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Hacker acusa Bolsonaro em CPI e coloca ex-presidente em maus lençóis; confira

17 ago 2023, 14:43 - atualizado em 17 ago 2023, 14:43
Bolsonaro
Bolsonaro teria oferecido indulto para hacker burlar urnas eletrônicas e assumir responsabilidade de grampo contra Alexandre de Moraes. (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O hacker Walter Delgatti Neto disse nesta quinta-feira em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro que o ex-presidente Jair Bolsonaro lhe ofereceu um indulto em troca de colocar em dúvida a lisura das urnas eletrônicas e de assumir a autoria de um grampo telefônico contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Delgatti disse que as propostas foram feitas em duas conversas que teve com Bolsonaro — uma presencial e outra por telefone — ambas intermediadas pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no ano passado, quando Bolsonaro ainda ocupava a Presidência.

O hacker afirmou que o encontro presencial com Bolsonaro ocorreu no Palácio da Alvorada, durou entre uma hora e meia e duas horas e o objetivo era discutir as urnas eletrônicas.

“Nessa reunião a ideia era falar sobre as urnas, sobre a eleição e sobre a lisura das urnas. A conversa foi bem técnica, até a hora que o presidente me disse: ‘olha, a parte técnica eu não entendo, então eu vou enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá com os técnicos você explica tudo isso a eles'”, disse Delgatti.

“A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente”, acrescentou.

Já a conversa sobre o suposto grampo contra Moraes teria ocorrido por telefone, em um posto de gasolina no Estado de São Paulo, onde Delgatti afirma ter encontrado Zambelli.

“Ela (Zambelli) pegou o celular dela, nesse celular ela mandou mensagem para alguém e nesse momento o presidente entrou em contato comigo”, disse.

“Eu falei com o presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo tão esperado à época do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo foi realizado já e teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, afirmou.

O hacker afirmou ainda que Bolsonaro lhe disse que, como ele havia sido responsável pelo escândalo da chamada “Vaza Jato”, que revelou suposto conluio entre procuradores da Lava Jato e o então juiz responsável pelos processos da operação em Curitiba, Sergio Moro, a esquerda não poderia atacá-lo caso assumisse a autoria do grampo contra Moraes.

“A ideia seria o garoto da esquerda assumir esse grampo”, afirmou.

Delgatti disse que, na conversa telefônica, Bolsonaro lhe assegurou que ele receberia um indulto e que, se algum juiz determinasse sua prisão, o presidente mandaria prender este juiz.

“Ele disse no telefonema que esse grampo foi realizado por agentes de outro país. Não sei se é verdade esse grampo, porque eu não tive acesso a ele, e disse que em troca eu teria o prometido indulto, e disse assim: ‘se caso algum juiz te prender, eu mando prender o juiz’. Ele disse essa frase”, afirmou.

Procurado, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência sob Bolsonaro, Fabio Wajngarten, um dos advogados do ex-presidente, não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre as declarações de Delgatti.

No entanto, em sua conta na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, Wajngarten acusou Delgatti de mentir em seu depoimento e negou que ele tenha sido cogitado para participar da campanha de Bolsonaro, conforme afirmou à CPI.

“Em nenhum momento sequer cogitaram a entrada de técnicos de informática, muito menos alpinistas tecnológicos na campanha do presidente @jairbolsonaro. É muita gente tentando buscar holofotes e fogo. Haja bombeiros para reconstruir a verdade”, escreveu.

“Eu desconheço quem tenha feito reunião individual com o presidente @jairbolsonaro cuja duração tenha sido de uma e hora e meia. Duvido. Mente e mente e mente”, acrescentou. “Nunca, jamais, houve grampo, nem qualquer atividade ilegal, nem não republicana, contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do Presidente. Mente e mente e mente.”

Em nota, o advogado Daniel Leon Bialski, que representa a deputada Carla Zambelli, disse que a defesa da parlamentar “rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais” contra ela. Também Acusa Delgatti de mentir e não ter credibilidade.

“Observa-se que citada pessoa (Delgatti), como divulgado em diversas reportagens, usa e abusa de fantasias em suas palavras. Suas versões mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade”, afirmou.

Bialski disse ainda que a defesa de Zambelli ainda não teve acesso aos autos da investigação e que, quando isso ocorrer, se manifestará “de forma mais ampla, justamente para desmerecer publicamente os embustes criados”.