AgroTimes

Preço da soja sobe ou cai com El Niño morno no Brasil em 2023?

26 ago 2023, 12:24 - atualizado em 26 ago 2023, 12:24
Soja
Soja no Brasil deve tirar proveito de El Niño moderado previsto por meteorologistas. (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O retorno do El Niño deve marcar a safra de soja brasileira 2023/2024. No caso, com chuvas favoráveis para o Sul do Brasil e outros países da região como a Argentina. Mas o fenômeno climático promete também precipitações irregulares em outras áreas brasileiras ao longo da temporada. Então, isso desafia produtores rurais, conforme meteorologistas e especialistas.

A maior umidade esperada no sul do continente pode resultar em um salto na safra no Rio Grande do Sul. Tradicionalmente, ele já é o terceiro maior Estado brasileiro para a soja. Também uma nova grande colheita no Paraná (segundo produtor do país). E na Argentina, a soja terá nova chance , após temporadas frustradas pela seca da La Niña.

As anomalias das temperaturas mais altas das águas do Pacífico Equatorial indicam um El Niño com intensidade de fraca a moderada. Segundo meteorologistas, isso garantiria uma nova safra recorde ao Brasil.

El Niño na soja

O líder global na produção e exportação da oleaginosa poderia produzir dessa vez mais de 160 milhões de toneladas. Embora, o fenômeno possa limitar as precipitações em outras áreas como Nordeste brasileiro.

Já a produção argentina pode quase dobrar após desastre da estiagem de 2022/23, que atingiu em partes o Rio Grande do Sul.

“Pelos mapas, é um El Niño bem clássico, com chuvas acima da média no Sul do Brasil e abaixo da média no Norte e Nordeste. De forma geral, num primeiro momento, trabalhamos com safra grande no Brasil e na Argentina, principalmente”, disse o analista de Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque.

“Os mapas são muito bons para Argentina, tudo leva a crer que tenhamos recuperação importante, o país deve produzir 45-48 milhões de toneladas”, acrescentou. Os argentinos produziram 25 milhões de toneladas na safra passada, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Preços da soja

Se as projeções se confirmarem para a temporada cujo plantio começa em meados de setembro em Mato Grosso — Estado brasileiro com produção equivalente à da Argentina –, os países sul-americanos, incluindo o Paraguai, poderiam responder por algo próximo de dois terços da exportação global de soja em 2023/24, estimada em cerca de 169 milhões de toneladas pelo USDA.

O cenário manteria pressionados os preços da soja, que já estão em patamares mais baixos após o Brasil ter colhido algo próximo 155 milhões de toneladas em 2022/23, apesar da seca no Rio Grande do Sul. A Argentina, embora não seja grande exportadora do grão como Brasil e Estados Unidos, voltaria a liderar o mercado global de farelo de soja –o país é líder em óleo de soja.

Mas o analista da Safras & Mercado, que tem uma projeção de 163 milhões de toneladas para o Brasil em 2023/24, pondera que há indicativos de que a partir de novembro a metade norte do Brasil, incluindo áreas do Centro-Oeste e Sudeste, pode ter chuvas abaixo da média, atrapalhando o desenvolvimento da safra.

“Já não estamos trabalhando com as mesmas produtividades da safra passada para Centro-Oeste e Sudeste… não quer dizer quebra de safra, mas os mapas ligam um alerta”, comentou.

Centro-Oeste

Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil, entidade que reúne os agricultores, avaliou que, dependendo do grau, o El Niño, pode atingir parte de Mato Grosso e Goiás.

“Agora, independentemente disso, temos de plantar… a gente imagina que tenhamos uma safra melhor, recorde… mas devido a preços mais baixos não vemos o produtor com vontade de ampliar a área plantada, como nos anos seguintes… então, se o El Niño comprometer mais, pode ser que a gente não consiga atingir os mesmos números deste ano”, disse ele.

Para a meteorologista Desirée Brandt, da Nottus, o clima mais irregular tende a afetar o Nordeste, incluindo Estados da região conhecida como Matopiba. Para ela, não vai ser o ideal, mas estará longe dos problemas registrados em 2015/16, quando houve um El Niño forte.

Brandt explicou que, como o oceano Atlântico também está mais quente, isso “protege o Nordeste de uma seca mais séria”.

“Dificilmente o Nordeste atinge a média histórica, mas isso não significa ausência total de chuvas, e o grande desafio vai ser o momento dessa chuvas.”

Riscos para a soja

O fenômeno climático tende a antecipar as precipitações de primavera no Centro-Oeste, mas elas virão irregulares, o que demanda alguma cautela de produtores no início do plantio para não se perder o trabalho de semeadura.

Os riscos são tanto para os volumes de chuva quanto para ocorrência de precipitações mais localizadas. “Ao longo de toda a primavera e todo verão, na maioria da vezes, vai acontecer dessa forma… De vez em quando a chuva pode ser espalhada, mas muitas vezes vai ser aquela chuva de manga (localizada)”, acrescentou a meteorologista.

Para Brandt, talvez o início do plantio seja até mais lento, se o produtor rural for plantar de forma cautelosa.

O agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Rural Clima, concorda que o El Niño “está longe” de ser forte e, por não ser “tão maduro”, trará chuvas irregulares até outubro.

“Vai chover muito pouco no mês de setembro, vai chover para um e não vai chover para outro, vai ter gente iniciando o plantio no dia 10 de setembro, tem gente que não vai iniciar”, disse ele, ressaltando que isso não significa ausência geral de chuvas.