AgroTimes

El Niño pode ser novo temor para bancos centrais; entenda

18 jul 2023, 19:49 - atualizado em 18 jul 2023, 19:49
Charles Schwab inflação El Niño
Além dos EUA, a Europa é outra região que pode ser afetada pelos efeitos do El Nino. (Imagem: REUTERS/Eric Gaillard/File Photo)

São raras às vezes em que eventos climáticos causam impacto material significativo nos mercados. Olhando para o padrão recente, porém, há uma exceção: o El Niño. E segundo a Organização Mundial de Meteorologia, há mais de 90% de que o evento, que gera um aquecimento das águas do Pacífico, chegue já nesta segunda metade de 2023.

Em relatório divulgado na última segunda-feira (17), a plataforma de serviços financeiros Charles Schwab fez um desenho minucioso do que os eventos climáticos extremos, potencializados pelo El Niño, podem representar ao desempenho dos ativos de risco.

Para o Hemisfério Norte, o estabelecimento do El Niño potencializaria a elevação das temperaturas na faixa setentrional do planeta. Cabe destacar que as principais economias do mundo — China, Canadá, Estados Unidos e países da Europa — estão sob o efeito de intensas ondas de calor, que colaboraram para a marcação do início de julho mais quente da história.

Diante de um cenário extremo, dois setores da economia podem ser os mais afetados: alimentos e energia. Mas de que modo esses efeitos seriam vistos para a economia? A resposta é: mais inflação.

  • Saiba qual é a melhor estratégia para o investidor tradicional começar no mercado cripto e surfar no ‘bull market’ que vem por aí: O analista Vinícius Bazan recomendou uma criptomoeda além do Bitcoin (BTC) que pode se dar muito bem com o cenário, veja qual é e como montar uma boa carteira cripto aqui. 

Disrupções na oferta causariam mais inflação

Assim como ocorreu nos primeiros meses da Guerra da Ucrânia, um El Niño intenso pode significar mais choques de oferta para serviços de energia e suprimento de alimentos.

“A inflação de energia poderia ser acelerada por baixos níveis nos reservatórios de água, suprimindo a geração de energia hidrelétrica. Com isso, a pressão sobre a oferta também transborda para o setor de gás e carvão”, explica o estrategista-chefe Jeffrey Kleintop do Charles Schwab.

As secas em hidrovias também pode pressionar o preço dos fretes, devido à necessidade de se trocar a logística dos produtos por rotas menos eficientes, como rodovias. O aumento do preço da gasolina e dos combustíveis fósseis.

Por fim, Kleintop faz menção a consequências que já estão em curso. “O arroz está atingindo a maior marca em mais de dois anos na Bolsa de Chicago, em razão de problemas de oferta causados pelo El Niño na Tailândia e no Vietnam”.

O agravante nestes cenários é que, diferente do choque da guerra da Ucrânia, o El Niño poderá exercer um efeito mais prolongado sobre a oferta das commodities agrícolas e energéticas. Assim como a La Niña, o El Niño dura cerca de um ano a um ano e meio.

El Niño pode trazer mais altas de juros

Se a luta contra o atual choque de inflação ainda parece longe do fim em diversas partes do globo, o temor é que a chegada de um El Niño intenso para o Hemisfério Norte coloque tudo a perder.

“Alguns bancos centrais poderão se ver na necessidade de manter juros mais altos, e por mais tempo, como reação a alta no preço dos alimentos, sobretudo, em mercados emergentes”, argumenta.

O estrategista-chefe do Charles Schwab lembra que o preço dos alimentos é atualmente um contribuinte expressivo da inflação na zona do euro. Nos Estados Unidos, a alta de gêneros alimentícios correspondem a 13% das medições de inflação; na Índia, esse peso chega a 50%.

O relatório, por fim, alerta que a alta de preços em alimentos pode obrigar a uma elevação dos salários, o que geraria maior pressão para a inflação subjacente.

Nesse sentido, cabe salientar a ausência de precificação de novas altas de juros no mercado. No caso americano, aliás, há a projeção de corte das taxas no início de 2024, um cenário que pode ser comprometido se a inflação voltar a crescer.

Efeito para os mercados

A julgar pelo retrospecto recente, a vigência de eventos extremos causados pelo El Niño podem ter reverberações também nos mercados financeiros. Em 2015, ano do último fenômeno, houve um sell off de 13% com relação aos ativos de risco. Veja o gráfico abaixo:

Line chart showing correlation between the year-over-year change of the MSCI World Index and the NOAA El Nino Southern Oscillation Indicator Index from January 2015 through January 2018.
A última temporada de El Niño fechou o tempo tamb´men os mercados [Imagem: Charles Schwab]
Para o estrategista-chefe do Charles Schwab, embora outras razões tenham mais correlação com a dinâmica dos mercados naquele ano, a chegada do evento climático extremo exerceu sua parcela de culpa.

“Duranto o El Niño, setores como agricultura e energia ficam sujeitos a uma maior volatilidade em razão de padrões imprevisíveis para o clima”, aponta o relatório, ao lembrar que a fraqueza dos setores de energia e materiais foi a principal liderou a queda do mercado de ações entre 2015 e 2016.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.