Coluna do Beto Assad

Ibovespa: 3 motivos para ficar com o pé atrás com ações brasileiras (e quando o jogo mudará)

27 abr 2023, 19:00 - atualizado em 27 abr 2023, 13:46
Ibovespa
Ibovespa segue muito confuso ao investidor e é melhor ficar com um pé atrás. Entenda mais com a coluna do Beto Assad. (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

O Ibovespa (IBOV) chega na reta final de abril vindo de uma semana ruim, após ter tido o seu melhor período semanal desde dezembro do ano passado. Impulsionada principalmente pelos dados de inflação abaixo do esperado, a bolsa brasileiro subiu 5,41% entre os dias 10 e 14 de abril.

Mas uma série de eventos fizeram o principal índice da B3 devolver parte dos ganhos até quinta passada, véspera do feriado de Tiradentes. E este início de semana também não começou muito promissor, com o Ibovespa caindo 1,10% na reta final do mês de abril.



Contudo quais foram os fatos que deram aquela famosa “azedada” no humor dos investidores? A maioria deles, como já vem acontecendo no país a algum tempo, tem a ver com política.

Podemos colocar 3 pontos que se destacaram, e podem continuar ecoando nos próximos meses:

  • as polêmicas com as viagens de Lula pela China e Europa;
  • o episódio com o vazamento de vídeos dos atos de vândalos no dia 08 de janeiro em Brasília; e
  • as “surpresas” na apresentação do novo arcabouço fiscal ao Congresso.

Lula no exterior

A atrasada e tão comentada viagem de Lula à China passou e muito se perguntou quais foram os pontos positivos e negativos da visita do presidente ao país asiático.

Cerca de quinze acordos foram assinados entre os 2 países, envolvendo o setor agropecuário, tecnologia 5G, cultura, comércio e até exploração espacial.

Outro ponto que ganhou destaque na conversa entre o mandatário brasileiro e o chinês foi o acordo para não se utilizar o dólar nas transações entre os dois países.

Vejo esse ponto como positivo, já que deve reduzir os custos de exportação e importação para os 2 países, fazendo a liquidação dos negócios diretamente entre Reais e Yuan. O sistema deve ficar operacional a partir do segundo semestre.

Lula também destacou a importância da China como principal parceiro comercial do país, o que não é nenhuma novidade. Mas o que trouxe um certo temor durante a visita do presidente brasileiro foram algumas declarações no âmbito político, onde Lula criticou fortemente os EUA na questão da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Além disso, Lula também colocou parte da culpa da guerra nos ucranianos, o que não foi muito bem aceito por grande parte da comunidade internacional.

A diplomacia americana criticou os comentários de Lula, apontando que seu discurso durante a visita aos EUA foi de aproximação, exatamente o contrário do que fez em sua viagem pela Ásia.

Vazamento de vídeos

Se não bastasse isso para tumultuar o ambiente político, uma nova crise foi desencadeada.

Houve revelação de vídeos que mostravam o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias circulando entre vândalos dentro do gabinete no dia dos atos contra o novo governo, em 08 de janeiro.

O ministro pediu demissão depois da exposição do vídeo, e a pressão por uma CPI dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro aumentou bastante.

Arcabouço fiscal

No âmbito econômico, o período foi marcado pelo fim da rápida (e precoce) lua de mel dos investidores com o novo arcabouço fiscal.

O plano foi apresentado ao congresso com uma lista de 13 exceções de despesas que não estariam sujeitas às restrições do projeto.

Isso, somado ao viés muito otimista com a arrecadação para bater as metas do plano, jogaram um balde água fria no mercado, com a Bolsa retomando seu movimento de queda e o dólar voltando a trabalhar acima de R$ 5,00.

Se não bastassem esses fatos, a viagem de Lula por vários países europeus foi carregada de perguntas sobre a posição do presidente brasileiro em relação à guerra na Ucrânia. O desconforto ficou visível, com o presidente mudando o discurso para tentar conter o mal-estar.

Vale lembrar que o Velho Continente apoia massivamente os ucranianos no conflito.

Já Lula deu entrevista dizendo que vai “tentar parar de falar em guerra e construir a paz”. É uma tentativa de minimizar suas falas anteriores envolvendo EUA e os países europeus. No entanto, é fato que nosso presidente tem falado o que cada nação visitada deseja ouvir, mesmo que seus discursos sejam antagônicos.

Mas por mais que o nosso presidente faça o papel daquele apaziguador que não quer problemas com ninguém, suas posturas levam a crer numa maior aproximação com China e Rússia.

Em relação a americanos e europeus, o que mais tem se visto do presidente é aquela postura popularmente conhecida como “morde e assopra”.

Quando voltar ao Ibovespa?

Toda essa indefinição, invariavelmente, acaba trazendo maior instabilidade e desconfiança no mercado financeiro.

Afinal, é possível fazer o jogo econômico das principais potências mundiais ao mesmo tempo? Ou é melhor escolher um lado de maneira mais clara, e colher tanto os benefícios como os problemas de tal decisão?

A se considerar a reta final do mês de abril na B3, por exemplo, pode-se dizer que tudo continua confuso e indefinido, seja na política fiscal, seja na política externa.

Assim, continuo com um pé atrás em relação ao mercado de ações no Brasil, tanto pelo momento brasileiro, quanto pelo próprio cenário econômico internacional.

Que maio traga melhores ventos para o nosso mercado.

*Beto Assad, colunista no Money Times, é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.

Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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