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Fusão entre Eneva e AES Tietê facilita desinvestimento do BNDES, afirma executivo

02 mar 2020, 12:09 - atualizado em 02 mar 2020, 12:09
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Caso a transação seja fechada, o BNDESPar teria 6,4% da nova empresa (Imagem: Reuters/Sergio Moraes)

Uma eventual fusão entre as elétricas Eneva (ENEV3) e AES Tietê (TIET11), atualmente em análise, pode facilitar o plano de desinvestimentos do braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDEPar, disse à Reuters um executivo envolvido na transação.

O BNDESPar, que tem vendido ativos enquanto o BNDES busca antecipar a devolução ao Tesouro de empréstimos tomados junto à União no passado, possui 28,4% do capital total da AES Tietê, controlada pela norte-americana AES.

O banco de fomento estatal é acionista da empresa desde uma reestruturação nos anos 2000 de dívidas da AES referentes à compra da distribuidora de energia Eletropaulo, posteriormente vendida pelo grupo norte-americano para a italiana Enel (ELPL3).

A Eneva informou nesta segunda-feira que propôs uma combinação de negócios com a geradora controlada pela AES no Brasil que envolveria cerca de 6,6 bilhões de reais, prevendo pagamentos de 2,75 bilhões de reais em dinheiro aos acionistas da AES Tietê e o restante em ações. A AES disse que está avaliando a oferta.

“(A transação seria) importante também para o BNDES, que já manifestou vontade de desinvestir de alguns ativos. É uma operação ganha-ganha para os acionistas da Eneva, da AES Tietê e para o país como um todo, é realmente uma boa operação para todos”, defendeu o diretor financeiro da Eneva, Marcelo Habibe.

A proposta da Eneva para a AES Tietê é válida por 60 dias (Imagem: Reuters/Rodrigo Garrido)

Ele destacou que o negócio, se concluído, possibilitaria ao BNDES embolsar a parcela em dinheiro envolvida na operação, além de deixar o banco com participação menor e portanto mais líquida na nova companhia resultante da fusão.

Caso a transação seja fechada, o BNDESPar teria 6,4% da nova empresa.

“Além dos 40% em dinheiro, o BNDES passa a ser acionista de uma empresa maior e com mais liquidez. Se for desejo do BNDES vender a participação remanescente, é muito fácil… ele pode se desfazer (das ações) facilmente no mercado, sem desconto e capturando todos benefícios”, acrescentou Habibe.

O BNDES tem negociado vendas de participações em empresas enquanto busca acelerar a devolução de recursos ao Tesouro. O banco estatal concluiu em fevereiro a venda de ações na petroleira estatal Petrobras (PETR3; PETR4) por 22 bilhões de reais.

Após a reestruturação da AES nos anos 2000, a Eletropaulo foi vendida ao grupo italiano Enel (Imagem: Reuters/Flavio Lo Scalzo)

Antes, em 2018, o BNDES já havia vendido sua participação na Eletropaulo, também resultante de reestruturação de dívidas, ao aproveitar um negócio entre a AES e a italiana Enel pela distribuidora de eletricidade paulista. A operação rendeu na época um lucro de 1 bilhão de reais para o banco estatal.

Procurado, o BNDES não respondeu imediatamente a um pedido de comentários.

Sinergias diversas

A proposta da Eneva, que é válida por 60 dias, envolveria a incorporação da AES Tietê com pagamento em dinheiro aos acionistas da empresa de 2,75 bilhões de reais, além de 91,9 milhões de ações da Eneva, equivalentes a 22,58% do capital da companhia.

Eneva ENEV3
A fusão envolveria o pagamento em dinheiro aos acionistas da empresa de R$ 2,75 bilhões (Imagem: Site/Eneva)

Isso representaria 0,0461 ações ordinárias da Eneva para cada ação ordinária ou preferencial da AES Tietê, ou 0,2305 por unit da AES Tietê, o que segundo a Eneva equivale a um prêmio de 13,3% sobre o preço das ações da AES Tietê antes da oferta.

A combinação dos negócios levaria a uma companhia que chegaria aos 6,4 gigawatts em capacidade até 2024 e com ativos que iriam desde termelétricas a gás e campos de exploração do insumo até hidrelétricas e parques eólicos e solares.

O negócio geraria sinergias financeiras importantes, uma vez que a Eneva tem uma avaliação de crédito melhor que a da AES Tietê e a fusão dos ativos ainda reduziria riscos, disse Habibe.

“Seria uma empresa com risco menor, o que permitiria rebalanceamento de dívidas a um custo mais barato. Então tem sinergias pelo lado de despesas financeiras, perfil da dívida. E existem sinergias tributárias importantes também, além de toda uma percepção de risco muito menor, porque é uma empresa mais diversificada, com complementaridade entre as fontes”, explicou o executivo.

Setor Elétrico Energia Elétrica
O negócio geraria sinergias financeiras importantes, uma vez que a Eneva tem uma avaliação de crédito melhor que a da AES Tietê e a fusão dos ativos ainda reduziria riscos (Imagem: Unsplash/@manpritkalsi)

O diretor qualificou a sinergia entre os ativos termelétricos da Eneva e os renováveis da AES Tietê como um “casamento perfeito”.

O presidente da Eneva, Pedro Zinner, destacou que esse perfil da nova companhia ainda criaria uma grande geradora com maior participação de capital nacional e significativo potencial de expansão.

“Eneva e a AES Tietê, uma só investia em térmicas e a outra só em renováveis. A gente passaria a ser uma companhia que olha tudo”, afirmou.

Questionado sobre o eventual perfil de investimentos e distribuição de lucros aos acionistas da nova empresa, Zinner afirmou que essa estratégia seria traçada de acordo com as oportunidades de negócio que surgirem.

“Vai ser uma grande companhia geradora de resultado e caixa. Se a gente vai distribuir muito ou dividendo ou investir no país vai depender das oportunidades”.

A proposta da Eneva para a AES Tietê é válida por 60 dias. Caso aceita, ela seria levada para aprovação em assembleias de acionistas das empresas e depois submetida a aprovações regulatórias e concorrenciais.

A AES Tietê disse que analisará a oferta “de forma detalhada, mantendo o mercado informado sobre eventuais desdobramentos”.

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