Câmbio

Entrevista: “Dólar está mais para R$ 7 do que R$ 5, e Lula piora tudo”, diz trader da Infinox Capital

08 mar 2021, 17:35 - atualizado em 08 mar 2021, 17:35
Lula
Um fantasma ronda o mercado: Lula presidenciável pressiona ainda mais o câmbio (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Com a experiência de quem opera, todo dia, os mercados futuros de câmbio, Victor Hugo Cotoski anda cada vez mais intrigado com o otimismo de investidores e gestores brasileiros. “Realmente, não entendo por que falam tanto de que o dólar baixará para R$ 4,80 ou R$ 5 até o fim do ano”, afirma, em conversa com o Money Times.

Para Cotoski, há uma tendência clara de que o real se deprecie, diante do dólar, e não o contrário. Embora brasileiro, o executivo vive em Londres e é o responsável pelos negócios da Infinox Capital na América Latina. A empresa é uma das maiores formadoras de mercado de câmbio e contratos futuros de moedas do mundo, com operações em 15 países.

Entre os grandes clientes de Cotoski, está a B3 (B3SA3). Há um ano, a Infinox foi selecionada pela dona da bolsa brasileira para ser a formadora de mercado de contratos com títulos americanos de dez anos (os famosos Treasuries) e dólar futuro.

Com o acordo, tornou-se possível, aos investidores brasileiros, negociar uma cesta de moedas estrangeiras em relação ao dólar.

Conjunção astral

Para Cotoski, uma série de fatores se alinham para desenhar uma tendência de valorização do dólar, frente ao real. De todos, o mais importante é eleição do democrata Joe Biden para a Casa Branca.

Segundo o trader, a política expansionista que marca os governos democratas tende a forçar o Federal Reserve a elevar os juros e, por tabela, atrair investidores de todo o mundo para os títulos americanos.

Ao se desfazerem de posições no Brasil e adquirirem dólares para investir nos EUA, o câmbio é pressionado. Tudo piora, quando se soma o cenário negativo da política e da economia brasileiras. “O dólar pode subir de 10% a 20% em 24 meses”, diz Cotoski. Isso colocaria o câmbio ao redor de R$ 7.

Victor Hugo Cotoski, da Infinox Capital
Perplexo: Cotoski, da Infinox, não vê motivos para otimismo com câmbio (Imagem: Divulgação/ Infinox)

Veja os principais trechos da entrevista concedida por Cotoski ao Money Times nesta segunda-feira (8).

Money Times – Por que governos democratas, como o de Joe Biden, tendem a coincidir com a alta do dólar?

Victor Hugo Cotoski – Essa é a conta que a gente faz, olhando de fora, pelo ponto de vista do investidor global. A maioria dos investidores e gestores de varejo tende a olhar o câmbio pela óptica local. O que mais leio, no Brasil, é que o dólar vai cair. Estão sendo muito otimistas.

Aqui em Londres, tenho lido cada vez mais sobre as relações entre democratas, republicanos e o câmbio. Historicamente, em governos democratas, o dólar tende a subir, por uma combinação de inflação e juros. Basta ver que, no governo Obama, os picos de inflação americana coincidiram com os picos de dólar caro.

MT – Por que isso acontece?

Cotoski – O governo Biden está tentando gerar inflação nos EUA, por meio da injeção de US$ 1,9 trilhão. Quando se gera inflação, a tendência é que os juros subam. O Federal Reserve não quer trabalhar com juros reais negativos. Então, a saída é elevar os juros. Isso é uma constante: em 70% dos governos democratas, os juros tiveram tendência de alta. Por isso, a possibilidade de o dólar subir no governo Biden é grande.

MT – E como a situação do Brasil potencializa a alta do dólar?

Cotoski – Some, ao movimento global do dólar, um cenário neutro ou pessimista para o Brasil, em que as reformas não avançam, ou avançam pouco, e a economia não decola. Creio que a ajuda de US$ 1,9 trilhão já está precificada nas ações de empresas americanas. Então, os investidores vão olhar para a curva de juros futuros dos Estados Unidos e verão uma tendência de alta. Em algum momento, a conta de US$ 1,9 trilhão terá de ser paga, e será com a emissão de títulos. Então, todo mundo vai correr para os Treasuries de 10 anos.

MT – Quanto o dólar pode subir, nesse cenário?

Cotoski – Se isso acontecer, o dólar poderá subir de 10% a 20% nos próximos 24 meses. Até antes, se alguns fatores forem acelerados. Então, estaríamos falando de um câmbio de quase R$ 7. E, se a situação piorar mais, nem vale a pena fazer contas agora. Por isso, não entendo porque estão falando tanto de dólar a R$ 4,80 ou R$ 5 no Brasil. O câmbio é cíclico, e o ciclo está mudando na direção de uma nova alta.

MT – Neste sentido, qual é o impacto da decisão do ministro Edson Fachin, do STF, de anular todas as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato?

Cotoski – Se esse cenário de Lula nas eleições do ano que vem continuar, será o pior cenário possível para a moeda brasileira. Alavancaria as perdas do real, sem dúvida alguma.

MT – Qual é a força do Banco Central brasileiro para segurar uma disparada do dólar?

Cotoski – O BC já provou que não mede esforços para conter a alta do câmbio. O Brasil tem pouco mais de US$ 350 bilhões em reservas internacionais. Mas, nesse ponto, o que já começo a ver é gestor reclamando do intervencionismo. Se o câmbio é livre, o que acontece, quando o gestor compra dólar para se proteger, e o dólar não sobe? Agora, é preciso saber o que o BC e o governo pretendem. Com um dólar caro, os exportadores brasileiros se beneficiam.

 

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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