China

China: por que os protestos devem sair de cena antes do fim da Covid Zero; entenda

28 nov 2022, 14:43 - atualizado em 28 nov 2022, 15:35
População idosa está entre a mais preocupada com eventual flexibilização da Covid Zero, diante do alto número de mortes e baixo total de vacinados (Imagem: REUTERS/Tingshu Wang)

A China está diante de uma encruzilhada. De um lado, o fim de semana de protestos em várias cidades mostra a frustração e o cansaço de parte da população com as medidas restritivas de combate ao coronavírus. Agitações civis foram vistas em alguns bairros de Pequim, Xangai, Chengdu e Wuhan, entre outras, além de importantes universidades na capital. 

De outro lado, a China registrou nesta segunda-feira (28) o quinto dia seguido de recorde de casos diários de covid-19. As novas infecções já rondam a faixa de 40 mil – algo bem incomum para o padrão chinês. Daí então porque megacidades, como Guangzhou e Chongqing, lutam contra a pior onda de contágio da doença desde o início da pandemia, em 2020. 

Nessa queda de braço, a pergunta crucial é: quem vai sair de cena primeiro, a agitação popular ou a política de Covid Zero? “A probabilidade de a liderança mudar de rumo e acabar com a Covid Zero em resposta aos protestos é pequena”, resume o economista-chefe para Ásia da Capital Economics (CE), Mark Williams, em relatório. 

Para ele, recuar na estratégia de combate contra a covid-19 neste momento levaria rapidamente à sobrecarga do sistema de saúde, diante do aumento de infectados. “E isso seria ainda pior para as lideranças do que seguir firme com a Covid Zero”, avalia.

Protestos coloridos

Em contrapartida, uma mudança de rumo na política de Covid Zero que atendesse às demandas ouvidas durante os protestos abriria um precedente perigoso. Afinal, há quem diga que a agitação civil do fim de semana cheira à “revolução colorida” apoiada por forças externas, como as de 1989 e de 2019

Há quem diga que essa “multidão” exausta com a estratégia de combate contra o coronavírus estaria pedindo a renúncia do presidente chinês, Xi Jinping. Outros relatam que os protestos são pontuais e dirigidos às administrações regionais – algo bem comum na China. 

Porém, ainda não foi possível verificar o tamanho dos protestos, nem confirmar o caráter independente das manifestações. Tampouco há informações confirmadas sobre repressão ou prisões. 

O fato é que o descontentamento social não é majoritário. De acordo com uma pesquisa online organizada pela CGTN, grupo estatal de mídia, 85% da população apoia a tomada de medidas fortes de contenção para evitar o contágio da covid-19. 

Desses, 45% representam os idosos, que se mostram ligeiramente preocupados com um afrouxamento da Covid Zero, uma vez que boa parte ainda não foi vacinada e são responsáveis pela grande maioria das mortes pela doença. 

Vale lembrar que a China privilegiou a vacinação da força de trabalho. Aliás, a maioria das pessoas que protestaram durante o fim de semana estão na faixa dos 20 anos.

“A China não aceitará a morte de milhões de pessoas, especialmente idosas, como tem sido testemunhado – e quase esquecido – em outros países”, comentou o educador e consultor Gordon Dumoulin, em um post em uma rede social. 

Para ele, a China está lidando com um novo episódio de combate à covid-19. “Mas é preciso considerar as condições em que a China quer lidar com isso”, emenda. “Então, é a China e o povo chinês que devem lidar com isso, em vez da mídia internacional (ocidental) politizar para outros propósitos de fora (e de dentro)”, conclui o especialista.

Protestos saem de cena primeiro

Passado o fim de semana, é possível que haja menos pessoas dispostas a voltar às ruas para protestar. Ainda mais porque as áreas das manifestações foram isoladas. Além disso, a censura nas redes sociais chinesas, como WeChat, foi intensificada. 

“Tudo isso pode ser suficiente para os protestos fracassarem”, avalia Williams, da CE. Porém, se os protestos continuarem, com o foco se ampliando para a competência e legitimidade da liderança chinesa, em especial do presidente Xi Jinping, haverá forte repressão. 

“Muitos estão voltando a 1989 para uma comparação”, lembra o economista, referindo-se ao massacre na Paz Celestial. “Mas uma comparação com a repressão aos protestos de Hong Kong em 2019 parece ser melhor”, pondera, acrescentando que, à época, as autoridades reprimiram os manifestantes e tomaram medidas legais duras. 

Fim da Covid Zero

Dito isso, algumas concessões são possíveis. Entre elas, as regras de testes em massa e quarentena, nos moldes do que foi anunciado pelo governo central há cerca de duas semanas. Contudo, isso só tornará o trabalho das autoridades locais mais difícil, tornando latente o risco de novos protestos. 

Afinal, conter infecções sem testes nem quarentena é provavelmente impossível, como se tem visto por aqui no Ocidente.

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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