo e de queda nas vendas, apesar das expectativas serem de uma maior racionalidade da concorrência e de melhora operacional nos próximos meses.

Só como exemplo bancos e Ambev respondem por mais de 20% do índice Ibovespa. Sabe o que isso quer dizer?

Que se quisermos ver a Bolsa voltar para um patamar próximo à sua máxima histórica, aos 118 mil pontos, as ações de valor têm que andar.

Entendo que, olhando para um horizonte de um a dois anos, podemos dizer que as ações dos bancos podem ser consideradas como uma barganha, o que todo investidor de valor deseja.

Portanto, acredito que estejamos em um momento ideal para rotação de portfólio. É hora de virar a chave e buscarmos aquelas melhores oportunidades subavaliadas e que escondem um grande valor intrínseco no longo prazo. Para que possamos alçar voos maiores na Bolsa, os retardatários precisam forçar uma ultrapassagem.

Estou dizendo para sair vendendo todas as ações de crescimento? Claro que não.

Ainda acho que elas têm potencial para se valorizar, no entanto, começar a botar o pé nas ações de valor pode ser um movimento interessante. Talvez seja o momento de sermos mais Warren Buffett (value investor) e menos Philip Fisher (growth investor) – alguns dos meus gurus e referências em ações.

Mas nunca se esqueça: uma carteira verdadeiramente diversificada possui ações de valor e de crescimento, juntas e misturadas. Ajuste o seu portfólio, sem abrir mãos dos benefícios da diversificação.

Sua rentabilidade agradece.

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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