GPA (PCAR3) derrete 10% em reação aos números do 2T25; alavancagem preocupa

As ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), ou apenas GPA, reagem negativamente ao balanço do segundo trimestre de 2025 (2T25), divulgado pela companhia na terça-feira (5). A varejista alimentar reduziu seu prejuízo líquido consolidado para R$ 216 milhões, ante perda de R$ 332 milhões no mesmo período do ano passado.
A melhora no resultado veio do avanço no desempenho operacional, dado o deslocamento da Páscoa para o segundo trimestre neste ano.
O prejuízo, no entanto, foi pior do que o esperado pelo consenso do mercado. Estimativas reunidas pelo BTG Pactual apontavam para um número negativo em R$ 145 milhões.
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Na linha do resultado operacional, medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, a companhia reportou R$ 420 milhões no segundo trimestre, alta de 6,1% ano a ano, com expansão de 0,2 ponto percentual na margem, para 9%.
As ações PCAR3 encerraram a sessão desta quarta-feira (6) com queda de 10,36%, a R$ 3,03, performando como a maior queda do Ibovespa (IBOV). Acompanhe o tempo real.
Analistas não se animaram com o balanço da companhia, que enfrenta um processo de turnaround, ou seja, uma reestruturação do negócio.
Na visão do BTG Pactual, o GPA reportou resultados fracos no trimestre, mesmo com o desempenho operacional ligeiramente acima das expectativas, impulsionado por uma rentabilidade melhor do que o previsto. O banco destaca que a empresa foi prejudicada pela elevada alavancagem financeira, que permanece entre as principais preocupações.
A companhia teve um aumento de 0,2 ponto na alavancagem, passando para 3 vezes a relação dívida líquida/Ebitda. Neste indicador, quanto mais elevado o número, maior é o risco financeiro.
Os analistas do BTG destacam que o GPA suspendeu a divulgação de projeções para novas aberturas de lojas, devido ao ritmo mais lento de inaugurações esperado para o segundo semestre de 2025 e para 2026, após ter aberto 213 unidades em comparação com as 300 lojas anunciadas na projeção anterior de 2022-2026.
Mesmo com uma melhora nos resultados operacionais nos últimos trimestres e da implementação de iniciativas para aprimorar margens e fluxo de caixa livre, o banco ainda considera o GPA como a opção mais arriscada entre os varejistas de alimentos.
“O processo de turnaround para recuperar vendas e retomar a rentabilidade nas operações da GPA é um trabalho em andamento e, com o ritmo de desalavancagem ainda em foco (em meio a um cenário de alta taxa de juros), mantemos nossa classificação Neutra“, diz o BTG. O preço-alvo é de R$ 4, o que representa um potencial de alta de 18% em relação ao fechamento desta terça-feira, em R$ 3,38.
Em teleconferência de resultados, executivos da empresa afirmaram que ocorrerá uma desaceleração da expansão do parque de lojas no segundo trimestre deste ano, com manutenção da estratégia em 2026, focando justamente na desalavancagem em um ambiente de juros elevados.
Além de reduzir de maneira “significativa” o investimento em 2026, a empresa trabalha em duas ou três vendas de ativos operacionais não essenciais que devem trazer ao caixa “centenas de milhões” de reais, afirmou o presidente-executivo Marcelo Pimentel em apresentação a analistas.
“Estamos olhando para oportunidades que acreditamos que têm possibilidade concreta de se realizar […] Temos aí duas a três transações significativas que, se tivermos sucesso, deverão trazer algumas centenas de milhões para a companhia”, disse Pimentel.
O executivo acrescentou que 100% dos recursos levantados com as possíveis vendas de ativos serão destinados para redução de dívida da companhia.
Destaques do 2T25 do GPA
A XP Investimentos destaca que o GPA reportou resultados mistos no segundo trimestre, com demanda mais fraca pressionando a margem bruta, embora tenha sido compensada por despesas administrativas (G&A) controladas.
Os analistas da casa destacam que as vendas líquidas consolidadas cresceram 4% em relação ao ano anterior, em meio a tendências de demanda mais fracas em maio e junho, apesar de um efeito calendário positivo em abril devido ao deslocamento da Páscoa.
Na visão da Genial Investimentos, a margem Ebitda de 9% é “louvável”, mas levanta dúvidas sobre a sustentabilidade caso o ritmo de crescimento de SSS (vendas de mesmas lojas, no português) desacelere nos próximos meses — especialmente nas bandeiras Extra e Aliados.
Em um ambiente ainda desafiador para o varejo alimentar, o analista Iago Souza cham atenção para a resiliência da bandeira Pão de Açúcar, responsável por cerca de 50% do faturamento, que compensou o desempenho mais fraco das lojas de proximidade.
“A queda no volume de compras entre trimestres segue sem explicação clara. E enquanto não houver sinal de normalização no tráfego de lojas em julho, a ação deve seguir sem catalisadores operacionais relevantes. Se este for o novo normal, o GPA precisará cortar ainda mais investimentos e despesas no segundo semestre”, pondera o analista.
A Genial tem recomendação de “Manter” para PCAR3, com preço-alvo de R$ 3,50.
*Com Reuters