Comprar ou vender?

‘Eu não tenho vontade de comprar renda fixa’, diz Buffett de Londrina; veja ações que gestor tem na carteira

13 nov 2024, 17:15 - atualizado em 13 nov 2024, 18:08
César Paiva, da Real Investor
César Paiva, da Real Investidor, também conhecido por Warren Buffett de Londrina pelo histórico da sua rentabilidade, se diz otimista com o mercado de ações, especialmente de algumas empresas

Quem esperava ver uma bolsa vigorosa em 2024, terá que aguardar mais. No ano, o Ibovespa, que tinha a expectativa de bater em 150 mil pontos, mais uma vez decepcionou e acumula queda de 4%. Piora no cenário macro, com novo ciclo de juros, inflação e alta do dólar, melaram a confiança do mercado.

Em cenários assim, a bolsa se torna um ambiente mais ruim, enquanto a renda fixa dispara nas preferências. Porém, não para todos os investidores.

Em evento do Bradesco Asset, o gestor César Paiva, da Real Investidor, também conhecido por Warren Buffett de Londrina pelo histórico da sua rentabilidade, se diz otimista com o mercado de ações, especialmente de algumas empresas.

Com mais de R$ 8 bilhões sob gestão, um dos fundo está com rentabilidade de quase 2000% desde o seu início, em 2008.

“Como classe de ativos, as ações se vendem muito mal. Ouço os investidores: quando estão comprando NTNB a 4,5% um tempo atrás, estavam animados; a 5,5%, mais IPCA, mais ainda; agora, a 6,7%, mais ainda. A pessoa deveria tentar olhar as empresas da mesma forma, só que inventaram o tal do PL, a relação preço-lucro”, diz.

Para ele, o certo seria olhar esse indicador de maneira invertida, ou seja, o lucro sobre o preço.

“Hoje há oportunidades; falamos que a bolsa brasileira está em um PL em torno de 7. Um sobre 7 daria uns 13, 14% de earnings yield. Se você comparar esses 13, 14% com o NTNB, tem 13, 14 contra 6 e pouquinho do NTNB”, discorre.

Lucros para cima, expectativa para baixo; oportunidade?

Ele recorda ainda que as empresas, em sua maioria, têm capacidade de repassar a inflação nos preços de seus produtos e serviços, algumas mais, outras menos. “Então, haveria um diferencial ali de 13 para 6 e pouco, cerca de 6%, o que é muito alto, muito interessante”.

Paiva explica ainda que as empresas continuam lucrando, mesmo com a piora do cenário, algo diferente do que ocorreu entre 2013 e 2015, quando o Brasil passou por uma recessão econômica.

“Nosso PIB contraiu quase 7%, o lucro das empresas, dependendo do setor, caiu 30%, 40%, 50%, o endividamento estava alto. Toda temporada de resultados, inclusive nesta, fico superanimado; a maior parte das empresas que temos teve aumento nos resultados”.

Ele recorda ainda que o PIB deve crescer 3%, talvez 2% no ano que vem, enquanto a inflação “não é mil maravilhas, mas está em torno de 4%”. “Vemos que os retornos prospectivos do que temos comprado são muito interessantes”.

“Eu não tenho vontade de comprar renda fixa, lembrando que cada investidor tem sua alocação e que é importante ter uma diversificação adequada. Mas gosto de pensar assim: se compro uma empresa num PL em torno de 5, 1 sobre 5 é 20%, então ganho 20%. A diferença é que metade disso a empresa paga de dividendo, vamos supor, com um payout de 50%, e metade é reinvestida. Então, ganho 20%; 10% ponho no bolso, 10% estão sendo reinvestidos”, diz.

Ainda segundo o gestor, “quando faço essa continha, vejo facilmente um monte de coisas gerando 20%, 25%, 30% ao ano, de hoje até os próximos 5 anos”. “Isso me deixa animado. Agora, temos que ter paciência; não sei quando isso vai mudar”.

Oportunidades da bolsa

Entre as oportunidades que cita, está o Bradesco (BBDC4), “negociando a 90% do valor patrimonial, talvez a menos de seis vezes o lucro para o ano que vem”, e Banco do Brasil (BBAS3), que é negociado a ‘4x o lucro’.

“Temos outra metade no setor de seguros: Porto Seguro (PSSA3), uma empresa maravilhosa, apesar de ter valorizado bem nos últimos anos, ainda está negociando a oito, nove vezes lucro para o ano que vem, deve fazer um retorno sobre o patrimônio acima de 20%, uma história maravilhosa, com concorrência enfraquecida. A própria BB Seguridade (BBSE3), oito vezes lucro, pagando dividend yield acima de 10% para frente”, afirma.

No setor de eletricidade, o gestor destaca Eletrobras (ELET3), Neoenergia (NEOE3) e Sanepar (SAPR11), que, negociando a taxas internas reais de retorno de 13 a 15%, “estão muito interessantes”.

20% do fundo é de setor de commodities, que na visão de Paiva, é importante para compor o portfólio, distribuído principalmente em Petrobras (PETR4), Suzano (SUZB3) e Vale (VALE3).

“Cada uma tem suas características; todas são supercompetitivas, geradoras de caixa, ganham com o dólar mais alto e estão baratas. Gostamos bastante”.

Por fim, o setor imobiliário possui 20% da carteira, dividido entre empresas de propriedades. “O principal ali é a Allos. Essa empresa de shoppings está negociando um cap rate em torno de 15% a 16%”.

Nas construtoras, tem um pedaço investido em Even (EVEN3) e Melnick (MELK3).

“As empresas estão em momento excepcional, negociando a 50%, 60% do valor patrimonial, relação de quatro, cinco vezes o lucro para o ano que vem. Estão muito bem posicionadas”.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
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