Economia

Inflação: Meta brasileira é muito baixa? Entenda se IPCA em 3% é factível

27 jan 2023, 14:26 - atualizado em 27 jan 2023, 14:26
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Lula culpa meta de inflação muito baixa como motivo para Banco Central não reduzir taxa Selic. (Imagem: Agência Brasil)

*Por Juliana Américo e Lucas Simões

O Brasil tem uma meta de inflação que gira em torno dos 3%. No entanto, o país já está em seu terceiro ano com a inflação acima do centro da meta – sendo dois deles ultrapassando o teto.

Em 2022, a meta era de 3,50%, com uma margem de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. No ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado foi de 5,79%, acima dos 5% de teto. Para 2023, a meta é de 3,25%.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a solução é simples: aumentar a meta. Dessa forma, a inflação estaria dentro do esperado e o Banco Central poderia voltar a reduzir a taxa Selic.

“Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”, disse Lula em entrevista à GloboNews.

Ledo engano.

Tiro no pé

Os agentes do mercado financeiro não veem muito sentido em aumentar a meta inflação do Brasil para fechar a conta, como sugere o presidente Lula.

“A meta já tem tido problema em ficar abaixo do limite do teto imposto pelo Banco Central. Reduzir a taxa Selic mais rápido do que o necessário pode ser o famoso efeito ‘tiro no pé‘, algo parecido com o que aconteceu no Governo Dilma”, explica Beto Assad, analista de ações e colunista do Money Times.

A expectativa do mercado é que o IPCA feche 2023 perto de 5,48%, que também já está acima da meta atual.

Para o especialista, não há chance alguma da taxa básica de juros ficar abaixo de dois dígitos em 2023. “Eu me surpreenderia muito se isso acontecesse”.

As ações de setores presentes no varejo, tecnologia e construção civil continuarão com valuations pressionados enquanto a taxa Selic não der uma trégua. O caso da Americanas (AMER3), por exemplo, fica mais complexo com os juros encarecendo a dívida bilionária.

Questão de credibilidade

Até faria sentido aumentar a meta de inflação considerando o impacto da taxa de câmbio sobre a inflação brasileira, endossada por eventos não recorrentes como a guerra na Ucrânia, na avaliação de Rafael Passos, analista da Ajax Investimentos.

No entanto, a questão mais prioritária ao mercado no momento é a credibilidade do Banco Central brasileiro para conduzir a situação.

“O mercado não pode duvidar da credibilidade do BC, vide o exemplo do que aconteceu com a vizinha Argentina. Eles aumentaram as metas de inflação e isso acabou levando ao descontrole das taxas de juros no país”, aponta Passos.

Antes mesmo de se cogitar em alterar a meta, o mercado requer mais visibilidade sobre o arcabouço fiscal do novo governo, ou seja, como a gestão Lula pretende manter as contas brasileiras em dia.

Meta de inflação em 3%, eis a questão

No ponto de vista macroeconômico, o questionamento de Lula sobre a meta de inflação é válido. Afinal, o Brasil é um país em desenvolvimento com metas muito próximas de economias de primeiro mundo.

Na China, por exemplo, a meta de 2022 era de 3% e o acumulado no ano ficou próximo disso. Já nos Estados Unidos, a meta é de 2% e o resultado flertou os 7% no ano passado, puxado ainda pelos efeitos da pandemia e guerra na Ucrânia.

Além disso, não existe um número mágico de inflação ideal.

Ainda assim, o mercado defende que uma meta em torno de 3% é factível. Principalmente porque é preciso considerar a situação econômica global.

Para Bruno Piacentini, economista do Eu me Banco, apesar de nos últimos dois anos a inflação ter ultrapassado o teto, o sistema ainda é bem-visto por trazer previsibilidade e direção para a economia.

“Passamos por um momento de muito incentivo monetário e fiscal desde 2020. Temos o reaquecimento econômico e problemas, inclusive bélicos, que trazem choques externos para os preços”, afirma. “Também ainda sofremos as consequências do pior momento de pandemia de covid e a inflação assusta o mundo todo.”

Outra questão é que a inflação não é controlada única e exclusivamente por meio da taxa Selic. O governo também precisa fazer a sua parte.

Bruno Musa, economista da Acqua Vero Investimentos, aponta que as metas de inflação são factíveis desde que o governo passe por algumas reformas e reduza o seu tamanho.

“Quando você tem um estado menor, não precisa arrecadar tanto e ele passa a ser mais eficiente. Com isso, fica mais fácil controlar mais a inflação, porque ao ter um fiscal responsável, o endividamento é menor e não precisa de uma taxa de juros alta, que freia a economia como um todo”, afirma.

Reunião CMN

O Ministério da Fazendo achou melhor adiar para 16 de fevereiro a primeira reunião do ano do Conselho Monetário Nacional (CMN). O encontro estava marcado para dia 26 de janeiro.

A reunião entrou no radar do mercado justamente devido às críticas de Lula à meta de inflação.

O conselho tem até junho deste ano para definir a meta de inflação para 2026 e fazer alterações às metas estabelecidas para os anos anteriores.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já afirmou que a inflação em 2023 deve fechar novamente acima da meta, pela inflação inercial de 2022 e outros fatores.

“Para 2024, pode ser interessante reajustar a meta de inflação para cima, para trazer um direcionamento mais real para a economia”, aponta Bruno Piacentini.

Repórter
Repórter de renda fixa do Money Times e Editor de agronegócio do Agro Times desde 2019. Antes foi Apurador de notícias e Pauteiro na Rede TV! Formado em Jornalismo pela Universidade Paulista (UNIP) e em English for Journalism pela University of Pennsylvania. Motivado por novos desafios e notícias que gerem valor para todos.
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