Perspectivas 2022

Exclusivo: A melhor ação para comprar em 2022, segundo 19 analistas

22 dez 2021, 8:00 - atualizado em 24 dez 2021, 20:52

Tiro ao alvo

O ano de 2021 chega ao fim com um gosto amargo para os investidores. Até o dia 20 de dezembro, apenas 23 ativos de 93 ações que compõem o Ibovespa (IBOV) acumulavam ganhos no ano. O próprio índice caminha para fechar 2021 no vermelho, com queda de 11%. Em relação ao pico histórico, ocorrido em junho, o tombo é de 18%. 

Hoje a conjuntura é bem diferente do mesmo período do ano passado, quando a Bolsa superou a derrocada da pandemia e encerrou o ano no azul. Havia um forte otimismo no mercado com a reabertura da economia e as vacinas contra a Covid. 

Para 2022, os analistas projetam um ano difícil, que exigirá cautela e proteção contra a volatilidade que tomará conta do cenário brasileiro. Grandes bancos, como Itaú, já preveem recessão diante da escalada da taxa de juros, que pode ultrapassar os 11%.

A Ativa Investimentos é uma das casas que estão pessimistas com 2022. A corretora prevê o Ibovespa em 117 mil pontos para o ano que vem.

Segundo Pedro Serra, gerente de research da Ativa e colunista do Money Times, 2022 parece ser um ano potencialmente mais volátil do que 2021 devido às questões internas e externas.

“Teremos a aproximação das eleições que, embora cedo para fazer preço nos mercados, talvez já comece a pesar nas escolhas e decisões do atual governo”, argumenta.

Para piorar, a retirada de estímulos das economias mundo afora também gerará consequências aqui, com impactos desde o mercado de câmbio até o de ações. “De forma geral, pode-se assumir que os investidores poderão exigir um prêmio de risco maior para ativos nos mercados emergentes”, explica Serra.

Apesar disso, o BB Investimentos recorda que, mesmo que a tônica sugira cautela na primeira metade de 2022, o nível de desconto das companhias no Brasil não pode ser desconsiderado.

“Aparentemente, a evolução do processo de imunização no Brasil sugere que o país tende a apresentar impactos de redução de mobilidade menos intensos relativamente ao que se verifica no atual momento na Europa”, completa.

O que fazer?

Com o objetivo de jogar luz nesse cenário de incertezas, o Money Times realizou levantamento com 19 casas de análises para descobrir as preferências para 2022. Foi pedido para que o analista ou especialista indicasse apenas uma ação.

De maneira geral, eles sugerem empresas com boas teses, que entreguem resultados e que tenham receitas vinculadas ao exterior, como as exportadoras e as commodities. Outro setor lembrado foram os bancões, que negociam a preços atraentes e costumam ser mais resilientes à crises. 

Segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, é um ano que será desafiador.

“Idealmente, se você quer ter uma ação de olhos fechados, ela não pode depender muito do Brasil porque o ambiente vai ser bem volátil. Não parece que vai ser como 2018, quando a gente tinha o presidente Jair Bolsonaro fazendo um discurso liberal. Isso vai tumultuar um pouco os mercados e promete penalizar as estatais e as empresas que são dependentes do ambiente de negócios brasileiro”, esclarece. 

Participaram do levantamento Ativa, Terra, Mirae Asset, Top Gain, Toro Investimentos, Levante, Veedha Investimentos, Zahl Investimentos, Valor Investimentos, Warren, Inside Research, Finacap Investimentos, RB Investimentos, Ohmresearch, Constância Investimentos, Inversa, Guide Investimentos, Empiricus e Planner

Vale
Vale continua conquistando os analistas com o seus dividendos (Imagem: Reuters/Washington Alves)

A melhor a ação

A ação mais indicada, com quatro recomendações, ficou com a Vale (VALE3). Segundo Pedro Galdi, da Mirae Asset, a empresa exibe baixo endividamento e manterá sua política de dividendos elevada.

“Aguardamos que o preço do minério de ferro se mantenha no patamar de US$ 100 por tonelada, o que vai favorecer a continuidade da política de boa distribuição aos acionistas”, completa.

Para Cruz, da RB, apesar da volatilidade deste ano, 2022 será diferente. “ A questão do ESG e dos desastres já não impacta tanto a ação. Ou seja, essa página foi virada de uma vez por todas e estava penalizando bastante o papel, se pensarmos no passado”, diz. 

Ainda segundo ele, a questão dos preços do minério de ferro deverá ser normalizada depois dos Jogos Olímpicos de Inverno, que ocorrerão na China. Além disso, a empresa também consegue se descolar mais do cenário interno por ser uma exportadora. 

“Ela vai ampliar seus investimentos. Sempre foi uma empresa extremamente bem gerida. Há ainda planos de infraestrutura sendo aprovados nos EUA e na Europa”, observa. 

Já Mario Mariante, analista chefe da Planner Corretora, lembra que a companhia possui o custo de exploração mais baixo do mundo, uma condição bastante confortável. 

“Com o recuo das ações e a expectativa de sustentação de bons resultados no ano que vem e também a distribuição de bons dividendos, reiteramos nossa recomendação de compra para a ação”, justifica. 

