Mercados

Como a decisão de hoje do Fed deve quebrar o otimismo dos mercados

01 fev 2023, 13:24 - atualizado em 03 fev 2023, 14:32
Fed
Comunicado do Fed deve reforçar compromisso com combate à inflação (Imagem: Facebook/ Federal Reserve/banking.senate)

O Federal Reserve conclui nesta quarta-feira (01) o primeiro encontro monetário de 2023 sob duas certezas e múltiplas dúvidas.

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A primeira certeza se refere a uma nova alta na taxa-base de juros dos EUA, dessa vez em uma menor magnitude. Segundo as apostas do Fed Funds, que une as expectativas das instituições depositárias do BC norte-americano, há mais de 99% de chances de que a autoridade monetária anuncie hoje um aumento de 0,25 ponto-percentual (pp.).

Desse incremento, resultaria uma taxa entre 4,50%-4,75%, o maior patamar para a taxa de juros desde a crise financeira de 2008.

A segunda convicção dos mercados é a de que Jerome Powell não deverá abaixar o tom contra a inflação, na tradicional coletiva do presidente da autoridade.

Como destaca Beto Saadia, economista sócio da BRA-BS, “acredito numa linguagem hawkish (altista para juros), já que o Fed não vai querer transmitir a mensagem que essa nova desaceleração signifique leniência contra a inflação”.

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O mesmo diagnóstico é traçado pela equipe da Ajax Asset Management, que vê Powell “descartando um afrouxamento dos juros em 2023”. A projeção de pontos divulgada ao fim de 2022 fala em uma taxa terminal de 5%-5,15% ao fim deste ano.

Porém, a parte da decisão e do tom que deve acompanhá-la, os mercados tentam também se debruçar sobre as consequências que a continuidade do aperto monetário terá para a economia real americana. Haverá uma recessão leve? Ou um pouso forçado? Qual a taxa de desemprego que garantiria a volta da inflação para a meta?

A resistência dos goldlocks 

Desde a última reunião de 2022, quando o Federal Reserve anunciou um reajuste de 0,5o pp, tem aumentado o incômodo de uma determinada — e barulhenta — ala dos mercados com o tom obstinado da autoridade monetária em relação ao combate da inflação.

Apelidada de goldlocks (que pode ser traduzido como cachinhos de ouro), a ala defende que não haja novos ajustes na taxa de juros e que o efeito cumulativo das sete decisões de 2022 seriam suficientes para conduzir a inflação de volta à meta.

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Do contrário, o Fed poderia incorrer em um ‘sobreaperto’ das condições monetárias, jogando a principal economia do mundo em um cenário de baixa previsibilidade.

O argumento dos goldlocks é em boa parte sustentado pela desaceleração das últimas cinco leituras da inflação ao consumidor americano, que chegou a 6,5% ao fim de dezembro de 2022.

O otimismo com os dados inflacionários e a crença de que o Fed será convencido a voltar a pisar no acelerador (considerando até mesmo um corte de juros) representa, inclusive, a força motriz do rali que fez a Nasdaq  — a Bolsa das Techs — a ter o melhor janeiro desde 2001.

E até o momento, é esse otimismo que continua dando as cartas no mercado. Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, faz a ilustração desse clima de oba-oba:  “o mercado de juros curtos está desalinhado com o discurso geral dos membros do Fomc ao precificar um corte de 50 bps na taxa do Fed Funds ao fim de 2023”.

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‘É precipitado dizer que o Fed fez demais’

Mas a tese preferida do momento encontra também desafetos. Na avaliação de Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Family Office,  “a luta contra a inflação não está ganha ainda. Não podemos confundir a fase de refino dos juros, com o controle inflacionário.”

Em contraponto à perspectiva mais ‘dovish’ (baixista para juros), Fongaro projeta ao menos mais dois aumentos de 0,25 pp. na taxa, além daquele que deve ser anunciado hoje.

Para o economista da Julius Baer, extrapolar a leitura positiva dos últimos indicadores de inflação para os meses seguintes pode representar “um equívoco sério”, à medida que o principal recuo da métrica ocorreu por conta de variações negativas em componentes voláteis, como o preço dos combustíveis.

Esses mesmos componentes podem voltar a ser suportados com a reabertura da economia da China, por exemplo.

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Mais importante ainda, a persistência de um mercado de trabalho muito aquecido nos EUA — com a taxa de desocupação de 3,5% permanecendo em uma mínima histórica — pode continuar assombrando a inflação de serviços do país, ainda que esta tenha apresentado alguma melhora nos últimos tempos.

“A desaceleração mais contundente do mercado de trabalho é o elo que falta para convencer o Fed de que o aperto está concluído. É precipitado, portanto, dizer que o Fed fez demais”, diz Fangaro.

O economista da Julius Baer projeta que, até lá, os EUA ainda verão a elevação da taxa de desemprego para 5,2% no último trimestre de 2023. Isso significaria uma perda de 100 a 150 mil postos de trabalhos em ritmo mensal, do atual patamar de criação de 223 mil empregos em dezembro.

Assim sendo, o principal desafio de Jerome Powell para o comunicado de hoje será o de “recalibrar as expectativas do mercado sobre uma improvável ‘pivotagem’ para 2023”, diz Alex Lima, da Guide, trazendo os cachinhos de ouro dos mercados de volta para a realidade.

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Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
jorge.fofano@moneytimes.com.br
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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