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Eletrobras: pare de festejar e, sobretudo, de comprar ações, alertam analistas

24 fev 2021, 13:14 - atualizado em 24 fev 2021, 17:09
Eletrobras
Muita água pra rolar: BTG Pactual e Safra têm dúvidas sobre força política do governo para aprovar privatização da Eletrobras (Imagem: Facebook/Eletrobras)

Desde que surgiram os primeiros rumores de que o governo trabalhava em uma medida provisória para privatizar a Eletrobras, no início da tarde de ontem (23), as ações da companhia dispararam. Nesta quarta, o movimento continua.

Às 12h21, as ordinárias (ELET3) subiam 4,10%, cotadas a R$ 34,01; as preferenciais classe A (ELET5) pulavam 25,18%, para R$ 86; e as preferenciais classe B (ELET6) subiam 5,9%, para R$ 34,31.

Isso mostra a euforia com que os investidores receberam a notícia. Afinal, o próprio presidente Jair Bolsonaro foi ao Congresso entregar a nova medida provisória aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O ex-capitão ouviu de Lira que pretende colocar a matéria em votação no plenário da Câmara já na próxima semana.

É claro que isso soa como música para os ouvidos do mercado, mas, se você já embarcou ou pensa em embarcar na onda compradora de ações da Eletrobras, o conselho do BTG Pactual e do Banco Safra é bem claro: não faça isso.

Calma, calma, calma…

Ambos divulgaram relatórios sobre a MP e, embora saúdem a iniciativa, aconselham cautela até que avanços concretos sejam obtidos. Tanto o BTG Pactual, quanto o Safra reafirmaram suas recomendações neutras para os papéis da Eletrobras, com preços-alvos de R$ 63 e R$ 32,7 para ELET6, respectivamente. O Safra também tem preço-alvo de R$ 35,10 para ELET3.

Os dois bancos listam motivos semelhantes para ter cautela e não pular de cabeça na tese da privatização da companhia. A primeira e mais óbvia é que, embora a MP já tenha força de lei, é preciso que seja aprovada por deputados e senadores em até 120 dias, sob risco de perder a validade. Logo, a pergunta que não quer calar é: Bolsonaro conseguirá aprová-la?

“Ainda não está claro como o Congresso receberá a proposta, já que o projeto anterior [de privatização da Eletrobras] não foi apreciado devido à oposição política”, afirma Daniel Travitzky, que assina o relatório do Safra.

João Pimentel, autor do relatório do BTG Pactual, vai pela mesma linha. “Relançar a capitalização [método escolhido pelo governo para privatizar a empresa] por meio de uma MP poderia ajudar a acelerar o processo, mas ainda há riscos de que o texto expire antes de ser aprovado, especialmente, considerando-se a resistência na tentativa anterior”, afirma.

Outro motivo de cautela é a golden share que o governo manterá na Eletrobras. O Safra observa que não se sabe quais assuntos poderão ser vetados pelo Palácio do Planalto com essa ação especial. Isso eleva os riscos de governança corporativa, segundo o banco, na medida em que a União poderia “interferir na gestão da companhia”.

Metendo o dedo

O alerta ganha ainda mais seriedade, quando se lembra que, desde sexta-feira, outra estatal sentiu a mão pesada de Bolsonaro. As ações Petrobras (PETR3; PETR4) derreteram 20% em um único dia, com sua decisão de trocar Roberto Castello Branco pelo general Joaquim de Silva e Luna na presidência da petrolífera.

A arremetida do ex-capitão contra o que considera “abusos” das empresas continuou no último fim de semana, quando ele afirmou que iria “meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também”.

Feitas as contas, o BTG Pactual continua estimando em 50% as chances de privatização da Eletrobras. O banco reconhece que, se o assunto realmente avançar, o preço justo das ações subiria para R$ 75. Por enquanto, contudo, é melhor aguardar até que se tenha certeza de que, após a eufórica disparada das ações, o mercado não tome um choque de realidade com mais uma tentativa que não saia do papel.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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