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Eleições 2022: Hora de se desfazer das estatais? Veja o que pensam os gestores

17 fev 2022, 15:03 - atualizado em 17 fev 2022, 15:33
Petrobras PETR3 PETR4
Na contramão dos riscos políticos, as ações das duas maiores empresas não privadas listadas na bolsa brasileira acumulam valorização de mais de 15% (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

As ações de estatais ganham riscos adicionais com a possibilidade de uma mudança drástica de gestão de governo em tempos de eleições.

Em anos eleitorais de elevada polarização, como este promete ser, o movimento dos papéis de companhias estatizadas, como Petrobras (PETR3;PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), é marcado por mais volatilidade.

Na contramão dos riscos políticos, as ações das duas maiores empresas não privadas listadas na bolsa brasileira acumulam valorização de mais de 15%.

Desde o início do ano, as ações da Petrobras registram ganhos de 17,79% (ordinárias) e 15,54% (preferenciais). Já as ações do Banco do Brasil apresentam retorno de 22,7%.

Segundo Alexandre Cancherini, gestor-analista de renda variável da Frontier Capital, o que está por trás do otimismo do mercado em relação às estatais, mesmo com a proximidade da corrida presidencial, é o risco-retorno atrativo.

BBAS3: ação para ter ou largar?

Posicionado em BB e Petrobras, Cancherini afirma que a ação do banco está em nível “bastante assimétrico” sob múltiplo preço/lucro.

“O BB está negociando no nível que negociou em momentos em que o Brasil potencialmente flertou com experiências heterodoxas na economia”, diz.

Banco do Brasil
Banco do Brasil negociada com desconto: justo ou exagerado? (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Cancherini lembra que, diferente da época do governo Dilma, quando apresentava a menor base de capital entre os bancões listados na bolsa, o BB não só virou o banco com maior capitalização entre as instituições financeiras privadas como também é o que tem a maior cobertura atualmente.

“O BB tem que negociar com desconto em relação aos [bancos] privados para valer a pena? Tem, sem dúvida. O ponto é que esse desconto pode ser justo ou exagerado. Na nossa visão, ele é exagerado”, completa o gestor.

Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset, reconhece que o desconto envolve o setor bancário em geral, e não somente o BB.

De acordo com o especialista da gestora, o BB pode estar mais barato, mas, em um ambiente macro, de maiores incertezas e elevada volatilidade devido à alta dos juros e à desaceleração econômica, a preferência recai sobre os bancos privados.

O BB divulgou os resultados do quarto trimestre do ano passado no início desta semana, com lucro líquido recorrente de R$ 5,9 bilhões, acima do esperado.

O resultado representa um crescimento de 15,4% em relação aos números do trimestre anterior e um salto de mais de 60% sobre um ano antes.

O consenso do mercado apontava para lucro de R$ 4,79 bilhões.

Fundamentos vs. Eleições

Cancherini e Leite concordam que ter posição em Petrobras agora, quando os preços do petróleo engatam uma tendência altista, é benéfico, até porque as eleições seguem sem grandes definições.

“Ainda está cedo para incorporar as eleições totalmente na precificação. Sabemos desse risco, ele é presente. Isso faz com que tenhamos, talvez, uma posição ajustada ao risco menor nesses ativos do que os fundamentos diriam”, afirma o gestor da Western.

Petróleo
Mercados estão “tateando” com Petrobras, buscando o ponto de equilíbrio entre indefinição eleitoral e fundamentos, afirma gestor (Imagem: REUTERS/Vasily Fedosenko)

Leite tem uma visão construtiva para o combustível fóssil e acredita que todas as petroleiras listadas na bolsa estão com valuation atrativo. Pelo “risco estatal”, Leite entende que, para se expor ao setor, vale a pena fazer uma cesta com Petrobras, PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3).

“Como ainda temos indefinições importantes, em vez de concentrar tudo na Petrobras, eu faço uma cesta”, explica.

Cancherini diz que o melhor a fazer agora é esperar as definições sobre quem serão os candidatos e quais vão ser as políticas econômicas de cada um. No momento, isso não está claro para alguns potenciais nomes à corrida presidencial – Lula, por exemplo, comenta o gestor.

“Ele não tem incentivo para se desgastar com a esquerda e seu eleitorado tradicional falando coisas diferentes do que tem falado”, afirma Cancherini. “Acho que o ex-presidente tem muito claro que o maior acionista da Petrobras é o governo”.

Para Leite, o mercado ainda está “tateando”, buscando o ponto de equilíbrio entre indefinição eleitoral e fundamentos.

No entanto, tanto Leite quanto Cancherini concordam que a Petrobras vive um momento melhor, com boa geração de caixa (o que traduz em bons dividendos) e redução de endividamento positiva.

“Quando você leva em consideração o dividendo e a dinâmica da commodity do petróleo, que imaginamos que está com uma tendência altista, a empresa mais que vale a pena. Isso faz da Petrobras um bom investimento, a despeito do cenário político”, conclui Cancherini.

Leite destaca outro fator positivo, que é o grande fluxo estrangeiro que a bolsa brasileira teve em janeiro – R$ 32,5 bilhões em ações, segunda maior entrada mensal líquida desde 2008 –, com concentração nas large caps.

“Eu tenho fundamentos bons da Petrobras, uma indefinição eleitoral e o gringo comprando Brasil através de Petrobras, Vale (VALE3) e bancos”, resume o gestor.

Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital, é mais cético com estatais em época de eleição.

“Estatal é sempre difícil. Como será a governança das estatais no ano que vem? É uma incógnita. Eu não sou muito animado com empresas estatais, não. Nem um pouco, aliás”, diz o gestor.

A Petrobras divulgará seus resultados trimestrais no dia 23 de fevereiro. A companhia apresentou o relatório de produção e vendas do quarto trimestre de 2021, com queda na produção de petróleo no Brasil por conta de paradas programadas em plataformas de alta produção e início do acordo de coparticipação de Búzios, mas aumento das taxas de utilização.

As vendas de derivados do petróleo da Petrobras no mercado doméstico totalizaram 1,848 milhão de barris por dia, alta de 4,7% ante o mesmo período do ano passado.

Houve recorde anual de vendas e produção de diesel S-10 em 2021, com aumento de 34,7% nas vendas e de 10% na produção.

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Por Diana Cheng e Renan Dantas

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