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ETF de Bitcoin nos EUA e a consolidação do ouro digital

28 fev 2024, 14:05 - atualizado em 28 fev 2024, 14:06
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Alto volume de negociação e captação de ETF de Bitcoin “representa uma prova concreta do interesse institucional” pela criptomoeda, diz (Imagem: Pixabay/ EivindPedersen)

O último dia 10 de janeiro foi marcado pela esperada aprovação do primeiro ETF de Bitcoin spot nos Estados Unidos. No dia seguinte, dez veículos foram listados nas bolsas americanas, com captação líquida de cerca de US$ 720 milhões e volume negociado de US$ 4,6 bilhões no dia de lançamento – um sucesso estrondoso, em comparação com os lançamentos convencionais de ETFs naquele país.

Como classe de ativos, somando-se os 10 produtos listados, o volume atingiu um recorde absoluto para um ETF, seguindo tendência similar ao ETF de futuros, listado em 2021. Após a primeira semana de negociação, o volume total captado já ultrapassava os US$ 3 bilhões, com altíssimos volumes de negociação.

Dados os altos volumes mínimos para investimento no mercado primário das cotas desses ETFs (cerca de US$ 800 mil para os dois maiores produtos), é relativamente seguro crer que se trata principalmente de investidores institucionais alocando recursos nesses veículos. Isso representa uma prova concreta do interesse institucional pelo Bitcoin.

Coincidentemente, por poucos dias, a aprovação dos ETFs nos Estados Unidos não coincidiu com o aniversário de 15 anos do Genesis block, ou bloco gênese da rede Bitcoin, o primeiro bloco minerado na rede.

ETF de Bitcoin e descentralização do sistema financeiro

O bloco gênese, ao que tudo indica, minerado pelo próprio Satoshi Nakamoto, continha a mensagem: The Times 03/Jan/2009 Chancellor on the brink of second bailout for banks. A mensagem fazia alusão à manchete do jornal The Times publicada naquela manhã, segundo a qual o ministro das finanças do Reino Unido poderia se ver obrigado a socorrer os bancos britânicos pela segunda vez após a crise de crédito resultante da quebra do banco Lehman Brothers no final de 2008.

A mensagem contida no bloco virou um símbolo de alguns dos principais motivos que levaram à criação do Bitcoin: o desejo de montar um sistema financeiro descentralizado, que operasse fora do controle das instituições financeiras tradicionais e governos, e resistente à censura.



Isso é evidente na natureza peer-to-peer do Bitcoin, na ausência de um banco central, e na resposta implícita à crise financeira de 2008, como sugerido pela mensagem codificada no bloco gênese.

Passados quinze anos, a narrativa implícita no movimento que culminou com o whitepaper de Satoshi se mostra ainda bastante atual. Após um 2022 com sucessivos casos de falência envolvendo protocolos, fundos ou empresas ligadas ao ecossistema cripto, em 2023 vimos o Bitcoin voltar a florescer em meio a um ambiente de insegurança em relação à solvência de bancos.

Bitcoin: desintermediação não é o único atrativo

A arrancada para a forte valorização do Bitcoin no ano passado aconteceu justamente no momento em que vieram à tona os casos de falência do Banco Silvergate e do Silicon Valley Bank (SVB). Seja por motivo de uma corrida bancária, caso do Silvergate, ou de mau gerenciamento de suas reservas, caso do SVB, o episódio reforçou a tese de desintermediação e auto custódia presente no ethos do Bitcoin.

“Trusted third parties are security holes”, nos lembra Nick Szabo, um dos idealizadores do conceito de contratos inteligentes, em declaração que reflete um princípio chave no design de criptomoedas e tecnologia blockchain. A eliminação de intermediários é vista como uma forma de aumentar a segurança e reduzir vulnerabilidades.

Vale lembrar que, além da questão de desintermediação, o Bitcoin possui outras propriedades atrativas ao investidor, entre as quais a sua forte escassez programada, o que lhe rendeu a alcunha de “ouro digital”, e a significativa melhora no perfil de risco/retorno de carteiras diversificadas em relação a portfólios que não incluem o ativo. Independentemente do motivo, a longo prazo, muitos esperam que o início das negociações com ETFs de Bitcoin “spot” tenham o mesmo efeito no mercado subjacente que teve o GLD para o mercado de ouro.

O GLD foi o primeiro ETF nos Estados Unidos lastreado em barras de ouro depositadas em custodiantes autorizados. Em relação ao seu primeiro dia de negociação, em novembro de 2004, o total (em toneladas) de ouro depositado nos custodiantes aumentou cerca de 100 vezes, e a capitalização de mercado do ETF, que leva em consideração o aumento na quantidade de ouro, e o aumento no preço do ativo, multiplicou por quase 500 vezes. Em vinte anos, veremos o que aconteceu, mas a evidência histórica parece promissora para o ouro digital.

Gestor e diretor de investimentos da QR Asset, Theodoro Fleury é graduado em Economia pela PUC-Rio, iniciou sua carreira no Banco BBM no ano 2000, e desde então teve passagens por fundos de investimento e grandes corretoras, tanto na área de varejo quanto institucional. De 2015 a 2019 liderou a mesa de opções e derivativos da filial brasileira da Tullett Prebon, maior corretora independente do mundo, focada 100% em investidores institucionais. Desde o final de 2016 dedica-se ao estudo do Bitcoin e demais criptoativos.
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Gestor e diretor de investimentos da QR Asset, Theodoro Fleury é graduado em Economia pela PUC-Rio, iniciou sua carreira no Banco BBM no ano 2000, e desde então teve passagens por fundos de investimento e grandes corretoras, tanto na área de varejo quanto institucional. De 2015 a 2019 liderou a mesa de opções e derivativos da filial brasileira da Tullett Prebon, maior corretora independente do mundo, focada 100% em investidores institucionais. Desde o final de 2016 dedica-se ao estudo do Bitcoin e demais criptoativos.
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