Na visão de Gilberto Cardoso, analista da Ohmresearch, já existe uma preocupação dentro do governo chinês sobre o esfriamento da economia e algum tipo estímulo é esperado após discussões com provinciais vereadores, o que pode favorecer a Vale.

Confira o levantamento completo

Empresa Ticker Recomendação
Vale VALE3 4
Itaú ITUB4 2
PetroRio PRIO3 2
Suzano SUZB3 2
Cosan CSAN3 2
Petz PETZ3 1
Itaúsa ITSA4 1
Petrobras PETR4 1
Vibra Energia BRDT3 1
Banco do Brasil BBAS3 1
Gerdau GGBR4 1
Vivo VIVT3 1

Outras empresas

Bancão não pode faltar

Para além da Vale, outras ações de peso foram lembradas por analistas. Entre elas está o Itaú Unibanco. Na visão de Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, a ação tem fundamentos sólidos e uma precificação descontada neste momento. 

“Entre os pontos positivos de ITUB4, estão a adoção de gestão estratégica de custos, buscando atingir maior eficiência com maior digitalização e expansão nos canais digitais, no balanço do terceiro trimestre”, diz.

Ainda segundo Enrico Cozzolino, analista da Levante, o setor de bancos está muito descontado e não pode ser ignorado.

“Sofreu muito este ano em comparação ao Ibovespa. Historicamente a correlação entre o Ibovespa e o setor é forte. Este ano foi ruim. Preocupação com provisão para devedores duvidosos foi um dos motivos. Porém, nos últimos trimestre, esse lucro que ficou guardado não aumentou. Bancões se tornaram digitais. Itaú vem com base nisso”, esclarece. 

Suzano SUZB3
Suzano é a proteção que não pode faltar na sua carteira, dizem analistas

Exportadora de mão cheia

A Suzano também é apontada como uma empresa que entrega resultados e com receitas que não dependem do humor da economia brasileira: 85% do faturamento vem de exportações.

Rafael Panonko, da Toro Investimentos, diz que a companhia tem conseguido reduzir o seu nível de alavancagem nos últimos trimestres, e por sua condição predominantemente exportadora, a empresa contrata dívida em moeda estrangeira como uma forma de hedge (proteção) natural.

“As ações da Suzano, que historicamente têm tido uma performance mais defensiva, poderão contribuir conferindo uma maior proteção aos portfólios dos investidores em 2022”, expõe.

João Abdouni, da Inversa, acrescenta que o papel é menos impactado com a alta dos juros no Brasil, uma vez que receitas e dívidas são dolarizadas.

“Observamos a empresa em um valuation interessante, bem como a governança corporativa da companhia que nos agrada bastante”, explica.

PetroRio é uma alternativa à Petrobras?

Surfar na alta dos preços do petróleo sem a volatilidade política da Petrobras (PETR3;PETR4)? Com a PetroRio isso será possível, preveem analistas. Estrategistas de Wall Street dizem que a commodity mira US$ 100 por barril até 2023 com o duelo entre inflação e Covid.

Para Sidney Lima, analista da Top Gain, a PetroRio adota um estilo de negócio mais agressivo, principalmente no quesito aquisição, o que tende a beneficiar seu resultado financeiro, pelo crescente aumento de produção, e como consequência, o aumento de receita.

“O aumento significativo da receita tende atrair novos investidores. E a lógica de aquisição de campos maduros como a Albacora lhe torna muito mais eficiente que a Petrobras. Lembrando que, em ano eleitoral, a estatal navega em terreno de incertezas”, argumenta.

Ademais, Iago Souza, analista de investimentos da Warren, recorda que, com os desinvestimentos da Petrobras, a aquisição de novos campos pela PetroRio pode ser um gatilho interessante para a petrolífera aumentar ainda mais sua produção nos próximos anos.

“Aqui dentro do time de análise da Warren, a PRIO3 é nosso top pick para 2022. Vemos a empresa em ótima posição para capturar oportunidades no segmento de exploração e produção, possuindo baixos custos de extração, eficiência operacional e tecnologia de ponta”, afirma.

Cosan
Ter Cosan é ter empresas com alto potencial de gerar valor, dizem analistas

Cosan, uma representante do ESG

Para Matheus Spiess, da Empiricus, a Cosan é um case estrutural do Brasil. “É uma ação que eu carregaria pelos próximos 10 anos. Mas eu entendo que haja espaço para valorização para 2022”.

Segundo ele, a holding possui empresas-chave para a economia, como Rumo (RAIL3), que atua no transporte ferroviário e faz o escoamento de grãos para o porto de Santos, a Raízen (RAIZ4), que possui fortes práticas de ESG com a produção de etanol, a Compass, que atua no mercado de gás, e a Moove, que, apesar de ser a menor empresa do grupo, possui espaço para crescer. 

Já Rodrigo Romero, sócio da Inside Research e que também recomenda o papel, diz que a empresa conta com o potencial de crescimento do seu volume de etanol em mais do que o dobro dos níveis atuais para o longo prazo, sem a necessidade de ampliação da área produzida.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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