Ibovespa cai mais de 1% no dia seguinte ao recorde histórico; o que está por trás da queda?

Depois de alcançar a marca inédita aos 139 mil pontos, Ibovespa (IBOV) já perdeu quase 2 mil pontos na primeira hora do pregão em dia agitado por balanços corporativos, retomada da cautela fiscal e dados no exterior.
Por volta de 11h (horário de Brasília), o principal índice da bolsa brasileira operava aos 137.815,51 pontos, com queda de 1,09%. Acompanhe o Tempo Real.
Ontem (15), o Ibovespa fechou aos 139.334,38 pontos, renovando a máxima histórica nominal. O recorde anterior havia sido registrado na última terça-feira (13), quando o índice encerrou a sessão aos 138.963,11 pontos.
Mas a queda nesta sexta-feira (16) não é somente uma realização de ganhos recentes. As perdas são limitadas, porém, pela eventual fusão entre BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), recuperação do petróleo e leve avanço dos índices de Wall Street.
- Ibovespa oscila com resultados do Banco do Brasil e fusão entre Marfrig e BRF; risco fiscal volta ao radar. Veja o que movimenta o mercado no Giro do Mercado
Confira a seguir o que pressiona o Ibovespa nesta sexta-feira (16):
Ibovespa: derrocada do Banco do Brasil (BBAS3)
Hoje (16), as ações do Banco do Brasil (BBAS3) lideram a ponta negativa do Ibovespa e figuram como o papel mais negociado no mercado acionário brasileira. Na abertura, BBAS3 chegou a cair quase 15% em reação ao balanço do primeiro trimestre de 2025 (1T25).
O lucro líquido ajustado do banco recuou 20,7% na base anual, de R$ 7,3 bilhões, entre janeiro e março deste ano. É o primeiro recuo dos números após 16 trimestres consecutivos de crescimento anual do lucro. Além disso, foi o único, entre os grandes bancos, a apresentar redução.
O número foi pressionado pela piora da inadimplência do agronegócio. Na conta também entrou a mudança regulatória Resolução nº 4.966, que exigiu do banco fazer provisões, pegou em cheio a margem financeira, inadimplência e o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido), um risco que é acompanhado de perto por investidores desde o terceiro trimestre de 2024.
A financeira também suspendeu a divulgação das projeções (guidance) de lucro, margem financeira bruta e custo de crédito.
Em reação, o Bradesco BBI cortou a recomendação de compra das ações para neutra, com preço-alvo de R$ 31 — o que representa um potencial de valorização de 5% sobre o preço de fechamento anterior.
O setor bancário é um dos pesos-pesados do Ibovespa, ou seja, as movimentações das companhias do setor influenciam diretamente no desempenho do índice.
Gripe aviária no Brasil
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a primeira detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), chamada de gripe aviária, em uma granja comercial, levantando a possibilidade de restrições por parte de parceiros comerciais. A detecção ocorreu no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.
O Brasil é o maior exportador de carne de frango no mundo. As exportações brasileiras de carne de frango somaram US$ 10 bilhões em 2024, respondendo por cerca de 35% do comércio global, com grande parte das vendas realizadas por BRF (BRFS3) e a JBS (JBSS3), que exportam para cerca de 150 países.
Imediatamente após a comunicação, a China suspendeu as importação — o que foi confirmado pelo ministro Carlos Fávaro.
Em entrevista à CNN, o ministro afirmou que o foco tende a ser concluído em até 28 dias e que a expectativa é de que a venda de frango à China seja retomada antes de 60 dias, com caso concluído. Já para a Broadcast, Fávaro disse que o orçamento da defesa agropecuária é “suficiente” para a emergência zoosanitária.
- E MAIS: Junte-se à comunidade de investidores do Money Times para ter acesso a reportagens, coberturas, relatórios e mais; veja com
Piora das projeções para dívida pública
Os economistas consultados pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda projetam que o governo entregará um resultado primário com déficit de R$ 72,687 bilhões em 2025, ante a estimativa anterior de R$ 73,7 bilhões, segundo o Boletim Prisma Fiscal. Apesar da melhora, o número está distante da meta fixada para este ano.
Já para 2026, os economistas elevaram a projeção de R$ 78,2 bilhões para R$ 80,690 bilhões de déficit primário.
As estimativas para o resultado primário seguem distantes das metas estabelecidas pelo governo de déficit zero em 2025 e superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026.
Para a receita líquida do governo, a expectativa mediana subiu para este ano e o próximo. A nova projeção indica a entrada de R$ 2,313 trilhões em 2025, contra R$ 2,308 trilhões estimados no mês anterior. Em 2026, o dado é visto em R$ 2,464 trilhões, contra R$ 2,463 trilhões projetados em abril.
Os economistas também aumentaram a projeção para as despesas totais do governo central neste ano para R$ 2,383 trilhões, de R$ 2,381 trilhões anteriormente, e baixaram a R$ 2,545 trilhões em 2026, de R$ 2,559 trilhões antes.
A estimativa da relação entre dívida e PIB para 2025 foi ajustada de 80,50% para 80,30%, e para 2026, de 84,55% para 84,49%.
Novos programas do governo no radar
A preocupação fiscal voltou ao radar desde o pregão anterior, com rumores de que o governo possa anunciar novas medidas nos próximos meses na tentativa de recuperar a popularidade antes das eleições de 2026. Entre elas, um novo Vale Gás a entregadores de aplicativos, um reajuste do Bolsa Família e um programa do Ministério da Saúde para uso de estruturas de hospitais particulares para cirurgias do Sistema Único de Saúde (SUS).
No final da tarde da última quinta-feira (15), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a equipe econômica está preparando medidas pontuais para assegurar o cumprimento da meta fiscal, que serão discutidas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana, ressaltando não haver estudo sobre eventual reajuste do Bolsa Família.
Em entrevista a jornalistas, Haddad não mencionou ações específicas da sua pasta e se limitou a dizer que medidas avaliadas pelo governo visam respeitar regras do arcabouço fiscal. “As únicas medidas que estão sendo preparadas para levar ao conhecimento do presidente semana que vem são medidas pontuais para o cumprimento da meta fiscal, como nós fizemos no ano passado”, disse o ministro.
“O roteiro não é inédito: várias das medidas agora anunciadas têm aroma — e riscos — semelhantes ao do primeiro mandato de Dilma Rousseff. A diferença é que parte da bomba fiscal sendo montada agora pode estourar ainda nas mãos do próprio governo que a armou, tornando a estratégia um tiro no próprio pé”, afirmou o analista da Empiricus, Matheus Spiess.