‘FLOP30’? Quantidade de chefes de Estado na COP30 é a menor em seis anos, mas proposta inéditas são aprovadas
A COP30, evento que reúne líderes globais e especialistas para discutir mudanças climáticas, começou na segunda-feira (10), em Belém, no Pará. Em meio à busca por ações de combate às mudanças climáticas, também têm chamado a atenção o número reduzido de chefes de Estado no evento em comparação às edições anteriores. O revés não impediu o Brasil de emplacar propostas inéditas.
Esta é a primeira vez que a COP é sediada pelo Brasil e termina no dia 21 de novembro. O objetivo do evento é definir medidas para limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC antes do fim do século. A sigla COP significa Conferência das Partes e representa a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
O que é ‘FLOP30’?
Na última quinta-feira, quando ocorreu a Cúpula dos Chefes de Estado, que antecedeu a abertura oficial oficial do evento, 28 líderes participaram. Havia nas cadeiras 15 presidentes, 11 primeiros-ministros e dois líderes de realeza.
No ano passado, 59 chefes de Estado estiveram na mesma reunião na COP29, em Baku, no Azerbaijão. Desse total, 29 eram presidentes e 30 eram primeiros-ministros.

Críticos do governo Lula aproveitaram o quórum reduzido de líderes para apelidar a COP30 de “FLOP30” nas redes sociais. “Flop” é uma expressão em inglês que significa “fracasso”.
De fato, a taxa de presença na COP brasileira é a menor desde a COP25, de 2019, sediada em Madri, na Espanha. Naquela época, a organização do evento trocou duas vezes a sede, o que derrubou o número de chefes de Estado presentes para seis.
De qualquer modo, o governo federal brasileiro estima que 57 chefes de Estado participarão da COP30 até o dia 21 de novembro, quando termina a cúpula climática.


Ausências
Algumas ausências já eram esperadas pelo governo, como Donald Trump, presidente dos EUA, e Javier Milei, da Argentina. A dupla é conhecida por negar as mudanças climáticas constatadas por cientistas no decorrer das últimas décadas.
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Xi Jinping, presidente da China, também não está em Belém. O país enviou o vice-primeiro-ministro, Ding Xuexiang, para representar o presidente chinês.
EUA e China são os maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo, junto à Índia, que também não enviou chefes de Estado.
Na COP29, o comportamento do trio foi parecido com o da COP30. Joe Biden (ex-presidente dos EUA) não foi ao Baku, Javier Milei impediu a delegação argentina de marcar presença e Xi Jinping mandou um representante em seu lugar.
Governo federal ainda vê a COP30 com bons olhos
Mesmo com o baixo quórum na abertura, o governo brasileiro vê o copo meio cheio.
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“Seria mais fácil fazer a COP em uma cidade que não tivesse problema, mas a gente resolveu fazer a COP em um estado da Amazônia para provar que, quando se tem disposição e compromisso com a verdade, nada é impossível”, disse o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da COP30.
Já na Cúpula dos Líderes, em que 28 chefes de Estado estiveram presentes, Lula reconheceu as dificuldades de avançar na pauta das mudanças climáticas, mas reforçou que acredita na busca por soluções: “estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”.
O Brasil também busca usar o evento para se reposicionar como um articulador das pautas ambientais. Nesse sentido, o presidente brasileiro cobrou os países ricos pelo não cumprimento dos Acordos de Paris, alcançados na COP21, em 2015. “Os que mais poluíram precisam pagar a conta da transição”, afirmou.

Sem citar os EUA nominalmente, Lula voltou a criticar as guerras, argumentando que “se os homens que fazem guerra estivessem aqui nesta COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para acabar com o problema climático do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra como fizeram no ano passado”.
Também criticou pessoas que negam a ciência e usam a desinformação para descredibilizar pautas ligadas às mudanças climáticas e disse que esta edição é uma “COP da verdade”.

Saldos positivos até agora
A visão positiva do governo também é reforçada pelas negociações com saldo positivo realizadas no evento até esta terça-feira (11), segundo dia de COP30.
Uma das novidades lançadas pelo Brasil foi o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). O objetivo da iniciativa é usar os recursos arrecadados globalmente para incentivar financeiramente a proteção de florestas. Até o momento, foram arrecadados US$ 5,5 bilhões para o fundo.
Em entrevista à CNN, o ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que o Brasil deve conseguir arrecadar US$ 10 bilhões para o fundo até o fim da presidência do país na COP30. O governo federal conta ainda com a contribuição da Alemanha.
O país germânico, junto à Espanha, deve investir também US$ 100 milhões em um novo programa que busca aumentar a resiliência climática em países em desenvolvimento. A iniciativa se chama ARISE (sigla para Acelerando Investimentos em Resiliência e Inovação para Economias Sustentáveis).
Com o mesmo intuito de ajudar países de baixa e média renda, dez bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram que vão ampliar seus financiamentos em projetos de adaptação e mitigação até 2030. É esperado um aporte de US$ 185 bilhões.

Outro acontecimento inédito ocorrido na COP30 foi o reconhecimento do racismo ambiental. A expressão é usada para representar efeitos das mudanças climáticas que atingem intensamente grupos raciais marginalizados, como povos indígenas, comunidades tradicionais e pessoas negras. Na Cúpula dos Líderes, 19 países endossaram a Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental, lançada pelo governo federal.
Já a Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono, outra proposta criada pelo Brasil, teve a adesão de 11 países. Haddad afirmou que os países presentes na COP30 demonstram comprometimento em realizar projetos para aumentar a descarbonização.