Economia

Chovendo dinheiro: Fed imprime US$ 300 bilhões para socorrer bancos, acendendo alerta para inflação

17 mar 2023, 18:37 - atualizado em 17 mar 2023, 18:42
Federal Reserve
Fed incorporou US$ 297 milhões ao seu balanço de ativos (Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst)

O Fed adicionou vultosos US$ 297 bilhões ao seu balanço de ativos desde a sexta-feira passada, marcando o maior incremento desde o programa Relaxamento Quantitativo (Quantitative Easing, em inglês) empregado pela autoridade durante a pandemia de Covid-19 para estimular a economia.

A nova montanha de dinheiro vem sendo despejada no sistema financeiro desde o colapso do Silicon Valley Bank (SVB), gatilho para uma crise de confiança que ainda faz vítimas no mercado global.

Dados oficiais mostram que, de lá para cá, os bancos americanos pegaram US$ 152.9 bilhões em crédito a juros descontados do Federal Reserve a fim de gerenciar os riscos de liquidez e impedir novas corridas bancárias.

Os bancos também pegaram emprestado US$ 11,9 bilhões do novo Programa de Financiamento Bancário (BTFP), criado no fim de semana pela autoridade monetária.

O BTFP permite que as instituições financeiras tenham acesso a empréstimos rápidos de curto-prazo do BC, contanto que elas possuam em seus balanços mais Treasuries (consideradas ativos de alta qualidade).

Por fim, US$ 142.8 bilhões foram emprestados para os novos ‘bancos pontes’ criados pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FIDC), órgão regulador americano, que substituíram a operação dos falidos SVB e Signature Bank.

Paralelo a isso, o Fed enxugou o seu portfólio de títulos da dívida americana e títulos lastreados em hipotecas na ordem de US$ 2 bilhões e US$ 7 bilhões, respectivamente.

Todos os fatores considerados, a soma global do balanço de ativos do Federal Reserve subiu aos referidos US$ 297 bilhões, desfazendo meses de esforço do BC de diminuir o seu balanço, como parte do aperto monetário que conduz desde março do ano passado.

Apesar de produzir um efeito semelhante, os novos empréstimos não se comparam ao QE empregado entre 2020 e 2021, uma vez que esse envolveu uma compra muito mais ampla de ativos no mercado, incluindo, criptoativos.

“O aumento no balanço de ativos é uma reflexão temporária dos saques experimentados por diversos bancos fragilizados” disse Andy Constan, CEO da Damped Spring Advisors.

Ajuda de Fed gerará mais uma onda de inflação?

Enquanto o Federal Reserve age para salvaguardar os bancos em apuros, despejando centenas de bilhões de dólares na economia, o temor é que essa medida prejudique o combate à inflação nos EUA, ao gerar, justamente, mais inflação.

Afinal, os Estados Unidos ainda lidam com o ‘boom’ inflacionário provocado, em parte, pela ‘festa de liquidez’ gerada pelo próprio Federal Reserve nos momentos mais agudos da pandemia.

Como resultado, um recorde de US$ 1,8 trilhões foi jogado na economia, inflando preço de ativos financeiros e materiais (o preço das casas, por exemplo, sobe 33% em 2 anos).

Para Constan, a nova enxurrada de crédito, auxiliada pelo novo programa de resgate BTFP, só se tornaria inflacionária caso as instituições que pegaram emprestado os recursos utilizem o crédito para criar dinheiro para investir ou estimular o consumo.

“Se eles mantiverem no Fed, não haverá efeito algum”, diz Casten.

A crise de confiança e liquidez envolvendo os bancos coloca a autoridade monetária em uma situação delicada em relação ao seu mandato, tirando liquidez com uma mão (aumento de juros) e diminuindo com a outra (estímulos).

O Fed se reúne na próxima semana para definir a taxa de juros dos EUA.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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