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Inovação não é sobre dinheiro

11 set 2024, 11:38 - atualizado em 11 set 2024, 11:38
Criptomoedas
(Imagem: iStock.com/D-Keine)

Quando falamos em inovação, o imaginário coletivo é imediatamente direcionado para a aplicação de novas tecnologias, a criação de produtos revolucionários ou o surgimento de empresas que alteram drasticamente a maneira como vivemos.

Mas, e se olharmos para a inovação sob uma ótica mais profunda, mais filosófica? Será que ela é apenas um conjunto de tecnologias aplicadas, ou pode ser algo mais? Pode a inovação ser, na verdade, uma mudança de mentalidade, uma nova forma de pensar que transcende o mero lucro e abraça um propósito mais elevado?

Do mesmo modo, ao considerar a tokenização (a palavra que mais está na moda no mercado de ativos), é fácil cair na armadilha de pensar que se trata apenas de mais uma maneira de movimentar dinheiro ou de criar ativos financeiros.

No entanto, quando vista em sua essência, ela representa muito mais do que uma ferramenta econômica. Ela é uma manifestação de como a inovação pode ser usada para democratizar o acesso a recursos, permitir a participação em projetos antes inacessíveis e, mais importante, criar um senso de propriedade e responsabilidade compartilhada.

Pensemos, por exemplo, em como a tokenização de ativos pode ser aplicada em projetos de preservação ambiental. Não é só uma questão de transformar florestas, áreas de preservação ou mesmo animais em “ativos digitais” que podem ser comprados e vendidos.

Trata-se de criar um vínculo entre as pessoas e o que é preservado, de modo que cada token represente uma fração de um esforço coletivo para proteger algo maior do que nós mesmos. A inovação, aqui, está em repensar o valor, em perceber que o dinheiro é tão só um meio para alcançar objetivos que não podem ser mensurados unicamente em termos financeiros.

Nos últimos anos, temos visto um movimento crescente de grandes indústrias e empresas multimilionárias direcionando parte de seus recursos para projetos de créditos de carbono. Isso vai muito além de desenvolver ferramentas para medir e compensar emissões de CO2, pois inclui criar um sistema que valorize a preservação da natureza e incentive uma mudança na maneira como vemos a relação entre economia e ecologia.

Um exemplo recente que ilustra bem essa mudança de paradigma é um projeto que vem sendo desenvolvido no Cerrado, em uma área de 1.600 hectares.

O proprietário dessa área, há anos, vinha lutando para preservar uma espécie em extinção, o pato-mergulhão, que conta com apenas 200 exemplares restantes em todo o mundo. Ele financiava essa preservação do próprio bolso, movido por uma paixão genuína pela natureza, e não por um desejo de lucro.

Agora, com a implementação do projeto de tokenização de créditos de carbono, ele poderá continuar e até expandir seu trabalho de preservação, pois os recursos gerados permitirão que ele invista ainda mais no cuidado e na conservação da fauna e flora local.

Este é um exemplo claro de como o dinheiro, quando aplicado com propósito, pode ser uma força poderosa para o bem.

Contudo, essa nova forma de pensar não está isenta de desafios e contradições. Enquanto muitos utilizam os créditos de carbono como uma ferramenta genuína para a preservação ambiental, há aqueles que veem nisso apenas mais uma oportunidade de lucro.

Em um cenário onde o capitalismo verde pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição, a linha entre a verdadeira inovação e o oportunismo financeiro pode ser tênue.

A tokenização, nesse contexto, também pode cair nas mesmas armadilhas. Se utilizada simplesmente como mais uma maneira de acumular riqueza, sem qualquer consideração pelo impacto social ou ambiental, ela perde seu potencial transformador.

Mas, quando feita com a intenção certa, pode ser uma forma poderosa de engajar comunidades, dividir responsabilidades e garantir que os benefícios da preservação sejam compartilhados de maneira equitativa.

É preciso, portanto, haver um equilíbrio. Por um lado, devemos celebrar e incentivar aqueles que utilizam seus recursos para proteger o planeta, para investir em algo que transcende o imediato e o material. Por outro, precisamos ser vigilantes contra aqueles que, sem caráter, se aproveitam dessas iniciativas para lucrar indevidamente, sem qualquer preocupação real com a sustentabilidade ou a preservação ambiental.

Essa reflexão nos leva a uma pergunta essencial: o que realmente queremos quando falamos de inovação? Se for apenas mais uma maneira de gerar riqueza, estamos perdendo uma oportunidade. Se, ao contrário, a vemos como um meio de tornar nosso mundo um lugar mais justo, equilibrado e sustentável, então estamos no caminho certo.

A compra de créditos de carbono, por exemplo, oferece uma oportunidade única para mudar essa mentalidade. Ela permite que proprietários de terra, como aquele no Cerrado, invistam verdadeiramente em suas áreas, indo além da visão financeira, mas com um amor genuíno pelo que possuem — a terra, a ecologia, a fauna e a flora.

A inovação, portanto, deve ser vista não apenas como um conjunto de tecnologias aplicadas, mas como uma nova forma de pensar, uma mudança de consciência.

Uma maneira de dizer “chega” à visão puramente lucrativa e abraçar uma visão onde o dinheiro é uma ferramenta para construir um futuro melhor para todos. Que possamos, então, ser parte dessa transformação, utilizando nossos recursos e nossa capacidade de inovar para criar um mundo mais sustentável, justo e consciente.

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