Coluna da Ana Paula Debiazi

Como as startups estão se adaptando ao novo cenário econômico do Brasil e do mundo

15 jun 2023, 16:10 - atualizado em 15 jun 2023, 16:11
Unicórnios investimento startups venture capital
O momento é de cautela para entender exatamente qual a proposta da startup, se ela apresenta diferenciação, diz Ana Paula Debiazi  (Imagem: Pixabay/StartupStockPhotos)

O mercado de startups está dividido sobre se o momento atual será de investimento ou não. No começo do ano, vimos diversas matérias falando que este seria o ano da retomada, e outros dizendo que 2023 ainda seria de baixa nos investimentos.

O que temos de concreto até hoje?

No primeiro trimestre de 2023, o capital levantado pelas startups no Brasil caiu 86% quando comparado a 2022. Mas esse cenário não é apenas por aqui; no mundo, a queda foi de 53%, tendo como referência o mesmo período do ano passado.

Foram realizadas 91 rodadas de investimento em startups neste ano, o que movimentou o mercado com uma injeção de US$ 247,02 milhões. No mesmo trimestre do ano passado, o setor contabilizou 306 rodadas e US$ 1,7 bilhão em investimentos.

O mercado ainda aposta nos investimentos sendo alavancados pelo M&A, ou seja, grandes empresas ou corporações comprando participações ou a integralidade da startup.

Outra saída que os fundadores vêm buscando para manter a operação é o venture debt, que nada mais é do que operações de dívida.

É a resiliência das startups se mostrando cada vez mais evidenciada. Enquanto o mercado responde ao momento de instabilidade, com fuga de capital para fora do Brasil, os empreendedores encontram caminhos para sanar a dificuldade.

Nos três primeiros meses de 2023, o número de transações de dívida de startups já tinha registrado uma alta de 14%, na comparação com o período equivalente de 2022.

Alguns investidores se questionam se é o momento ideal para investir. Olhando o curto prazo, a macroeconomia brasileira, temos uma taxa de juros alta, que favorece o investimento em renda fixa; o governo aumentando gasto público e, consequente aumento de impostos para suportar seus gastos; inflação tendendo a alta pelo aumento dos impostos, principalmente quando falamos em combustíveis – que reflete em todos os setores e impacta o consumidor final.

No mercado global, ainda temos inflação em duas casas nas grandes economias, taxa de juros também alta, receio de recessão global e fatores geopolíticos em andamento.

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Mas, vale lembrar que as startups têm uma parcela relevante de seu valor atribuído ao longo prazo, portanto uma mudança nos juros pode afetar significativamente o crescimento da empresa.

O momento é de cautela para entender exatamente qual a proposta da startup, se ela apresenta diferenciação, qual o tamanho do mercado que ela está inserida e também a capacidade da equipe de levar esta empresa para o próximo nível.

As startups em estágio inicial possuem um valor de mercado ainda baixo, que pode trazer múltiplos significativos para seus investidores. Não é recomendável aportar todo dinheiro em uma única empresa, e sim diversificar portfólio, olhando para ventures builders que trazem mais segurança ao investimento!

Startups vivem momento de controle e rentabilidade

As startups, independente do estágio, precisam entender o momento atual e como caminhar até o mercado voltar a se aquecer. Claro que não podemos esperar a euforia dos anos de 2020 e 2021, mas um reaquecimento pré-pandêmico. Elas precisam esticar seu runaway, fazer o dinheiro durar mais, e isso se faz reduzindo custos, aparando as arestas. Focar no produto, entender o mercado, segmentar e atacar um nicho de cada vez.

O que era antes “crescimento a qualquer custo”, virou “crescimento com controle e rentabilidade”. Ou seja, os fundadores devem sim ser mais cautelosos em seus gastos, e buscar o breakeven, que antes era algo de longo prazo.
Para startups que já captaram, mas precisam ainda de fôlego antes de aumentar seu valor, as rodadas bridges se tornaram essenciais, e devem cada vez mais aparecer no radar dos investimentos.

Os estágios das startups voltaram a ser respeitados no momento da captação, tendo os valuations bem de acordo com estes estágios; e ainda, os valores das rodadas estão retomando as realidades das séries de captação. As rodadas de séries A, que estavam em torno dos US$ 8 milhões aos US$ 12 milhões, estão agora sendo efetuadas com tamanhos entre US$ 4 mil e US$ 6 mi. As Séries B caíram de US$ 20 milhões para US$ 10 milhões.

Uma dificuldade que estamos vendo no dia a dia são os fundos sem apetite para liderar rodadas. Eles estão esperando a entrada de outros players para dividir o risco. Com isso, os founders vêm buscando mais follow on do que um road show.

Existe dinheiro disponível, tanto em fundos de venture capital quanto em corporate venture capital, mas o investidor está arisco, está cauteloso. Isso faz com que os empreendedores e o mercado se ajustem. O que é muito positivo para ambas as partes. Há também a opção da dívida para manter o negócio, o que confirma aos investidores que os founders estão comprometidos com o negócio e dispostos a enfrentar o desafio – o que é muito positivo.

Economista e CEO da Leonora Ventures. Graduada em Economia pela UFMS com pós-graduação em Administração de empresas pela FGV, Especialista em Controladoria e Finanças pela FGV e MBA em Gestão de Negócios pela USP. Ana acumula mais de 15 anos de experiência em cargos de gestão, passando por grandes empresas de diversos setores. A executiva aborda temas como: investimentos em startups, investimento em inovação aberta, logística, varejo, gestão, entre outros.
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Economista e CEO da Leonora Ventures. Graduada em Economia pela UFMS com pós-graduação em Administração de empresas pela FGV, Especialista em Controladoria e Finanças pela FGV e MBA em Gestão de Negócios pela USP. Ana acumula mais de 15 anos de experiência em cargos de gestão, passando por grandes empresas de diversos setores. A executiva aborda temas como: investimentos em startups, investimento em inovação aberta, logística, varejo, gestão, entre outros.
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