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Com ajuda da BRF, nova fase da Carne Fraca apura pagamentos de R$ 19 milhões a auditores

01 out 2019, 12:29 - atualizado em 01 out 2019, 14:07
De acordo com o MPF, a BRF decidiu colaborar sem que tenha firmado qualquer acordo de leniência (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal lançaram nesta terça-feira nova fase da operação Carne Fraca para apurar suspeita de corrupção praticada por auditores fiscais agropecuários federais em benefício da BRF (BRFS3), que colaborou espontaneamente com as investigações e revelou ter pago 19 milhões de reais a fiscais, informaram as autoridades.

De acordo com o MPF, a BRF decidiu colaborar sem que tenha firmado qualquer acordo de leniência, e não está sendo investigada como pessoa jurídica na operação. Pessoas da empresa envolvidas com os fatos à época, e que atualmente não estão mais na companhia, serão responsabilizadas, no entanto.

As ações da dona das marcas Sadia e Perdigão exibiam queda de 0,97% às 12h27, enquanto o Ibovespa tinha desvalorização de 0,46%.

O pagamento de vantagens indevidas para ao menos 60 fiscais ocorria em espécie e também por meio da inclusão de fiscais e dependentes em planos de saúde pagos pela empresa. O esquema funcionou até 2017, quando o grupo empresarial passou por uma reestruturação interna, de acordo com a Polícia Federal.

Deflagrada em março de 2017, a operação Carne Franca inicialmente jogou o setor de proteína animal do Brasil em uma grave crise de credibilidade com denúncias de irregularidades na fiscalização de frigoríficos, levando muitos países a suspenderem temporariamente as compras dos produtos nacionais.

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Operação Carne Franca inicialmente jogou o setor de proteína animal do Brasil em uma grave crise de credibilidade com denúncias de irregularidades na fiscalização de frigoríficos (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

De acordo com o MPF, a BRF passou a colaborar com as investigações no segundo semestre do ano passado. Em setembro de 2018, a Reuters revelou que os procuradores estavam buscando uma cooperação com a empresa em troca de penas mais brandas.

“Com o avanço das investigações, a BRF apresentou ao Ministério Público Federal, entre o segundo semestre de 2018 e o primeiro semestre de 2019, uma série de informações e documentos, bem como autorizou expressamente o uso desse material, no sentido de que existiram fiscais federais, ligados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que recebiam vantagens indevidas para que atuassem em benefício da companhia”, disse o MPF no pedido de medidas cautelares apresentado à Justiça.

A operação desta terça-feira teve como objetivo cumprir 68 mandados de busca e apreensão em 9 Estados: Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, informou a PF.

“O inquérito tem como foco principal a apuração de crimes de corrupção passiva praticados por auditores fiscais agropecuários federais em diversos Estados, em benefício de grupo empresarial do ramo alimentício, que passou a atuar em colaboração espontânea com as autoridades públicas na investigação”, disse a PF em comunicado.

“Há indicativos de que foram destinados 19 milhões de reais para os pagamentos indevidos. Os valores eram pagos em espécie, por meio do custeio de planos de saúde e até mesmo por contratos fictícios firmados com pessoas jurídicas que representavam o interesse dos fiscais”, acrescentou.

A BRF afirmou ao mercado que “nenhum de seus escritórios ou instalações ou de seus administradores foi alvo” de medidas de busca e apreensão na nova fase da operação Carne Fraca e que tem colaborado com as autoridades.

Já o Ministério da Agricultura reafirmou em comunicado à imprensa que tem “plena confiança em sua área de fiscalização agropecuária, já reestruturada, e entende que essa situação é uma exceção à regra e não compromete a efetiva atuação de seus 2.500 fiscais”.

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