Coluna Robert Lawrence Kuhn

China: Entenda o dilema da demanda interna e o futuro do consumo

23 out 2023, 13:48 - atualizado em 23 out 2023, 13:48
China consumo coluna
A nova fase do crescimento econômico da China enfatiza o desenvolvimento de alta qualidade e o consumo interno. (Imagem: REUTERS/Ellen Zhang)

Na semana passada, falei, de um modo geral, sobre como a China pode enfrentar os desafios econômicos. A partir desta semana, irei abordar o assunto sob diferentes óticas, como o setor imobiliário, a modernização industrial e as empresas estatais e privadas.

Desta vez, irei concentrar-me na questão da demanda doméstica e os desafios do governo chinês em resgatar a confiança do consumidor.

Sabe-se que a desaceleração da economia chinesa e os riscos no sistema financeiro da China aumentaram, à medida que o bem-sucedido modelo de crescimento econômico orientado às exportações e alimentado por investimentos em ativos fixos atingiu a idade de “aposentar-se”.

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Agora, a nova fase do crescimento econômico da China enfatiza o desenvolvimento de alta qualidade e o consumo interno. Esta é uma visão para o futuro. O motor desse modelo, claro, é a confiança do consumidor. Isso significa que as pessoas precisam gastar hoje, sem se preocupar com o que pode acontecer amanhã. Este é o dilema atual.

Qual o futuro do consumo na China?

A avaliação da cúpula do governo chinês, em uma reunião em julho, foi contundente ao reconhecer que a economia da China enfrenta novos desafios, sobretudo devido à demanda interna insuficiente.

Porém, as lideranças do país estão otimistas que a economia tem uma enorme resiliência e potencial para desenvolvimento, com os fundamentos sólidos a longo prazo permanecendo inalterados.

Tanto que, menos de uma semana depois, o Conselho de Estado anunciou 20 medidas direcionadas para restaurar e expandir o consumo doméstico. Entre elas, estão:

  • aliviar as restrições sobre compras de automóveis;
  • apoiar a demanda das pessoas pela compra do primeiro imóvel;
  • estimular o aprimoramento da moradia atual através de reformas residenciais;
  • impulsionar o turismo cultural.

As medidas são notavelmente específicas, visando, por exemplo, elevar o consumo de artigos de residência, eletrodomésticos e eletrônicos, móveis e outros itens capazes de desenvolver a ideia de “casas inteligentes e verdes”.

Para tanto, é preciso melhorar o serviço pós-venda dos produtos, facilitando a troca de objetos antigos por novos e fortalecendo a reciclagem de peças usadas, além de estimular o uso de novas tecnologias.

Na expansão da demanda interna chinesa, as prioridades são o consumo digital, especialmente o e-commerce e o “comércio verde”, voltado a produtos de baixo carbono e que promovem economia de energia.

Desafios à frente

A única forma de a economia chinesa alcançar um crescimento sustentável a longo prazo, é desviar a atividade econômica do caminho do investimento em direção ao consumo das famílias. Atualmente, a demanda doméstica corresponde a 38% do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

Trata-se de um patamar muito inferior à média global de 60%, enquanto nos Estados Unidos, o consumo representa cerca de 70% do PIB.

Assim, para além destas medidas de curto prazo e olhando para o longo prazo, a China divulgou em dezembro do ano passado diretrizes sobre a expansão da demanda interna de modo a promover seu desenvolvimento econômico até 2035.

As diretrizes enfatizam o consumo tradicional, indo desde roupas e alimentos até viagens, mas também desenvolvimento o consumo de serviços, sejam educacionais ou de cuidados com idosos e crianças, além de promover o consumo desportivo em massa e a economia compartilhada.

Para tanto, é preciso alcançar as metas de modernização da indústria, de revitalização agrícola e de urbanização. Por isso, a China pretende impulsionar o investimento no consumo – e não mais em ativos fixos – otimizando a distribuição, reforçando a qualidade do abastecimento e melhorando o sistema de mercado.

Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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