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Caso Americanas mostra a fragilidade da fiscalização das empresas; como evitar

26 jan 2023, 11:34 - atualizado em 26 jan 2023, 11:34
Americanas
Caso Americanas representa o lado mais selvagem do capitalismo. Leia a coluna do Beto Assad, analista de ações e consultor no Kinvo. (Imagem: André Torres/Money Times)

Não está fácil investir em renda variável no Brasil. Se já não bastasse uma taxa e juros elevada e todo o estresse político-econômico que tem tirado o investidor do sério, surge o caso Americanas.

Agora um novo escândalo que, mais uma vez, abala a confiança das pessoas nas instituições responsáveis pelo bom funcionamento da bolsa de valores.

Estou falando, claro, da fraude contábil praticada pelas Americanas (AMER3). E de como isso passou batido pelo mercado durante tantos anos.

Não vou entrar nos detalhes da acrobacia contábil feita por gestões anteriores das Americanas que esconderam uma dívida financeira “gigantesca” do mercado. Isso já foi explicado à exaustão por vários especialistas, e você pode conferir aqui mesmo no Money Times.

O que realmente me surpreende é todo este caso ter passado batido por tantas instituições que devem zelar pela segurança do investidor.

Entra neste grupo a B3 (B3SA3), agências de rating, empresas de auditoria e a própria empresa.

Caso Americanas X Capitalismo selvagem

A fraude cometida pelas Lojas Americanas representa o lado mais selvagem do capitalismo, onde se passa por cima da ética a fim de se obter vantagens, mesmo que isso custe o dinheiro de muita gente.

Além dos bancos e fundos de investimento, são muitos os pequenos investidores que perderam grande parte do seu dinheiro com a empresa.

Claro que uma carteira bem diversificada tende a diluir um grande prejuízo causado por um único ativo. Mas como justificar para o investidor, que comprou ações ou até mesmo algum tipo de renda fixa com papéis das Americanas, que a empresa era considerada altamente segura para se investir?

Nesse tipo de caso, por mais que alguma concentração excessiva num único ativo seja altamente desaconselhado, a perda de dinheiro devido à fraude de uma gigante da B3 acaba fugindo à regra.

A bagunça do caso Americanas

E aí aparecem algumas questões que estão sendo feitas desde que toda essa “bagunça” foi revelada:

Será que os órgãos reguladores fazem mesmo uma fiscalização eficiente? Será que o selo de “Novo Mercado”, dado pela B3 para empresas que possuem “o mais elevado padrão de governança corporativa”, serve para alguma coisa? Podemos confiar nas agências de rating? Podemos confiar nas empresas de auditoria?

São inúmeras perguntas que vão ficar na cabeça de muita gente, e por muito tempo.

Isso porque as Lojas Americanas possuem o selo “Novo Mercado”, seus balanços eram auditados por uma conhecida empresa do ramo (e que também está envolvida na confusão da IRB Resseguros) e seus ativos possuíam excelentes classificações das agências de risco.

E eis que em menos de 10 dias, as ações que valiam R$ 12 agora viraram “penny stocks”, aquelas que são negociadas abaixo de R$ 1.

Mas não há nada que esteja ruim que não possa piorar neste caso.

Recuperação Judicial dará conta?

A esperança dos pequenos investidores é de que a recuperação judicial da empresa apresente alguma solução viável para que ela possa sobreviver e, quem sabe um dia, voltar a entregar resultados bons (e realistas).

Alguns bancos estão tentando anular a RJ da empresa, alegando que o fato de o balanço ter sido fraudado não justifica a “chance” dada à empresa. Além do mais, os bancos estão entrando com medidas legais a fim de reter valores das Americanas que estão em suas contas.

Caso isso vá adiante, diminuem consideravelmente as chances de uma recuperação bem sucedida.

No fim do dia, uma possível falência das Americanas vai trazer uma série de problemas que extrapolam o mundo dos investimentos. Seriam milhares de empregos desfeitos, com grande parte provavelmente não arrumando um novo trabalho de um dia para o outro.

Dessa maneira, ficamos na expectativa para que medidas sejam efetivamente implantadas a fim de inibir essas práticas nocivas e ilegais no mercado financeiro. O caso fica claro que as consequências da fraude extrapolam o mundo da B3.

Independente se a empresa vai sobreviver ou não, que o caso sirva de lição para todos os órgãos reguladores envolvidos com a bolsa de valores no Brasil. Caso contrário, continuaremos a ver muitas “Lojas Americanas” nos próximos anos.

E isso é a última coisa que precisamos se realmente queremos ter um mercado financeiro desenvolvido no nosso país.

Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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