Ibovespa Como é o mercado de carros elétricos na China; entenda
A venda de veículos elétricos (VEs), somando híbridos plug-in (VEHP) e de bateria (VEB), em 2022 atingiu a marca de 10% do total de vendas de carros no mercado global pela primeira vez. Enquanto na Europa a participação dos veículos elétricos representou 11%, as vendas de veículos elétricos na China atingiu 19% no mercado interno no ano passado. Ou seja, a China foi responsável por cerca de dois terços das vendas globais de VEs em 2022, de acordo com a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CAAM).
Para entender a situação atual do setor de VEs no mundo, é preciso recordar que em 2020 não houve grande crescimento nos registros gerais de carros novos. O mercado global de todos os tipos de carros foi afetado negativamente pela pandemia da covid-19 e pela crise econômica que se seguiu.
No entanto, 2020 acabou sendo um ano surpreendentemente positivo, com as vendas globais de VEs crescendo 43% em relação a 2019. Já a participação no mercado global da indústria de carros elétricos subiu para um recorde de 4,6% em 2020.
Em 2021 esse movimento se seguiu. As vendas de veículos elétricos dobraram para 6,75 milhões naquele ano, quebrando o recorde. Ao mesmo tempo, a quantidade de VEs vendidos em uma semana em 2021 foi maior do que quantos foram vendidos em um ano inteiro de 2012.
Vale lembrar que os VEs devem desempenhar um papel central no ambicioso objetivo da China em relação às metas de emissão zero de gases do efeito estufa definidas para até 2060. E a indústria automotiva no mercado chinês está claramente se empenhando para isso.
O mercado de VEs na China
Ao final de 2020, a China comemorava uma participação de mercado recorde de 6,3% VEs (5,1% VEB), seguido por 15% VEs (12% VEB) em 2021, e chegando a 30% VEs (22% VEB) em 2022. Em 2023, porém, é prevista uma desaceleração. Apesar disso, em 2022, mais de 5,2 milhões de novos carros elétricos plug-in de passageiros foram registrados no país, quase o dobro a mais do que um ano atrás e também é mais do que em todo o ano de 2021.
No gigante asiático, VEHPs somam 1.40 milhões de unidados (8% de 2022), enquanto VEBs somam 3,85 milhões de unidades (22% de 2022). Ambos somam no total de 5,25 milhões de unidades (30% de VEs 2022). Em 2022, as montadoras na China exportaram 3,398 milhões de veículos, um aumento de 55% em relação a 2021, dos quais 1,12 milhão de unidades eram VEs.
Além disso, dados do órgão da indústria automobilística mostraram que as exportações de automóveis da China pela primeira vez ultrapassaram 300 mil unidades. Com isso, o total de exportações em 2022 ultrapassou a Alemanha, logo ao lado do Japão, como o maior exportador de automóveis do mundo, com 3,70 milhões exportados em 2022.
Ralf Brandstatter, chefe da Volkswagen China, disse que os VEs continuarão se expandindo rapidamente e que a China pode em breve chegar a um ponto em que as vendas de veículos convencionais começariam a cair permanentemente. Afinal, os veículos tipo plug-in conquistam mais participação de mercado. Ele também expressou que no ano passado, um em cada quatro veículo que vendidos na China era um VEs. A previsão é de que este ano essa proporção será de um automóvel a cada três.
O chefe da Volkswagen acredita que as vendas de VEs atingirão um ponto de inflexão entre 2025 e 2030. A Volkswagen fica atrás dos fabricantes de veículos elétricos domésticos da China, como a BYD, em termos de vendas de veículos elétricos na China. Porém, a empresa acredita que o futuro é brilhante no mercado de veículos elétricos da China. O BYD Song (VEB+VEPH) ganhou outro título de best-seller, seguido pelo minúsculo Wuling Mini EV, BYD Han (VEB+VEPH), o Tesla Model Y e o pequeno BYD Dolphin.
A indústria de carros elétricos
Apenas uma década atrás, havia menos de 30 mil carregadores públicos em toda a China. Agora, centenas de milhares estão sendo construídos todos os anos. Mesmo para os padrões de crescimento da infraestrutura chinesa, é uma virada rápida. A aliança de carregamento de veículos elétricos da China informou recentemente que em 2022, 650 mil carregadores públicos foram construídos, elevando a China para um total de 1,8 milhão. Só na província de Guangdong, no sudeste do país, existem 383 mil. Isso é mais que o dobro do número de carregadores públicos em todos os Estados Unidos.
A China também instalou 2,6 milhões de carregadores domésticos particulares no ano passado. Porém, é a rede cada vez mais densa de estações de carregamento públicas que muda o jogo para os motoristas de EV da China. Afinal, mais de 900 milhões de pessoas vivem em áreas urbanas. A maioria dessas pessoas não mora em residências unifamiliares e muitas não têm vaga própria para estacionar. Portanto, instalar um carregador doméstico está fora de questão.
Com isso, o país está liderando outra métrica importante: a velocidade do carregamento. Motoristas de carros convencionais normalmente precisam de apenas cinco minutos para encher seus tanques de gasolina. Ou seja, para que os carros elétricos dispontem, é fundamental que as empresas reduzam o tempo de carregamento o máximo possível.
Dentro da frota de carregamento público da China, 40% são “carregadores rápidos” – bem acima da participação em outros países. A velocidade varia, mas na média, esses carregadores permitem que o motorista siga viagem depois de apenas 20 minutos, em vez de carregar durante a noite toda em um carregador lento.
Carros elétricos e baterias
Assim, a capacidade instalada de baterias de energia da China registrou crescimento constante em 2022 em meio a um boom no mercado de VEs, de acordo com a China Automotive Battery Innovation Alliance. A capacidade instalada de baterias de energia para VEs totalizou 294,6 gigawatts-hora no ano passado, aumentando 90,7% em relação ao ano anterior. Ao todo, 183,8 gigawatts-hora de baterias de íon-lítio foram instaladas em VEs em 2022, um aumento de 130,2% em relação a 2021 e representando 62,4% do total.
A expectativa é de que o mercado de baterias de veículos elétricos cresça de US$ 17 bilhões em 2019 para US$ 95 bilhões em 2028. Em 2022, a CATL forneceu melhorias para empresas como Tesla, BMW e Volkswagen. Como resultado, a empresa chinesa de tecnologia e fabricante de baterias ampliou sua participação de mercado de 32% em 2021 para 34% em 2022.
Já a coreana LG Energy Solution tinha 14% do mercado de bateria e concordou em reembolsar a GM US$ 1,9 bilhão para cobrir o 143000 Chevy Bolt recolhido devido a riscos de incêndio causados por problemas na bateria. Já a chinesa BYD surge com 12% do mercado de bateria, ultrapassando a Panasonic, hoje com 10%, tendo quase dobrado sua fatia de mercado no ano passado. A empresa apoiada por Warren Buffett também é a terceira maior montadora do mundo.
VEs na China em 2023
O mercado de veículos novos permanecerá estável na China em 2023, depois que os subsídios do governo chinês para veículos elétricos e os incentivos fiscais para veículos movidos a combustível foram encerrados ao final de dezembro, segundo a previsão da Associação de Concessionárias de Automóveis da China. Em 2010, Pequim começou a subsidiar compras particulares de veículos totalmente elétricos e híbridos plug-in.
Em 2022, os veículos elétricos eram elegíveis para subsídios que variavam de 9.100 yuans (US$ 1.321) a 12.600 yuans. Em contrapartida, os híbridos plug-in se qualificavam para um subsídio fixo de 4.800 yuans. Porém, o programa de subsídios foi encerrado em 31 de dezembro do ano passado.
Além disso, em 1º de junho de 2022, o governo chinês reduziu pela metade o imposto de compra para veículos movidos a combustível com motores de até 2,0 litros e com preço de 300 mil yuans (US$ 43.541) ou menos. No entanto, esse corte de impostos para 5% também expirou em 31 de dezembro de 2022.
Ainda assim, a demanda por VEs está puxando o mercado para cima. Então, a expectativa é de que essa disrupção continue em 2023 no maior mercado automotivo do mundo.
É esperado que a participação de VEs na China seja de cerca de 40% ao final de 2023, com os VEBs detendo cerca de um terço (29%) do mercado chinês. Estimativas levam a crer que VEBs ultrapassem o limite de 50% de participação até 2025. Além disso, há grandes chances de daqui a até três anos o maior mercado automotivo do mundo seja sustentado por veículos elétricos. A conferir.
*J. Renato Peneluppi Jr. é brasileiro, advogado, residente em Wuhan (China) desde 2010; Doutor em Administração Pública Chinesa pela HUST (华中科技大学); diretor executivo na China University Summer Schools Association (CUSSA); membro do think tank Center for China and Globalization (CCG) e representante do Global Young Leaders Dialogue (GYLD).
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